A Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do FC Porto registou um lucro quase a tocar nos 18 milhões de euros e reverteu o prejuízo a rondar os 40 milhões com que tinha fechado o exercício de há duas épocas. Esta é uma das boas notícias que os azuis e brancos retiraram do Relatório e Contas de 2014/2015, embora nem todos os números poderão fazer os dragões sorrir. Um deles é o facto de, em três meses, o valor dos financiamentos bancários contraídos pelo clube continuarem quase na mesma — decresceram apenas em 1,8 milhões de euros.
Vamos por partes. Primeiro, no documento que o FC Porto enviou na segunda-feira à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), a SAD contabilizava cerca de 146 milhões de euros em empréstimos. Isto a 30 de junho, data em que o clube fechou o exercício fiscal para a época 2014/2015. Tendo em conta os prazos de vencimento dos vários empréstimos bancários e obrigacionistas listados no Relatório e Contas, o clube deveria ter saldado pelo menos um a 30 de setembro. É o caso de um financiamento contraído no Novo Banco, avaliado em 25 milhões de euros, mas a SAD portista optou por renegociá-lo e “estender o vencimento”. Por outras palavras: agora, o FC Porto apenas pagou “um reembolso” de 8 milhões de euros para, depois, só ter de pagar este empréstimo em setembro de 2016.
Os dragões, por isso, têm quase mais 25 milhões de euros de crédito em comparação com o Sporting. O clube de Alvalade regista perto de 120,7 milhões em financiamento exterior, de acordo com as contas que os leões comunicaram, a 8 de setembro, à CMVM (foi o primeiro entre os três grandes a fazê-lo).
Mas este tal empréstimo que a SAD portista obteve no Novo Banco é prova de algo em que os portistas são o único exemplo — jogadores a serem dados como garantias. Tal como em Relatórios e Contas anteriores, o FC Porto tem os direitos económicos de futebolistas como contrapartidas de vários financiamentos que contraiu. Neste caso são três: Hector Herrera, Yacine Brahimi e Helton. Os dois primeiros surgem listados no empréstimo de 25 milhões de euros com o Novo Banco, enquanto o guarda-redes brasileiro serve para um financiamento obtido no Millenium BCP, no valor de 1,250 milhões de euros.
Vendas de jogadores “salva” as contas
Fernando Gomes disse-o no último sábado. O administrador da SAD portista explicou que o clube “seria inviável como empresa” se não fossem “os proveitos resultantes das vendas dos passes”. As palavras do dirigente justificam-se pelo passivo evidenciado no mais recente Relatório e Contas: num ano, o passivo dos dragões aumentou dos 212,4 milhões para os 241,8 milhões de euros. “Verificou-se um crescimento de 29,4 milhões de euros, assente nos valores a pagar aos fornecedores e na dívida financeira”, lê-se no documento.
O problema foi de duas maneiras. Uma foi a obtenção de um novo empréstimo obrigacionista (45 milhões de euros) e a outra foi o lucro com a venda de jogadores. “As mais-valias líquidas obtidas com a venda dos direitos desportivos de jogadores têm vindo a crescer gradualmente ao longo das épocas, tendo, no período em análise, atingido o valor mais elevado de sempre das SAD’s portuguesas – 82,5 milhões de euros, a que correspondeu um valor bruto de vendas de 119,4 milhões de euros”, revela o Relatório e Contas da SAD do FC Porto.
No período em análise estão registadas as mais valias resultantes da venda dos direitos desportivos, no início da época, dos jogadores Eliaquim Mangala e Steven Defour, para o Manchester City e Anderlecht, respectivamente, por 30.504m€ e 6.000m€, e já perto do fecho do exercício, a do Danilo e Jackson Martinez, para o Real Madrid por 31.500m€ e Atletico de Madrid por 35.000m€, respectivamente.
É sobretudo devido a estas vendas, como reconhece o documento, que os resultados operacionais (lucros e despesas diretamente relacionados diretamente com o objetivo dos negócios da SAD) passaram do negativo (-24 milhões em 2014) para o positivo (30,2 milhões em 2015).
* a CMVM ainda não disponibilizou no seu site o Relatório e Contas de 2014/2015 do Benfica.