A manifestação religiosa “Mãe Soberana”, que se realiza anualmente em Loulé, pode vir a ser candidata a Património Cultural Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), disse hoje um especialista da área.

O presidente da Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, Luís Marques, disse à Lusa que esta foi uma das manifestações culturais identificadas como tendo potencial para corporizar uma candidatura à UNESCO, durante os trabalhos das Primeiras Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural e Imaterial do Algarve, realizados no sábado, em Tavira.

“Foi identificada a manifestação de religiosidade popular Mãe Soberana como suscetível de vir a justificar uma candidatura à UNESCO”, afirmou Luís Marques, numa referência ao santuário da Nossa Senhora da Piedade, popularmente designado como “Mãe Soberana”, onde se realiza a maior celebração anual católica a sul de Fátima.

Luís Marques anunciou também que durante os trabalhos ficou decidido que o município de Loulé vai ser o anfitrião das Segundas Jornadas para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial do Algarve, em data ainda a definir.

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O presidente da Associação fez uma súmula das conclusões das Primeiras Jornadas e disse que, entre as propostas aprovadas pelos participantes, está “o reconhecimento do trabalho meritório que, no domínio da salvaguarda deste património, tem vindo a ser realizado por várias Câmaras Municipais”, como a de Tavira, que conduziu o processo de candidatura e classificação da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da humanidade.

Luís Marques alertou, no entanto, para a necessidade de haver “ações concretas para a salvaguarda deste património”, considerando que “não se pode ficar apenas pela parte do inventário” e é preciso tomar “medidas concretas e práticas” para que se evite a perda ou a extinção de práticas culturais únicas.

Luís Marques apontou a área do “artesanato, artes e ofícios”, onde existem profissões “em vias de desaparecer” e se não forem adotadas medidas concretas que permitam “registar, transmitir e salvaguardar esse património cultural imaterial”.

“Neste domínio temos que lançar um alerta para situações graves, como as do mestre João Teodósio, o último abegão, que faz rodas para carroças em Ferreiras, Albufeira, ou de Renato Araújo, mestre escaioleiro, de Olhão”, exemplificou.

Luís Marques advertiu que “estas profissões estão em risco de desaparecer” e o património que elas corporizam está “em vias de extinção”.

“Há sabedoria popular que pode ficar completamente extinta, se ninguém se preocupar em recolher, filmar, registar esse património de forma a ser transmitido. Este património é identitário, faz parte da memória coletiva e, quer as instituições quer as câmaras, não se podem alhear desta realidade”, alertou.

O presidente da Associação Portuguesa para o Salvaguarda do Património Cultural Imaterial do Algarve deu ainda o exemplo da “arte chocalheira” como uma profissão que está a ser alvo de medidas para a sua salvaguarda, ao ser apresentada candidatura para a sua classificação que “pode ser aprovada no final deste ano”.