A 26 de outubro de 1985, Marty McFly (Michael J. Fox) entra no DeLorean de Doc Emmett Brown (Christopher Lloyd), alimentado a latas de cerveja e cascas de banana, para uma viagem no tempo até Hill Valley, Califórnia. Hora de aterragem: 4h29, quarta-feira, 21 de outubro de 2015.
O futuro de Regresso ao Futuro (filme realizado por Robert Zemeckis e produzido por Steven Spielberg) celebra-se hoje, portanto. McFly enfrenta uma pequena cidade onde existem skates e carros voadores, semáforos a grande altitude, máquinas que hidratam pizas, ténis com atacadores automáticos, gravatas duplas, casacos que se ajustam ao corpo num segundo, gasolineiras robot – e por aí fora, entre delírios tecnológicos e previsões muito acertadas.
Há quem prefira ir por outro caminho quando se trata de analisar o calendário temporal assinalado no ecrã do DeLorean, essa máquina voadora. É o caso de Javier Redondo, diretor da revista La Aventura de la Historia, professor de Ciência Política na Universidade Carlos III de Madrid e autor do livro Presidentes de Estados Unidos (La Esfera de los Libros, 2015).
Não, não há coincidências, conclui Redondo nas páginas do jornal El Mundo, a propósito dos dois primeiros filmes de Regresso ao Futuro. “Zemeckis estabelece a duração de um ciclo político com períodos de 30 anos (1955-1985-2015) e o seu guião, por muito ligeiro que nos pareça, respeita essa concepção cíclica, geracional e evolutiva da História.”
Seguindo os factos que sustentam a teoria original deste autor espanhol, começamos em 1955, onde Marty McFly vai parar na sua viagem. O que estava a acontecer nesse ano nos Estados Unidos? Em Montgomery, Alabama, Rosa Parks recusava-se a ceder o seu lugar no autocarro a um branco e dava início aos movimentos contra a discriminação racial. Nas relações EUA-URSS, destacava-se o encontro, nesse mesmo ano, em Génova, entre o norte-americano Dwight Eisenhower, “republicano que combateu os três C, comunismo, corrupção e Coreia”, e o russo Nikita Kruschev.
Saltamos para 1985. O que é que aconteceu aí? Mikhail Gorbachov subiu ao cargo máximo de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). “Começa um novo tempo e a relação entre Ronald Reagan e Gorbachov permite vislumbrar o fim da Guerra Fria”, explica Redondo. “O ‘Império do Mal’ não é o inimigo nº 1 dos Estados Unidos. Zemeckis mostra que é a Líbia”. No filme, de facto, um grupo terrorista líbio tenta usar os conhecimentos de Doc Emmet Brown para construir uma bomba atómica. E na vida real? “Nesse, ano uma sucessão de acontecimentos levaram os norte-americanos a romper toda a relação diplomática com Trípoli. A Rússia já era amiga da Síria em 1985.”
Hoje, 2015, há relações “forçadas, incómodas e necessárias” entre os dois eixos, protagonizados por Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos EUA, e Vladimir Putin, o presidente russo ex-KGB.
E se Marty McFly viajasse agora até 2045, o que veria a acontecer na política internacional? Redondo não responde. E a única pessoa capaz de fazer previsões acertadas seria Robert Zemeckis.