O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) lançou, em Lisboa, uma campanha pública inédita de angariação de fundos para a aquisição da tela “A Adoração dos Magos” do pintor português Domingos António Sequeira (1768-1837).
A obra foi apresentada publicamente esta terça-feira no museu, na Rua das Janelas Verdes, pelo diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, e dos parceiros da iniciativa que visa reunir 600 mil euros para comprar a tela ao proprietário privado.
O diretor do museu disse que até 30 de abril qualquer cidadão pode contribuir para a aquisição da tela considerada “uma obra-prima visionária, que evidencia a capacidade de Domingos Sequeira de fazer a síntese entre o Clássico e o Romântico”.
Pimentel indicou que “A Adoração dos Magos”, pintada em 1828, já tinha sido mostrada ao público no museu, em Lisboa, e “faz parte dos grandes livros da História da Arte portuguesa”.
A tela de grandes dimensões integra a série Palmela – com quatro pinturas religiosas – e o museu possui na sua coleção os desenhos de estudo preparatórios de todas elas, exceto os óleos. De acordo com o Público, o proprietário da obra é um privado, descendente do primeiro duque de Palmela.
“A ideia de lançar esta campanha já era antiga, e agora, que surgiu a oportunidade de adquirir o quadro, resolvemos avançar para mobilizar o público no sentido de adquirir um bem comum: a arte e o património, que ficam guardados para as novas gerações. Se todos os portugueses contribuíssem com apenas seis cêntimos já seria possível”, sublinhou.
De acordo com António Pimentel, mesmo antes do lançamento oficial já foram feitos vários donativos, o primeiro deles proveniente dos Estados Unidos, de um anónimo ligado às artes, que entregou mil euros.
Em Portugal, a iniciativa é inédita, mas habitual em países como os Estados Unidos, a França, ou o Reino Unido, onde a primeira campanha no género foi feita em 1906.
Há dois anos, o Louvre, em Paris, um dos museus mais visitados do mundo, recorreu a uma campanha pública de angariação para financiar a restauração de uma das suas obras mais importantes, a escultura Vitória de Samotrácia, datada de 190 antes de Cristo.
“Nesta altura de dificuldades financeiras que todos conhecemos, este tornou-se um mecanismo internacional bastante usado pelos museus. Em Portugal será a primeira vez”, salientou o responsável, em declarações à agência Lusa.
O MNAA tem no seu acervo cerca de 30 obras em pintura e desenho de Domingos Sequeira, cujo trabalho realizado nas primeiras décadas do século XIX se encontrava no “umbral da modernidade”, entre o Classicismo e o Romantismo, de um modo similar a Francisco de Goya, seu contemporâneo na cultura espanhola.
Devido ao seu talento, Domingos Sequeira conseguiu proteção aristocrática e uma bolsa para aperfeiçoar-se em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou prémios académicos.