José Sócrates, numa sessão pública em Vila Real, disse que ao fim de um ano de ter sido preso preventivamente talvez já nem valha a pena lhe fazerem uma acusação porque “o mal está feito, o PS já perdeu as eleições”. O ex-primeiro-ministro criticou ainda que lhe tenha sido feito um julgamento nos órgãos de comunicação social, numa espécie de campanha contra ele.

“Há um ano disseram que tinham provas e um ano depois ainda não as apresentaram”, disse José Sócrates perante o auditório que o aplaudia e gritava o seu nome. “O que tenho para dizer é que não as apresentam porque não as têm, nem nunca as tiveram. Não há provas daquilo que nunca aconteceu.”

Sem acusação ao fim de um ano, o antigo líder do Partido Socialista diz que assim nem sabe do que se há de defender, do que está a ser acusado ou sequer se vai chegar a ser acusado de alguma coisa. “Porque verdadeiramente o que parece é que já nem é preciso fazer uma acusação porque o mal está feito, o PS já perdeu as eleições”, criticou Sócrates. E acrescenta que talvez “já nem seja preciso julgamento porque esse foi feito nos jornais” e “já não são precisas provas porque se esteve preso é porque fez alguma coisa”.

Um Governo de esquerda que recupere a igualdade

O ex-primeiro-ministro não quis deixar de fazer esta adenda à sessão pública de Vila Velha de Ródão, de há quinze dias, mas os principais focos desta sessão, em que participou a convite do presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Rui Santos, foram o novo Governo de esquerda que se está a formar em Portugal e o projeto europeu que está cada vez mais longe da esquerda.

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“Num momento em que se anuncia um novo Governo em Portugal, um novo Governo de esquerda, o que eu desejo a este Governo é que restaure não apenas uma visão mais esquerda na Europa, mas que restaure em Portugal um discurso sobre a Europa um pouco mais centrado na igualdade”, disse José Sócrates.

O antigo líder do PS mostrou depositar muitas esperanças no Governo de esquerda que se desenha pelo acordo entre socialistas, bloquistas e comunistas. Sócrates deseja “boa sorte na governação” deste que “não é apenas mais um governo é um novo governo”, é um novo começo, “uma nova visão de futuro para melhorar a situação do nosso país” e “acabar com o tempo em que o Governo dizia apenas aquilo que não se podia fazer” para passar a dizer aquilo que os portugueses podem fazer.

Este novo Governo terá, segundo Sócrates, a missão de lembrar à Europa que “precisa de um pouco mais de esquerda”, porque a “igualdade tem de fazer parte do discurso europeu”. “A Europa precisa de sangue novo”, afirmou o ex-primeiro-ministro. “O que tenho visto nos últimos anos é uma liderança impositiva e não inclusiva”, em vez de ter os Estados-membros a trabalhar uns com os outros, têm-nos uns contra os outros ou uns sem os outros.