Stéphane T. é um dos sobreviventes do ataque ao Bataclan. Ao El País, o informático de 49 anos contou como fez de escudo humano dos terroristas durante duas horas e meia. “Nunca pensei que pudesse sair de lá vivo”, disse. Na sexta-feira, 13 de novembro, três terroristas do Estado Islâmico entraram na icónica sala de espetáculos parisiense e mataram 89 pessoas. Queriam “vingar” a Síria, disseram.

Estavam perto de 1.500 pessoas a assistir ao concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal, quando os terroristas entraram na sala de espetáculos e começaram a disparar sobre o público. Tinham chegado ao Bataclan num Volkswagen. Stéphane estava sentado no balcão do primeiro andar e assistiu a tudo. Conta que pensou fugir pelas escadas, mas achou mais seguro ficar no camarote. Até que os terroristas subiram até ao sítio onde se encontrava. 

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“Éramos quatro ou cinco pessoas e os terroristas dirigiram-se a nós com Kalashnikov. Disseram que não nos iam matar”, conta. Depois, afirmaram: “Somos o Estado Islâmico. Estamos aqui para vingar as nossas mulheres e os nossos filhos na Síria, que recebem as bombas lançadas pelo vosso presidente. Agora vão viver a angústia que vivemos diariamente”. 

Entretanto, ouviram a polícia abater o terrorista no andar de baixo. Os dois terroristas que estavam no camarote de Stéphane levaram os reféns para uma sala à esquerda e encostaram alguns à porta, para que dissessem o que ouviam. 

“Dizíamos que estávamos a ouvir gemidos de feridos que pediam ajuda. Achavam graça e respondiam que estavam a sofrer tanto como as suas mulheres e filhos na Síria”, lembra Stéphane. Depois, colocaram alguns reféns virados para as janelas, incluindo Stéphane, para avisarem quando chegasse a Polícia.

O informático passou duas horas e meia nessa janela. Conta ao El País, pelo telefone, que os terroristas “estavam muito exaltados”, que “não tinham medo de morrer e que pareciam satisfeitos com o que tinham feito”. Diz que tem a impressão de que apenas a primeira parte do atentado foi planeada. O que aconteceu depois foi improvisado. 

Os agentes da brigada de intervenção pediram-lhes um número de telefone para negociarem a libertação dos reféns, antes de entrarem na sala e começarem o assalto. “Nas poucas conversas que tiveram com os negociadores repetiam apenas que tinham reféns e explosivos. E que matavam toda a gente”, conta. Depois, entraram. 

Stéphane conta que ouviu um tiro antes de as luzes se apagarem. Os reféns começaram a gritar – pediam aos polícias para não dispararem – e os terroristas correram para o lado oposto, levando os reféns. Até que os agentes entraram e lançaram as primeiras granadas.

“Enrolei-me no chão. A terceira granada caiu ao pé de mim e, entre o fumo, vi um dos terroristas a cerca de 80 centímetros do sítio onde estava, com uma Kalashnikov na mão a disparar sobre a polícia, e o detonador do cinto suicida na outra. Não sei porque é que não detonou os explosivos naquele momento. É um mistério”, contou Stéphane. 

Os terroristas começaram a fugir pelas escadas, perseguidos pelos agentes, e os reféns pela porta que dava para a sala. “Foi nessa altura que os agentes arrancaram os botões da minha camisa para verificar que não tinha explosivos comigo”, recorda. Até que saíram. Diz que quanto mais conta esta história, mais lhe parece que se trata de outra pessoa. “É como se estivesse a falar de um filme com o Bruce Willis”, diz. Não era.