Não cheira a brisa do mar nem a lavanda, mas vem numa embalagem igual à dos limpa-vidros ou dos detergentes em spray. O novo Moschino Fresh é a borrifadela que faltava para confirmar Jeremy Scott como o Marcel Duchamp da moda, um homem que pega em objetos que não têm qualquer valor ou fazem parte do quotidiano e os transforma em peças de alta costura.
Afinal, antes de transformar as perfumarias numa espécie de corredor dos detergentes do hipermercado, aquele que é tido como o designer mais irreverente da atualidade estreou-se à frente da Moschino, em 2013, com um desfile onde as embalagens de batatas fritas da McDonalds foram transformadas em carteiras e capas de telemóvel, e as fardas deram lugar a vestidos. Houve funcionários da cadeia de fast food que se sentiram ofendidos, mas a verdade é que a coleção esgotou e caiu nas boas graças do exército de celebridades fiel ao diretor criativo e onde se contam, na linha da frente, nomes como Katy Perry e Miley Cyrus.
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Juntar o vulgar e o extraordinário, o barato e o luxuoso, parece ser a equação perfeita para Scott, que no desfile de primavera verão 2016 — em que o convite era acompanhado por um capacete amarelo e a passerelle foi transformada num estaleiro de obras — fez as modelos desfilarem com uma embalagem igual à do perfume / limpa-vidros em tamanho XL, para além de desenhar mochilas retangulares iguais às das embalagens dos detergentes para lavar a roupa.
“O conceito desta fragrância foi justapor o objeto mais mundano e comum do mundo, o detergente doméstico, com algo tão precioso — o perfume de uma marca de luxo. Pegar na iconografia de uma embalagem que não tem qualquer valor aspiracional e usá-la como inspiração para um frasco que contém algo tão luxuoso e de alta costura provoca uma enorme dicotomia, e o que poderia ser mais Moschino do que isso?”, lê-se nas declarações oficiais da marca.
Com três tamanhos e preços — 39,90€ (30 ml), 59,90€ (50 ml) e 79,90€ (100 ml) –, Moschino Fresh segue-se ao perfume em forma de ursinho de peluche (This is not a Moschino Toy) e para já está apenas disponível nas perfumarias portuguesas, em Itália e no Harrods, em Londres, chegando em 2016 ao resto do mundo. Não cheira a detergente mas é de facto fresco, como promete o nome. Com notas que incluem bergamota, tangerina, framboesa, peónia branca e madeiras brancas, é um perfume floral e feminino ironicamente escondido numa embalagem branca clássica que só desilude numa coisa: a tampa não funciona como spray e é preciso levantá-la para encontrar um tradicional — e o que poderia ser menos Moschino do que isso? — borrifador.