Prosseguir com a recuperação económica, apostar na inovação, reduzir a precariedade no emprego e apostar numa ação global das instituições para alavancar a área económica. Quando o assunto é o foco que o país deveria ter no próximo ano, a prioridade deve ser esta: o mercado de trabalho. Pelo menos, para João Noronha Lopes, Ana Miranda e Pedro Coelho, três dos conselheiros da diáspora portuguesa que participam no encontro anual desta terça-feira, no Palácio da Cidadela em Cascais.
O Conselho da Diáspora Portuguesa foi fundado em dezembro de 2012, para estreitar as relações entre Portugal e a rede mundial de portugueses espalhados pelo mundo com posições relevantes em organizações empresariais, na cultura, ciência e participação política. Conta com 84 membros, presentes em 22 países, e a sua missão é promover a imagem de Portugal e trazer ideias que contribuam para o desenvolvimento do país.
João Noronha Lopes é responsável pelo franchising da McDonald’s nos Estados Unidos. Ao Observador, disse que em 2016 é “fundamental apostar na inovação e no empreendedorismo”, porque “só uma cultura de inovação que promova o empreendedorismo permitirá modernizar a economia e o país”.
Não se trata de inovação apenas no sentido “tecnológico” mas antes de um estado de espírito diferenciador ligado ao sentido empreendedor dos portugueses: da gestão à sustentabilidade, das artes à ciência, das empresas às escolas. A inovação deve ser uma das ideias mobilizadoras de um país que tem espírito de iniciativa, que não tem medo de arriscar e que respondeu com capacidade de resistência e perseverança às dificuldades”, afirmou João Noronha Lopes.
Ana Miranda, fundadora e diretora do nova-iorquino Arte Institute, acrescenta que é preciso definir uma estratégia para “implementar uma ação global”, que inclua diversas instituições e representações portuguesas, para fortalecer a marca Portugal. Objetivo: “alavancar a área económica e a imagem inovadora e justa do país que temos”, explicou.
Para Pedro Coelho, presidente executivo do Banco BNI Europa, a prioridade dos portugueses em 2016 devia passar por “flexibilizar a contratação e despedimento de trabalhadores – para aumentar a mobilidade – e reduzir o emprego precário e o desemprego”.
As grandes conquistas de Portugal em 2015
A saída de Portugal do programa de assistência financeira. Para João Noronha Lopes, foi essa a grande conquista de Portugal em 2015.
Foram quatro anos difíceis, com enormes sacrifícios que puseram à prova a determinação e a resiliência dos portugueses. Mas estes responderam à altura e a nossa credibilidade internacional saiu reforçada”, afirmou.
O responsável pelo departamento de franchising da McDonald’s acrescenta ainda o “crescente reconhecimento internacional das capacidades profissionais dos portugueses” – dos que estão no país e o tornam atrativo para investimento estrangeiro e dos que estão no estrangeiro e assumem cargos com maior preponderância em várias áreas de atividade.
As exportações também foram uma das conquistas assinaladas por Pedro Coelho, a par do aumento do turismo, do aparecimento de novas startups e do reforçar do ecossistema de empreendedorismo.
Para Ana Miranda, o enfoque esteve, sobretudo, na cultura, com a presença internacional dos artistas portugueses contemporâneos a aumentar no último ano, bem como o reconhecimento das pesquisas e descobertas dos investidores portugueses.
Foi um excelente ano para Portugal, em termos de aumento de investimento, crescimento do Turismo e todos os prémios que Portugal ganhou nesta área – e que reforçam a marca Portugal como uma marca líder e de qualidade”, explica Ana Miranda.
Os grandes desafios para Portugal em 2016
Para Ana Miranda, é preciso “sair da dimensão geográfica” e aceitar que o potencial de Portugal é “muito maior do que o tamanho do país. “[Temos] de passar a imagem do Portugal que verdadeiramente somos: criativo, inovador e engenhoso”, referiu. O segundo desafio destacado pela fundadora do Arte Institute passa pela extensão da plataforma continental e pelo regresso ao mar.
Será muito importante que o país consiga ‘volta ao mar’, [numa estratégia] assente no progresso tecnológico e no conhecimento”, referiu Ana Miranda, acrescentando que também é preciso maximizar o potencial económico da língua portuguesa.
João Noronha Lopes destaca a necessidade de consolidar a recuperação económica. Como? Intensificando as exportações, potenciando o reconhecimento de Portugal como destino turístico de excelência e apostando no empreendedorismo como motor da economia.
“[É preciso] continuar o trabalho já feito em vários setores, onde nos afirmamos globalmente através da qualidade, do design e do valor acrescentado”, disse o responsável da McDonald’s, acrescentando que com a mudança da Web Summit para Lisboa, Portugal terá uma oportunidade para mostrar que “pode ser um hub mundial de startups”.
Já Pedro Coelho acrescentou que “a capacidade de fazer uma transição política sem ónus para o país” vai ser um desafio. Bem como melhorar as condições para atrair investimento estrangeiro e melhorar o sistema de educação.
Esta terça-feira, os 50 conselheiros da diáspora vão debater dois temas no decorrer do terceiro encontro anual. O primeiro centra-se na empregabilidade das novas gerações e no facto de as instituições do ensino superior estarem (ou não) a responder adequadamente às necessidades do mercado. O segundo passa pela inovação na indústria do audiovisual.