Os trabalhadores da Soares da Costa devem receber ainda esta semana o salário de novembro e parte do subsídio de Natal, disse o coordenador da Comissão de Trabalhadores daquela construtora, José Martins, à agência Lusa.

“Viemos hoje da reunião com a administração da Soares da Costa e disseram-nos que estão a ser feitos esforços para pagar ainda esta semana o salário de novembro e parte do subsídio de Natal”, disse José Martins à Lusa.

Na última quinta-feira, 17 de dezembro, os trabalhadores da construtora iniciaram uma paralisação para reivindicar o pagamento de salários em atraso e apelar à reversão do processo de despedimento coletivo de cerca de 500 funcionários, anunciado na quarta-feira, dia 16.

Questionado pela Lusa sobre este processo, José Martins afirmou que “o despedimento coletivo ainda não foi formalizado” e, por essa razão, a Comissão de Trabalhadores “não vai emitir nenhum parecer”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A 16 de dezembro, num documento a que a Lusa teve acesso, assinado pelo presidente executivo da Soares da Costa, Joaquim Fitas, são referidas as “repercussões nefastas” para a empresa da crise e “estagnação do mercado de construção” em Portugal e em Angola, seu principal mercado, da quebra de receitas “relacionadas com a produção petrolífera”, o que fez cair o investimento público e privado, para considerar que perante esta conjuntura é “inevitável o redimensionamento e reestruturação da empresa”.

“Temos consciência que a crise atinge todo o setor [da construção], mas não podemos ser nós [trabalhadores] a encontrar soluções”, adiantou José Martins, referindo que foi informado pela administração da Soares da Costa que até ao momento aquela construtora não foi contactada pelo Governo.

No dia seguinte, a 17 de dezembro, o presidente executivo da Soares da Costa, Joaquim Fitas, disse à Lusa hoje que o que a construtora está a fazer com o despedimento coletivo em curso é preservar mais de 80% dos postos de trabalho.

“Não estou a despedir aproximadamente 20% (um pouco menos), estou a fazer tudo para preservar mais de 80% dos postos de trabalho da Soares da Costa, esta é que é a perspetiva”, disse Joaquim Fitas.

O presidente executivo adiantou que este ajustamento “é suficiente para salvaguardar o grupo e o equilíbrio das contas”, afirmando que o despedimento coletivo “não é uma decisão fácil”, mas também que não existe alternativa, já que a construtora acumulava prejuízos anuais superiores a 60 milhões de euros, o volume de negócios caía cerca de 30%, além dos cerca de 300 trabalhadores que estão em casa em inatividade.

“Não é uma decisão fácil, nem para quem a toma nem para o conjunto de pessoas que acabam por decidir que a estratégia tem de ser esta, até porque quando se diminui o número de postos de trabalho diminui-se também a capacidade de uma empresa gerar valor para os acionistas”, sustentou, acrescentando que os 500 “é o valor máximo estimado” e que a empresa fará “os possíveis para que o se o número puder ser inferior assim venha a acontecer”.

O processo de despedimento coletivo deverá ficar concluído no final do primeiro trimestre de 2016 e já teve início com o pedido de parecer e depois a apresentação do desenho final.

Também a 17 de dezembro, Vieira da Silva, ministro da Solidariedade e Segurança Social, assinalou que o Governo vai acompanhar a situação e tudo fará para mitigar o impacto da mesma, mas que não foi um dos temas abordados durante o Conselho de Ministros na manhã daquela quinta-feira.

A empresa de construção civil tem acumulado prejuízos anuais superiores a 60 milhões de euros e é controlada em 66,7% pela GAM Holdings, detida pelo empresário angolano António Mosquito, que entrou no capital da construtora no final de 2013, sendo os restantes 33,3% da SDC — Investimentos (ex-Grupo Soares da Costa).