“45 Anos”
Kate Mercer (Charlotte Rampling) e o seu marido Geoff (Tom Courtenay) vivem reformados num chalé nos arredores de uma cidade do interior de Inglaterra. Preparam-se para comemorar com uma grande festa os seus 45 anos de casados quando Geoff recebe uma notícia insólita. O corpo do seu primeiro grande amor foi encontrado, preservado pelo frio, na fenda do glaciar da Suíça onde tinha caído e morrido várias décadas antes. A notícia vem perturbar o dia-a-dia do casal e os preparativos da festa, e funcionar como revelador das fragilidades da relação aparentemente estável, plácida, rotineira dos Mercer, expondo inseguranças, dúvidas, frustrações e ressentimentos. Realizado por Andrew Haigh todo em subtileza elíptica, contenção emocional e angústia reprimida, “45 Anos” é uma assombrosa masterclass de representação de Rampling e Courtenay, tendo vindo a valer-lhes uma sucessão de prémios desde o Festival de Berlim, onde a fita esteve em competição e ganharam o Urso de Prata de Melhor Actriz e Actor.
“A Rapariga Dinamarquesa”
Tom Hooper (“O Discurso do Rei”), realiza esta história ficcional vagamente inspirada na vida do pintor dinamarquês Einar Wegener, que nos anos 20 mudou de sexo e passou a chamar-se Lili Elbe, tendo provavelmente sido uma das primeiras pessoas, senão mesmo a primeira, a submeter-se a uma operação deste tipo. O argumento de Lucinda Coxon, baseado no romance de David Ebershoff, altera e embeleza a história real de Einar/Lili (Eddie Redmayne) e da sua mulher e também artista Gerda (Alicia Vikander) para a tornar mais convencional e digerível a um público pouco ou nada interessado neste tipo de temas, enquanto Hooper assegura que, para onde quer que se olhe, tudo seja bonito e de bom gosto e não haja nada sórdido ou chocante, e ultrapassa os limites do verosímil ao mostrar que toda a gente (com excepção dos malvados médicos) não só encara com naturalidade a sua decisão de mudar de sexo, como a tolera e apoia (isto num país severamente luterano da Europa do Norte, no princípio do século passado). A interpretação de Eddie Redmayne é um festival de trejeitos afectados, carinhas e poses preciosas, rimando com a realização lânguida e alambicada de Hooper. Só Alicia Vikander se safa nesta pastelada pretensiosa e politicamente correcta.
“Diário de uma Criada de Quarto”
Depois de Jean Renoir e de Luis Buñuel (existe também uma versão muda feita na Rússia em 1916), é agora Benoît Jacquot que leva ao cinema o romance escrito por Octave Mirabeau em 1900, que foi um “succès de scandale” na altura. Célestine, uma bela e ambiciosa rapariga, vem da província para Paris, para servir como criada de quarto na casa da burguesa família Lanlaire. A jovem tem de esquivar os avanços do patrão e sofrer a dureza autoritária da patroa, encontrando um aliado em Joseph, o jardineiro. O realizador de “Sade” e “Adeus, Minha Rainha” queria que fosse Marion Cotillard a interpretar Célestine, mas o papel acabou por ir para Léa Seydoux, que vimos recentemente ao lado do James Bond de Daniel Craig em “007 Spectre”. “Diário de uma Criada de Quarto” competiu no Festival de Berlim, e o elenco é completado por Vincent Lindon na figura de Joseph, e por Clotilde Molet e Hervé Pierre no casal de patrões.
“Creed: O Legado de Rocky”
Iniciada em 1976 com o filme homónimo de John G. Avildsen que revelou e oscarizou Sylvester Stalllone, a saga “Rocky” está quase a fazer 40 anos e chega ao sétimo filme. Rocky Balboa (Stallone) dedica-se agora apenas ao seu restaurante italiano em Filadélfia, mas é surpreendido pela chegada à cidade do jovem Adonis Johnson (Michael B. Jordan) . Este revela-lhe ser o filho ilegítimo do seu falecido rival e amigo Apollo Creed, e pede-lhe para ser o seu treinador, já que quer fazer carreira no boxe tal como o pai. Realizado e co-escrito por Ryan Coogler, autor do sucesso “indie” “Fruitvale Station: A Última Paragem”, “Creed: O Legado de Rocky” foi escolhido como a estreia da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.