É uma máxima desportiva que tem barbas. É assim, mais coisa menos coisa: “Os ataques vencem os jogos e as defesas campeonatos.” Não, não foi Platão ou sequer Friedrich Nietzsche quem o disse – não se sabe se o alemão gostava de futebol e o grego não é do tempo da redondinha a rolar.
A frase nem é propriamente sobre futebol, mas basquetebol. Foi o treinador Phil Jackson – que quase não tem dedos onde pôr tantos anéis da NBA que venceu no banco dos Chicago Bulls e dos LA Lakers — quem o disse. Mas é uma máxima que, não sendo universal, se aplicará na perfeição ao desporto-rei. E ao andebol, râguebi, polo aquático e tantos desportos de equipa mais.
Só não se aplica ao jogo desta noite, o “clássico” de Alvalade entre o Sporting e o FC Porto. Sim, o fim do campeonato vai longe, só termina em meados de maio, mas também se decidiu aqui, esta noite. Não definitivamente, afinal o Sporting só tem dois pontos de vantagem sobre os azuis-e-brancos e quatro sobre o Benfica, mas decidiu-se em parte. É melhor vencer um rival (e o Sporting já derrotou os dois, Benfica fora e FC Porto em casa) direto do que perder com ele. Mas não foi o ataque, com Slimani de pé-quente, que decidiu ou decidirá este campeonato. Nem foi a defesa, com Naldo irrepreensível e Jefferson acutilante a decidi-lo. Foi no meio-campo que o Sporting venceu o jogo. E foi aí, precisamente, que o FC Porto o perdeu.
William tinha os pés para a cova. Salvo seja. Jesus fez bluff, como é habitual fazer uso destas artimanhas nos clássicos e dérbis, e William não só foi titular, como engoliu autenticamente o meio-campo do FC Porto. Por ali não passava nada. João Mário, esse, num tridente com William e Adrien, foi omnipresente: ora no meio, ora na esquerda e na direita, fez sempre o passe na hora certa, chegou sempre a horas para receber outro, rematou, impediu que se rematasse. Tudo.
Mas falta falar-lhe do melhor em campo esta noite: Adrien de nome próprio, Silva de apelido. Na camisola o “23” decalcado, no braço esquerdo a braçadeira negra e com o símbolo do leão gravado. Porquê o melhor? Porque fez o que um e outro, William e João Mário, fizeram: defendeu com autoridade e atacou com brilhantismo. E ainda atirou ao poste, aos 70′.
O Sporting venceu aqui. O FC Porto perdeu aqui. Tinha três homens como o Sporting tinha, Herrera mais adiantado, Danilo Pereira e Rúben Neves lado a lado no meio-campo defensivo. Às vezes até eram mais quatro do que três, com Brahimi a vir procurar jogo ao meio. Mas se Herrera foi uma nulidade e mal se viu, Danilo e Rúben chocavam (às vezes literalmente) nos poucos metros que ocupavam de terreno.
O FC Porto, acabrunhado, mal saía a atacar. E quando saía, saía mal. Faltava um André André – que regressou à competição, e a titular, contra o Marítimo na Taça da Liga, mas que hoje foi suplente. E André lá entrou, aos 54′, com o FC Porto já a perder – após um livre com as medidas certas de Jefferson, Slimani, nas alturas e de cabeça, fez o 1-0 aos 27′.
Mas o baixinho, de careca reluzindo e com um nome que é quase um pleonasmo em si mesmo, não mudou nada. André não é Messi, não dribla com a bolada coladinha à canhota – ele nem canhoto é –, não tira coelhos da cartola, que é como quem diz, desbloqueia os jogos em jogos em que quem veste a camisola que ele veste está bloqueado. André não é esse jogador. Mas é um faz-tudo – e faz quase tudo bem. O FC Porto precisava de quem não só travasse os ímpetos de Adrien e João Mário, como quem não fosse travado nos ímpetos por William. André tentou. Mas remou só. Se tivesse entrado mais cedo. Quem sabe de inicio. Se, se e tantos “ses” mais. Sliamni, quem mais?, não foi de “ses”, foi de ce… rtezas, e depois de acertar na barra aos 64′, arrumou com o jogo aos 85′.
É excessivo dizer-se que Lopetegui teve temor de Jesus. Ele não terá usado André André porque este estava frágil fisicamente. E usou um duplo-pivot no meio-campo defensivo porque pensou que Danilo desse conta do recado e Rúben fosse um construtor que não foi. Mas que falta faz ao FC Porto, sobretudo contra equipas mais do seu gabarito, um “10”, um médio mais criativo que crie, nem de propósito, jogo, que o faça chegar à frente. Hoje, o que chegou, Aboubakar desperdiçou ou Patrício defendeu. E há um tal de Juan Fernando Quintero, de quem se disse que era um James Rodríguez de palmo e meio, a fazer tudo isso em França, no Rennes. E emprestado pelo FC Porto.