Para o novo ano, o Teatro Municipal do Porto (TMP) tem duas resoluções essenciais a cumprir: maior orçamento, mas um ritmo ligeiramente menos frenético de produção e programação. Para além dos espetáculos que o Rivoli e o Teatro do Campo Alegre vão acolher, entre os quais 41 em estreia, o diretor Tiago Guedes destacou a criação do festival Dias da Dança.

“Houve uma reorganização para um ritmo ligeiramente menor em comparação com 2015”, o primeiro ano de programação completa desde que o Teatro Municipal do Porto foi criado por Rui Moreira. A oferta quer-se igualmente plural, mas o objetivo passa agora por investir mais em coproduções, “criando coisas mais robustas”, explicou Tiago Guedes aos jornalistas, esta quinta-feira, no Rivoli. E há cerca de 900 mil euros para o fazer.

Rui Moreira, que após a morte inesperada de Paulo Cunha e Silva assumiu também a vereação da Cultura, anunciou que, entre janeiro e julho, há 77 espetáculos programados, mais de metade em estreia nacional ou absoluta. 15 deles são internacionais e 13 foram criados por artistas do Porto. Com o Teatro Nacional de São João focado no teatro, o TMP quer focar-se na dança e é ela que vai estar no centro das atenções.

teatro municipal do porto tiago guedes foto filipa brito

Rui Moreira e Tiago Guedes apresentaram a programação. ©Filipa Brito / CMP

O ponto alto será a primeira edição do Festival DDD – Dias Da Dança, entre 27 de abril e 8 de maio. “Não existe nenhum grande festival de dança na cidade”, lembrou Tiago Guedes. O projeto foi imaginado por Paulo Cunha e Silva com outro objetivo em mente: fortalecer a frente atlântica e pôr em contacto os concelhos do Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia. Os espetáculos vão espalhar-se pelas três cidades, de modo a “promover a deambulação dos públicos”. Outro dos objetivos é atrair programadores internacionais para que vejam coreografias locais. “Eles sentem que o seu trabalho tem pouca visibilidade, até porque a maioria dos programadores estão em Lisboa e não se deslocam tanto para vê-los”, disse o diretor do TMP. Muitos dos artistas vão dar masterclasses ao público, mas a programação só será desvendada no futuro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Continuando com as boas notícias da dança, a Companhia Nacional de Bailado (CNB) vai fazer uma estreia no Porto, algo que já não acontecia há 18 anos. “Programa Reportório” lembra alguns dos mais relevantes coreógrafos da História, como Balanchine (“Serenade”), William Forsythe (“Herman Schmerman”), Anne Teresa e Keersmaeker (“Grosse Fuge”) e Hans Van Mannen (“5 Tangos”). Para ver nos dias 29 e 30 de janeiro, no Grande Auditório do Rivoli. Para da 31 está reservado um momento que combina a dança de Miguel Ramalho (num solo criado pelo coreógrafo congolês Faustin Linyekula) e o documentário de Cláudia Varejão, que ao longo de 12 meses acompanhou a CNB.

O primeiro momento de teatro acontece no fim de semana de 15 e 16 de janeiro com “O grande livro dos pequenos detalhes“. Dias depois, a 23 de janeiro, comemora-se o 84.º aniversário do Rivoli. “Queremos que seja uma festa que dê visibilidade a todas as áreas do teatro”, disse Tiago Guedes. Por isso, entre as 11h00 e as cinco da manhã, haverá dança, teatro, cinema, literatura, fotografia e música de Portugal, Marrocos e Croácia.

grande livro dos pequenos detalhes

“O Grande Livro dos Pequenos Detalhes” conta duas histórias em paralelo e é fruto de uma colaboração entre Portugal e o Brasil. ©Divulgação

Na música, destaque para a criação do “Porto Best Of“. Criado por Miguel Guedes dos Blind Zero e por Paulo Cunha e Silva, a ideia é juntar numa noite uma nova banda da cidade, à qual se segue uma banda emblemática que irá tocar um álbum icónico da sua discografia. O primeiro momento acontece a 9 de março com os Lobos, seguidos dos GNR, que levam ao Rivoli o álbum de 1986 Psicopátria. A curadoria é de Miguel Guedes. É dele a responsabilidade de combinar bandas que se entreliguem. Da colaboração com a Matéria Prima e a Lovers & Lollypops também vão sair concertos, sendo que o primeiro acontece a 13 de fevereiro com Jibóia.

Ritmo de programação e orçamento é “sustentável”

Rui Moreira defendeu que o projeto é “sustentável” e baseia-se em números: 80% de taxa média de ocupação do Rivoli e do Teatro do Campo Alegre em 2015, num total de “mais de 130 mil espectadores”, disse. Por acreditar nessa sustentabilidade, aumentou o orçamento em “7 ou 8%”, estimou. “Quando nos candidatámos dissemos que a cultura era um dos três pilares da nossa estratégia para a cidade. Continuamos a acreditar que a Cultura deve ser beneficiada em tempos de crise e de incerteza“.

Apesar do aumento, o presidente da CMP lembrou que a cidade não tem orçamentos equiparáveis a outras cidades europeias, nem sequer à capital portuguesa. “O orçamento municipal é um quarto do de Lisboa“, revelou. O desafio é então apostar em projetos “mais experimentais” e fazer da cidade “não apenas um palco”. “Somos mais do que isso, temos conseguido convocar a cidade a estar no palco e a fazer o palco.”

Fica a faltar cumprir outro dos grandes objetivos, o de tornar o Rivoli e o Campo Alegre em “teatros de nível internacional”, disse o presidente, embora reconhecendo que “ainda há muito a fazer” para atrair os turistas estrangeiros aos teatros. A aposta na dança é um caminho, já que a sua linguagem é universal, e já houve algumas peças legendadas, mas o presidente lamenta não ter encontrado “eco nesta matéria” nas regiões limítrofes. Mantém-se, portanto, o desafio de criar roteiros e performances que atraiam os muitos visitantes estrangeiros que já conhecem os símbolos do Porto mas que podem voltar enquanto público de cultura, como acontece em outras cidades.

Na sequência da morte súbita de Paulo Cunha e Silva, Rui Moreira assumiu em novembro a Cultura do município. “Tivemos de garantir que no próprio dia as coisas continuassem. Temos feito das tripas coração mas do que temos a certeza é de que a cidade não nos deixará parar”, recordou. Houve “fragilidades”, já que a equipa estava preparada para aquele vereador, pelo que “tinha de ser o presidente da câmara, que idealizou o projeto, a assumir o cargo”. Uma “inevitabilidade” que se deve ao facto de a Cultura ter sido uma “prioridade” da candidatura independente de Rui Moreira, em 2013.