Já ficou vidrado nuns lindos sapatos? É normal, “nós colamos o olhar àquilo que nos interessa”, escreve Rosemarie Garland-Thomson, professora da Universidade de Emory, no seu livro Staring: How we look. Mas também já fitou longamente uns sapatos horríveis? É normal: o tempo do olhar fixo é aquele que demora o cérebro a assimilar a informação, quando vê aquilo de que não está à espera. E se quer acompanhar a tendência dos sapatos feios — ugly shoes trend –, prepare-se para passar muito tempo a olhar para eles, até que se tornem normais para a sua retina.
Quem não ousa umas Birkenstock não sabe o que é o normcore e pode bem desistir das golas altas. A moda destas sandálias de ar e conforto ortopédico regressou em força no verão passado, quando se voltavam a afirmar as plataformas e as solas de ar bruto.
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Terá provavelmente sido a casa Céline, com a direção criativa de Phoebe Philo, que lançou para a ribalta estas sandálias feias, quando em 2012 as pôs nas passerelles com a palmilha forrada de pelo. Passados quatro anos e estes chinelos estão nos pés até mesmo de quem se atreveu a dizer nunca. Não fazem desfilar, fazem andar, e não há razão nenhuma para ter dúvidas: o que a designer britânica pôs nas semanas da moda este ano deve estar a chegar às ruas não tarda. Reconhece o nome babouche?
Na coleção Resort de 2016, Phoebe Philo mostra estes sapatos rasos, abertos atrás e muitíssimo pontiagudos. Não é o pontiagudo expectável. O cérebro demora a acomodar-se a este pontiagudo que faz lembrar os filmes do Aladino. Só falta curvarem para cima e para dentro.
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As babouche têm raízes árabes, mas a partir de agora estão ocidentalizadas: aparecem simples, todas pretas ou todas brancas, ora em pele, ora em verniz, nas pré-colecções de outono/inverno 2016 de Victoria Beckham, Narciso Rodriguez, Paco Rabanne ou Opening Ceremony.
Nicole Phelps, editora da Vogue Runway, também não acreditou no que via à primeira: “Ainda são mais estranhos do que os saltos-altos-luva da Philo, mas é previsível que se tornem igualmente um must have.”
Os sapatos-luva de que Phelps fala não são mais que uns sapatos de salto médio, largo, com a ponta redonda e que merecem o comentário “são muito práticos para ir às compras” da parte das avós. E quem as pode censurar? De facto são. Philo acrescentou-lhes um elástico e fê-los de um material maleável que se adapta ao pé, tal como uma luva. Lojas como a Maryam Nassir Zadeh, a Zara, a COS e a Uterqüe — que também já tem as suas babouche na nova coleção — não desperdiçaram a ideia que mais uma vez privilegia o conforto.
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E se entretanto já está a pensar que, no meio disto tudo foi uma pena ter-se deixado cair a ideia de forrar palmilhas com pelo, há boas notícias e são “chanatas” da Gucci: são como chinelos de quarto e já estão em todos os conjuntos de fim de semana do Instagram.
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