Não há bela sem senão. As relações ocasionais entre o homem moderno (Homo sapiens) e o homem de Neandertal (Homo neanderthalensis) – homens e mulheres, está claro – deixaram-nos uma herança especial: os genes dos homens primitivos tanto tornaram o nosso sistema imunitário mais eficaz a combater determinadas infeções, como nos podem ter tornado mais propensos a sofrer de alergias, noticiou o Guardian.
As doenças e os micróbios que as causam (agentes patogénicos) estão entre as mais importantes forças seletivas durante a evolução humana, refere a equipa de Janet Kelso, investigadora no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva (Alemanha), num artigo publicado na American Journal of Human Genetics. “Os Neandertais viveram na Europa e Ásia ocidental durante mais de 200 mil anos e estavam provavelmente bem adaptados ao ambiente e agentes patogénicos locais.”
As mutações que permitem aos indivíduos aumentar a taxa de sobrevivência perante uma adversidade, como uma doença, são um dos mecanismos mais importantes na evolução, mas o processo é lento. A reprodução entre um indivíduo com a mutação e outros com ou sem mutações torna o processo de evolução muito mais rápido. E terá sido assim que, tanto Neandertais como Denisovanos (outro dos nossos primos primitivos), garantiram que os seus genes resistentes à adversidade ficassem conservados no genoma dos homens modernos.
Não estamos a falar de um gene, mas de três, bem representados nos humanos modernos e que atualmente estão associados à redução da prevalência de Helicobacter pylori, uma bactéria que ataca o sistema digestivo, e ao aumento da suscetibilidade às alergias. Isto sugere que estes genes “podem ter melhorado a vigilância inata do sistema imunitário e reatividade contra certos agentes patogénicos, mas também podem ter aumentado a hipersensibilidade a alergénios não-patogénicos, resultando nas doenças alérgicas nas pessoas hoje em dia”.
“[Estes genes] podem ter aumentado a nossa suscetibilidade, mas não chegaria ao ponto de dizer que os Neandertais nos deram as alergias”, concluiu Janet Kelso, citada pelo Guardian.