O Royal Bank of Scotland (RBS) teme que 2016 seja um ano “cataclísmico” para os mercados e para as economias mundiais, marcado por uma “espiral deflacionista“, pelo que recomenda “vender tudo”, à exceção dos ativos considerados mais seguros como a dívida pública dos EUA e da Alemanha. As ações e a generalidade dos títulos de dívida tornaram-se “muito perigosos“, diz o RBS, que está a ver padrões de mercado semelhantes aos que antecederam a crise do Lehman Brothers, em 2008.

“Vendam tudo exceto obrigações de elevada qualidade. O que está em causa é o retorno do capital e não de retorno sobre o capital. Numa sala cheia de gente, as portas de saída tornam-se apertadas“. Esta é uma das citações mais alarmantes de um relatório a que o Observador teve acesso.

A equipa de analistas de mercado de crédito liderada por Andrew Roberts diz que o preço do petróleo pode cair para os 16 dólares por barril, cerca de metade dos valores atuais, e que os principais mercados acionistas mundiais podem perder um quinto do seu valor. As ações europeias e norte-americanas podem cair entre 10% e 20%, antecipa o RBS, com o índice FTSE de Londres a cair, possivelmente, ainda mais devido à maior importância de empresas petrolíferas no índice londrino.

Na base destes riscos de deflação global está a desaceleração da China, numa altura em que a Reserva Federal dos EUA inicia o movimento de subida da taxa de juro. “A China desencadeou uma correção enorme e haverá um efeito de bola de neve. As ações e os mercados de dívida tornaram-se muito perigosos, e mal começámos ainda a sair da fase de conto de fadas [Goldilocks Love-in] que vivemos nos últimos dois anos”, anos que ficaram marcados pelos programas de expansão monetária por parte da poderosa Reserva Federal dos EUA.

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Reserva Federal dos EUA está a “brincar com o fogo”

O Royal Bank of Scotland critica a Reserva Federal dos EUA por “brincar com o fogo” ao subir as taxas de juro precisamente na aproximação de uma “tempestade”. Uma tempestade que tem no seu epicentro a China e a “saturação” do seu mercado de crédito, que está a levar a fluxos muito fortes de saída de capitais – o que justifica que a China deva ter uma “moeda dramaticamente mais desvalorizada”.

“Neste momento, estamos muito cautelosos face à China, e vemos com grande ceticismo o consenso intrigantemente grande de que as autoridades chinesas têm plena capacidade para comprar tempo com as suas intervenções no mercado e com os seus estímulos monetários”.

É esta análise pessimista do RBS sobre a China que leva o banco de investimento a dizer que “o mundo está metido num grande sarilho“. Sobretudo tendo em conta a subida da taxa de juro anunciada em dezembro pela Fed dos EUA:

“Não é, certamente, uma coincidência que esta fuga ao risco nos mercados [as quedas das últimas semanas] tenha ocorrido meras semanas depois da subida da taxa de juro da Fed. Ficámos, na verdade, muito surpreendidos com a calma com que a subida da taxa de juro foi recebida pelos mercados, inicialmente”

Porquê? Porque o RBS assinala que “o mundo está a abrandar, o comércio está a abrandar, a concessão de crédito está a abrandar, estamos uma guerra cambial, a desinflação global está a tornar-se deflação global, num momento em que a China percebeu finalmente o que tem de fazer – desvalorizar a moeda, e rapidamente – e os EUA vêm, no meio de toda esta pressão, e atiram mais achas para a fogueira com uma subida da taxa de juro”.

Pessimismo do RBS contrasta com maior otimismo da Fidelity e do Goldman Sachs

O pessimismo da China contrasta com o maior otimismo demonstrado segunda-feira pela gestora de ativos Fidelity International. A Fidelity avançou segunda-feira com três razões porque devemos manter a calma perante o stress com epicentro na China.

O Goldman Sachs também veio, esta manhã, recomendar que os investidores mantenham a calma e que aproveitem eventuais descidas para reforçar a aposta nas ações – em especial nas ações europeias. Segundo informação da Bloomberg, o Goldman Sachs antecipa um crescimento de 18% das ações europeias, em comparação com a cotação de fecho de segunda-feira. As fortes quedas da semana passada não abalam as previsões do Goldman.