Sindika Dokolo, o marido da empresária angolana Isabel dos Santos, é o comprador mistério da Casa Manoel de Oliveira. Vendida em hasta pública esta segunda-feira por 1,58 milhões de euros na Câmara Municipal do Porto (CMP), a casa vai ser usada como sede europeia para a Fundação Sindika Dokolo. A compra da casa foi efetuada através da empresa Supreme Treasure, Lda., criada em setembro do ano passado com sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Após verificar que a Sociedade Supreme Treasure Lda era gerida por Mário Leite da Silva, colaborador próximo de Isabel dos Santos em vários negócios, o Observador tentou contactar o advogado Diogo Duarte Campos, que representou o marido de Isabel dos Santos na compra da propriedade. Mas não obteve resposta. A confirmação chegou esta tarde, em comunicado.

“Ao estabelecer-nos num edifício como a Casa Manoel de Oliveira, em plena Foz portuense, estamos a afirmar a nossa intenção em contribuir para tornar o Porto ainda mais cosmopolita e mais cultural. Neste espaço vamos promover redes de reflexão artística e fortalecer laços entre Portugal e Angola, a Europa e África, numa ode à Arte enquanto elemento unificador de povos e países”, refere Sindika Dokolo, no mesmo comunicado. A arte contemporânea vai estar em destaque.

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Em março de 2015, o presidente da CMP Rui Moreira entregou a medalha municipal de mérito a Sindika Dokolo. ©Artur Machado / Global Imagens

Em junho, três meses depois de Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, ter inaugurado no Porto uma exposição, o vice-presidente da Fundação Sindika Dokolo, Fernando Alvim, referiu em declarações à Lusa que a instituição estava à procura de um edifício para acolher a sua futura sede, estando a Casa Manoel de Oliveira entre os espaços já visitados, para além do Palacete Pinto Leite ou o Palácio das Artes da Fundação da Juventude, entre outros.

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As duas frações da propriedade, projetada pelo arquiteto Eduardo Souto Moura e construída para habitação do cineasta portuense, nunca foram utilizadas pelo realizador de “Aniki Bóbó”.

Segundo a autarquia, à venda estava o “edificado destinado a equipamento cultural” com 160 metros quadrados de área coberta distribuídos por uma cave, rés-do-chão e primeiro piso, e 1.800 metros quadrados de “área descoberta”. A segunda fração é composta por “cave, entrepiso, rés-do-chão e dois pisos”, com 98 metros quadrados de área coberta e 152 metros quadrados de área descoberta.

Em maio de 2014, Rui Moreira tentou vender o imóvel, com entrada pelas ruas Viana de Lima e de Bartolomeu Velho, também pelo valor mínimo de 1,58 milhões, mas não houve compradores interessados. Durante cerca de um ano, a CMP ainda tentou vendê-la por ajuste direto, mas sem sucesso.

No início de 2015, a Casa Manoel de Oliveira foi classificada como monumento de interesse público e foi fixada zona especial de proteção. O “caráter matricial do bem”, o “génio do respetivo criador”, o valor estético, técnico e material intrínseco e à conceção arquitetónica, urbanística e paisagística motivaram a classificação. A zona especial de proteção tem em consideração “a integração do imóvel na sua envolvente urbanística e a sua fixação visa assegurar o seu enquadramento e as perspetivas da sua contemplação”, podia ler-se em Diário da República.

Manoel de Oliveira morreu no Porto, a 2 de abril de 2015, sem nunca ter habitado o edifício construído para si, por iniciativa do executivo de Fernando Gomes. A casa ficou pronta em 2003 e nunca teve qualquer uso.