Este domingo o Centro Hospitalar Universitário de Rennes (CHU) anunciou a morte de um dos pacientes que tinha sido internado depois de participar num ensaio clínico com uma molécula criada pela farmacêutica portuguesa Bial. Este homem, cuja idade não se conhece (tem entre 28 a 49 anos – o intervalo de idades de todos os voluntários), foi para o hospital juntamente com outras cinco pessoas que continuam, neste momento em situação estável.
Apesar dos riscos aliados a este tipo de ensaios clínicos, as contrapartidas oferecidas são um chamariz para muitas pessoas, principalmente jovens. Na página da Biotrial, empresa dona do centro de ensaios em Rennes, França, onde ocorreu o teste que levou à morte de um voluntário, os voluntários contam que os ensaios são melhores do que um emprego estudantil bem remunerado ou consideram-nos um pequeno complemento da reforma, conta o Público.
Estes pagamentos variam entre os 100 e os 4.500 euros, que é o limite previsto pela lei francesa, explica o site da empresa que foi criada há 26 anos e que possui instalações nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Bélgica. No mesmo sítio esclarece-se também que este montante é pago “livre de impostos”. Em relação a este ensaio, o diretor executivo da Biotrial, François Peaucelle, referiu que os voluntários terão recebido pouco mais de mil euros por uma semana de testes. E acrescentou que cada voluntário não pode receber mais do que 4.500 euros por ano, para limitar o número de ensaios em que participam.
Pelo contrário, em Portugal é proibido “quaisquer incentivos ou benefícios financeiros” neste tipo de investigações, permitindo-se apenas o “reembolso das despesas” ou de “prejuízos” dos voluntários durante os ensaios clínicos – podem ser pagos os dias de trabalho perdidos, as despesas com as deslocações e alimentação. No caso francês, e da Biotrial, os próprios participantes testemunham no site que nunca tiveram quaisquer tipo de problemas, garantindo que se sai como se entrou.
Um exemplo disso mesmo é Michel, um reformado de 60 anos que relatou, na altura em que ia para o seu nono ensaio, que “não é nem mais nem menos do que uma visita médica durante a qual nos tiram a tensão, nos fazem um eletrocardiograma, ou nos tiram uma amostra de sangue… Passa-se bem”, cita o Público.
Em relação ao aspeto monetário, a rádio Europe 1 recolheu declarações de dois voluntários que admitem que participam nestes testes por motivações puramente financeiras. O primeiro desses casos é Christopher, como identifica a mesma rádio, que participou num teste a um medicamento contra as convulsões enquanto andava na universidade: “A motivação foi puramente financeira. Propuseram-me 1200 euros por três noites num hospital. Pensei que era uma maneira rápida e fácil de ganhar dinheiro”.
Já no que toca ao segundo caso, Tatiana, teve que fazer um sacrifício maior para levar o dinheiro para casa. Com o objetivo de testar um complemento alimentar, pagaram-lhe 1.200 euros por 12 dias em que “tive muitas dores de estômago, dores fortes. Foi insuportável”.
Atualizado às 16h30, com as declarações de François Peaucelle.