Marcelo é um “homem de mitos” porque diz que lê o que não lê e dorme mais do que diz dormir. E é também um “surfista” que se atirou ao Tejo para (tentar) ganhar eleições, disse-o Pedro Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim e apoiante de Maria de Belém. Gancho de direita e outro de esquerda. Dois golpes. Dois de uma vez. Marcelo é uma “vedeta de televisão”, não mais do que isso, atirou Marçal Grilo, ex-ministro e mandatário nacional da socialista. Três golpes.
Marcelo é um “Tino de Rans erudito”, continua Laurentino Dias, deputado socialista, fiel a Maria de Belém. E vão quatro. Marcelo é um aspirante a “mister Simpatia”, é “Groucho Marx”, sem espinha dorsal e sem convicções. Marcelo é só “confusão” por onde passou e “incoerência” em estado puro. Marcelo é um “circo” de um homem só. Marcelo é, ao mesmo tempo, “hino do Avante!” e “herdeiro de Cavaco”. Marcelo é infiel, porque quer seduzir o PS enquanto dorme com o PSD e com o CDS às escondidas. Esquerda, direita, esquerda. E são 11 golpes, conta-os Jorge Coelho, ex-homem forte do aparelho socialista e também ele ao lado de Belém.
Se de um lado gritam ‘mata’, do outro gritam ‘esfola. Marcelo é um “lobo em pele de cordeiro” porque diz ser aquilo que não é, socou Manuel Pizarro, vereador da Câmara do Porto e apoiante de Sampaio da Nóvoa. E vão 12. Marcelo é “folclore” em andamento, sem bombos e tarolas. Marcelo é “animador de serões de domingo à noite” que acha que já ganhou. Marcelo é “intriga, é uma no cravo e outra na ferradura”, “amigo de Deus e do demónio”. Esquerda, direita, esquerda. São 17 e por Correia de Campos até podiam ser mais.
Marcelo cabe em “qualquer fato” porque tem “falta de coragem” para vestir o seu verdadeiro fato. “E vão 18”, grita Vieira da Silva, ministro do Trabalho e apoiante Nóvoa. Marcelo é “combate sem tréguas” à regionalização e à Interrupção Voluntária da Gravidez, junta-se Jorge Lacão, vice-presidente da Assembleia e homem de palanque de Nóvoa. São 20 golpes seguidinhos. Marcelo é tão republicano que era, até há bem pouco tempo, presidente da monárquica Fundação Casa de Bragança. E é tão privilegiado que até driblou o serviço militar obrigatório. Dois ganchos seguidos do general Ferreira do Amaral, mandatário distrital de Nóvoa.
Marcelo teve 15 anos de “conversas em família”, cuja “única diferença” para as do outro Marcelo é que “estas são a cores”, socou Vítor Ramalho, que continuou a bater: Marcelo só sabe fazer “intrigalhada” e tem uma “razoabilidade duvidosa”. Ana Catarina Mendes, também apoiante de Nóvoa, malha igualmente. Para ela, Marcelo é “gato escondido com o rabo de fora”, no fundo “o candidato da direita”. E vão 25 golpes, em oito dias de campanha eleitoral.
A contagem nem sequer é rigorosa. Não entram os golpes repetidos porque esses já fizeram mossa. Para os apoiantes de Maria de Belém e António Sampaio da Nóvoa, Marcelo é tudo isto e muito mais. Só não é uma coisa: o homem certo para a Presidência da República. Marcelo é a marmota em quem todos vão tentando acertar com a marreta nesta corrida presidencial. Ouch!
Os apoiantes de António Sampaio da Nóvoa, de Jorge Lacão a Vieira da Silva, e de Maria de Belém, de Jorge Coelho a Laurentino Dias, bem se têm esforçado por colocar Marcelo em knock-out. Até os próprios candidatos se vão metendo ao barulho de vez em quando. Já ouvimos Nóvoa dizer que Marcelo só tem “omissões e contradições”, que só anda em “ziguezagues”, que “promete tudo a todos”, que ainda não chegou a lado nenhum e “já está a servir mal os portugueses”, que talvez Marcelo faça parte do grupo dos “que se acham donos disto tudo”, que é “uma rifa” cujo resultado é sempre incerto, que é “fast food“ que “tem tudo para ser uma desgraça” e que é um profeta da indiferença, para que o povo pense que já está tudo decidido. Maria de Belém, mais centrada em Sampaio da Nóvoa, não deixou de dar a sua alfinetada a Marcelo, o homem “um dia diz uma coisa e noutro dia diz outra”.
Se Marcelo fosse Rocky Balboa estaria agora encostado às cordas, cara desfeita, lábio aberto, sobrolho descaído. Zonzo, com tanto golpe desferido e as três costelas a menos. Mas Marcelo não é Rocky Balboa. É mais Cassius Marcellus (pois claro) Clay Jr., nome de batismo do homem que viria a ser conhecido por Muhammad Ali.
O ex-líder social-democrata não baixa a guarda e mantém-se confortavelmente à frente de todas as sondagens. Leva porrada mas é como se não fosse nada com ele. Esquiva-se a todos os golpes e deixa os adversários a dar socos no ar. Enquanto vai dando “a outra face”, como disse que fazia, parece ir saltitando à volta do ringue, para cansar os adversários. E até lhe dá um certo prazer, ao que parece. Perante os seus, ainda sobe às cordas a pedir a exaltação popular. E dão-lha. Marcelo é um pirilampo cujo “brilho incomoda” muita gente, garantem os apoiantes. A 24 de janeiro os portugueses vão dizer o que Marcelo é.
As pílulas e o nervosismo
Marcelo tem “princípios para toda a gente” e anda “nervoso e inseguro, porque sente o terreno fugir-lhe debaixo dos pés”. Estas são duas críticas ao candidato apoiado pelo PSD e CDS também feitas por Marisa Matias e Edgar Silva. Depois dos ataques a Marcelo Rebelo de Sousa durante a pré-campanha e os debates, os candidatos à Presidência da República não baixam os braços e prosseguem com baterias apontadas ao ‘professor’ durante a campanha eleitoral.
Edgar Silva não se limita a mencionar o estado psicológico de Marcelo Rebelo de Sousa. Sobre a vantagem nas sondagens e a possibilidade de Marcelo poder vencer à primeira volta, o candidato apoiado pelo PCP afirma que “só no fascismo é que as eleições eram um simulacro e o resultado estava decidido à partida”. Mas Edgar Silva não se fica pela comparação aos tempos da ditadura. Também acusou Marcelo de andar “sempre de braço dados com o interesse do capital” e de que o candidato já não se pode descolar do PSD, tendo passado “o detetor de mentiras” com “apoio de peso” de Jardim.
Por seu lado, Marisa Matias afirma que Marcelo adapta os seus princípios conforme lhe convém e cita a piada de Groucho Marx, dizendo que o candidato tem “princípios para toda a gente”. E, por isso, Matias argumenta que Marcelo diz “o que for preciso para ganhar votos”. Já Henrique Neto lamenta que “as pílulas de Marcelo” tenham mais destaque do que os seus debates com as pessoas sobre “problemas concretos”.