A GNR identificou dois menores, com 15 e 16 anos, assim como o proprietário de uma papelaria em Alpiarça localizada a 500 metros de uma escola secundária, devido a denúncias que davam conta de menores a jogarem o popular boletim de apostas desportivas “Placard”, conta a edição desta quinta-feira do Jornal de Notícias.

Confrontados não só com esta situação mas com o facto de serem muitos os menores a comprarem boletins para apostar, a Santa Casa da Misericórdia reagiu, através do seu vice-provedor Paes Afonso, que em declarações à TSF revelou que não recebeu “até agora” qualquer notificação da polícia. Para além disso Pais Afonso explicou que antes de o jogo ter sido lançado foi realizada uma “preparação” que englobou reuniões “com todas as autoridades, incluindo as policiais”.

No entanto, no caso específico ocorrido em Alpiarça, o vice-provedor garantiu que “mal o auto da GNR seja enviado ao Departamento de Jogos, será iniciado um processo de extinção do mediador em causa”.

Já ao Expresso, Paes Afonso quis responsabilizar também os pais. “Nós temos a obrigação de controlar e de evitar que os menores joguem, e fazemo-lo através da formação dos mediadores (postos de venda) e da fiscalização por parte das autoridades. Mas depois há uma questão de educação por parte dos pais, que têm de ser sensibilizados. Os pais têm de tomar consciência de que isto pode ser um problema para os seus filhos e não lhes dar o número de contribuinte para que possam jogar. Mas acham graça e permitem”, disse.

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O novo Totobola que já viciou os menores

O ‘Placard’ foi lançado há quatro meses e daí para cá a popularidade tem subido em flecha. De tal maneira que já atrai menores de idade um pouco por todo o país, conta o JN, que publica inclusivamente imagens de jovens a comprar abertamente os respetivos boletins, que complementam o jogo que se realiza através de uma plataforma on-line.

O mesmo diário conta que em dia de jogos de FC Porto, Sporting ou Benfica, formam-se filas de menores em quiosques ou papelarias, sendo que esta é uma situação recorrente principalmente junto a escolas tal como aconteceu em Alpiarça.

Sendo a venda deste boletim de apostas ilegal a menores, os jovens dão muitas vezes o número de contribuinte dos pais, mas existem casos onde se utiliza o próprio número de identificação fiscal isto porque as máquinas não identificam se o mesmo pertence a um menor ou não.

O caso dos dois jovens de Alpiarça foi denunciado por pais e professores do estabelecimento escolar localizado perto desta papelaria, tendo o proprietário do estabelecimento ficado sujeito a uma contraordenação que pode ascender aos 25 mil euros podendo até perder a licença de exploração de atividade.

Perante isto, o presidente da Confederação das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascensão, assegurou à TSF que nunca recebeu nenhum alerta ou denúncia em relação ao Placard. No entanto, Ascensão defende que são necessárias medidas e que “algúem tem que ser responsável para impedir que os menores tenham este tipo de comportamento”.

Para o presidente da CONFAP este tipo de estabelecimentos que vendem boletins de apostas deviam estar localizados a “pelo menos um quilómetro” dos estabelecimentos de ensino. Porque, segundo Ascensão, este tipo de jogos são, no fundo, uma “tentação”. Por isso “tem que haver limites” de maneira a proteger as “nossas crianças”.

Este alegado vício que começa a chegar aos menores vem na linha do crescente e rápido sucesso dos jogos de apostas em Portugal no geral, e do Placard em particular. Uma reportagem do Observador dava já conta que o ano de 2014 foi ano em que se jogou mais de sempre no país: segundo dados fornecidos pela Santa Casa da Misericórdia, nos primeiros 11 meses de 2014 as vendas brutas da Lotaria Instantânea (Raspadinha) passaram a barreira dos 625 milhões de euros tendo sido apenas superada pelo Euromilhões que chegou aos 846 milhões. No caso do Placard o JN refere que nos quatro meses desde que foi lançado o jogo já conseguiu reunir quase meio milhão de apostadores.

Enquanto a Raspadinha é jogada essencialmente pelos mais idosos, o Placard atrai os mais jovens. Recorde-se que a Santa Casa apostou no Placard depois das apostas desportivas online terem sido suspensas em Portugal e estarem há quase um ano a aguardar legislação.