Bill Clinton voltou à campanha da sua mulher, a candidata a Presidente Hillary Clinton. A roupa escolhida para ocasião, uma camisola aos quadrados vermelhos e pretos, associada aos lenhadores, adivinhava um ambiente descontraído. Mas o tom foi tudo menos isso.

Em vésperas da votação para as primárias do Partido Democrata no estado do New Hampshire, o ex-Presidente dos EUA decidiu tomar como alvo o outro candidato nessa corrida: o senador socialista do Vermont, Bernie Sanders.

“Quando se quer fazer uma revolução, é melhor ter-se muito cuidado com os factos”, disse Bill Clinton, aludindo à “revolução política” que faz parte do mote de campanha de Sanders. O ex-Presidente referiu o exemplo da área da saúde, que Bernie Sanders quer tornar num sistema universal e gratuito. “Todos os peritos dizem que os números não batem certo (…). Porque é que haveríamos de adotar um sistema que não foi testado em vez de acabarmos aquilo que começámos?”, disse, em alusão ao sistema de seguro de saúde pública adotado durante a presidência de Barack Obama.

O homem que liderou os EUA entre 1993 e 2001 chegou a acusar a campanha de Bernie Sanders de ser complacente com aqueles que, na internet e sobretudo nas redes sociais, fazem “ataques que são demasiado profanos, para não dizer sexistas, para serem repetidos” contra Hillary Clinton.

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Por fim, Bill Clinton dirigiu-se ao eleitorado jovem, que nestas primárias do Partido Democrata tem demonstrado estar fortemente inclinado a favor de Sanders — no Iowa, a única votação até à data, o senador do Vermont recebeu 84% dos votos dos eleitores entre os 18 e os 29 anos e 58% daqueles entre os 30 e os 44. “Todos aqueles millenials que estão tão frustrados“, começou, referindo-se à geração que cresceu nos anos 2000, “têm o direito de estarem irritados”. “Mas a irritação tem de ser transformada em respostas. O ressentimento tem de ser transformado em poder.”

New Hampshire deve ir para Bernie, mas o resto será de Hillary

As primárias do Partido Democrata no estado do New Hampshire são na terça-feira, 9 de fevereiro. As urnas fecham 19h00 (00h00 em Lisboa) e os resultados oficiais só devem ser conhecidos no dia seguinte. Porém, as sondagens preveem uma vitória fácil de Bernie Sanders naquele estado do nordeste dos EUA. Segundo o Huffington Post, o senador do Vermont deverá ter 54,7% dos votos, bem à frente dos 40% de Hillary Clinton.

No Iowa, Hillary venceu à tangente, reunindo 49,9% dos votos, contra os 49,6% de Bernie.

Ainda assim, as sondagens das primárias no geral indicam que Hillary Clinton deverá mesmo ser a candidata do Partido Democrata para as eleições de 8 de novembro de 2016. Quando é tido em conta o país inteiro, Hillary aparece com 50,4% e Bernie com 36,6%.

Segundo declarações de Garrison Nelson, um cientista política da Universidade de Vermont que segue Bernie Sanders há mais de 40 anos, o senador socialista começará a sentir dificuldades assim que começar a disputar estados de maior dimensão e onde as minorias étnicas têm um peso importante nos resultados finais. “O Bernie vem de um estado imensamente branco, portanto ele não consegue apelar tanto a assuntos raciais quanto Hillary faz”, disse ao Observador, a propósito de um artigo sobre Sanders.

Numa sondagem da Gallup feita em agosto, eram apuradas as preferências do eleitorado latino (a maior minoria étnica dos EUA) entre os vários candidatos. Embora Bernie Sanders aparecesse com um score positivo de 5%, Hillary Clinton arrebanhava 40% de aprovação — mais do que qualquer outro candidato, incluindo republicanos.