O atraso dos dragões
Há 39 anos que não se via algo assim
José Maria Pedroto estava de volta. Os dragões titubeavam, não estavam bem, os pontos não queriam grande coisa com a equipa. Fernando Gomes estava a uns anos de ser bibota e Octávio Machado ainda era o pequenote raçudo que impunha respeito a meio campo. Pinto da Costa estava há pouco mais de um ano a mandar na estação de serviço do futebol portista, a meio da autoestrada rumo à presidência do clube. Eram outros tempos, uns em que os dragões se empacotaram num autocarro, embalaram até Lisboa e entraram no Estádio da Luz (o antigo) a oito pontos do Benfica.
Aconteceu no último mês da época 1976/77. São 39 anos e contou-se esse tempo até os dragões regressarem a um clássico na Luz com tamanha desvantagem para os encarnados. Hoje são seis os pontos que o FC Porto tem a menos que o rival e, portanto, é a segunda maior diferença desde que Pinto da Costa está no clube. Os dragões estão há mais de dois anos sem limpar o pó ao museu de troféus e arriscam-se a que não seja esta temporada que voltam a vencer o campeonato. Tudo dependerá dos pés dos jogadores e do que a cabeça de José Peseiro lhes diga para fazerem.
O treinador até é quem tem menos culpa na desvantagem que a equipa leva na bagagem para a Luz: perdeu três pontos no campeonato, contra os 14 que Julen Lopetegui deixou fugir até à 18.ª jornada, altura em que a direção portista achou demais. O espanhol saiu para o português entrar e desde aí tem andado entre o suficiente (vitórias contra o Marítimo, o Estoril e o Gil Vicente, para a Taça) e o medíocre (derrotas frente ao Famalicão, na Taça da Liga, e o Arouca). Perder no clássico da Luz significará ficar a nove pontos da liderança do campeonato.
Vencer
O que Rui Vitória e José Peseiro nunca fizeram
O que conta num jogo, sobretudo no campeonato, é o que uma equipa é capaz de fazer durante hora e meia. Porque é em 90 minutos que as partidas se ganham e, por isso, não conta a vez em que uma equipa de Rui Vitória venceu o FC Porto, na Taça da Liga, já nos penáltis — foi em 2007, na primeira edição da prova, quando dava ordens ao Fátima. Ou seja, no tempo que interessa, o treinador acabou empatado com os dragões e isso foi o melhor que conseguiu fazer em jogos contra o FC Porto.
Rui Vitória andaria depois pelo Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães e em nenhum deles arranjou maneira de marcar mais golos que os portistas. O melhor que fez foi quatro empates em 14 jogos. Um deles até dá uma bela conversa de café entre ele e Pizzi, sobre a vez em que o médio, que hoje está mais crescido e bem tem ajudado Rui Vitória no Benfica, marcou um hat-trick no 3-3 com que o Paços saiu do Estádio do Dragão, em 2010/11.
Onde o técnico do Benfica não se ri, o do FC Porto também não pode mostrar um sorriso. Enquanto Rui Vitória nunca ganhou aos que vestem de azul e branco, José Peseiro ainda está à espera do dia em que sairá com uma vitória do Estádio da Luz. O homem que nasceu em Coruche e hoje é treinador, já foi quatro vezes a casa do Benfica (com o Nacional da Madeira, o Sporting e o Braga) e o melhor que fez foi sair de lá com um empate, em 2011/12, quando orientava os minhotos. E depois houve aquela vez em que a cabeça de Luisão foi mais alto que as mãos de Ricardo e desviou o título de Alvalade para a Luz, em 2005.
O regresso de Maxi à Luz
E a assobiadela que aí virá
A história não começa neste uruguaio e provável é que também não acabará nele. Mas o clássico que arranca às 20h30 desta sexta-feira dá outro capítulo ao manual de contos sobre os jogadores que trocaram a Luz pelo Dragão. O jogo proporciona o regresso de Maxi Pereira ao estádio por onde correu durante oito temporadas e bem pode esperar uma reação sonora dos adeptos encarnados.
Antes de Maxi houve vários nomes que trocaram o Benfica pelo FC Porto, mas nenhum terá mexido tanto com o coração de quem torce pelos encarnados. O mais parecido terá sido Rui Águas, goleador que em 1988/89 foi experimentar as Antas, seguido talvez por Cristián Rodríguez, que o imitou em 2008/09.
Ambos eram titulares quando saíram da Luz. Como o eram os russos Kulkov e Yuran, mas como já não era Maniche, português que estava encostado na equipa B do Benfica quando José Mourinho o desencostou para ser um dos mandões no meio campo com que o FC Porto venceu dois campeonatos, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões, entre 2002 e 2004.
Os problemas com Maicon e Brahimi
E como José Peseiro lida com eles
“Desculpa, foi sem querer.” Quando alguém faz algo que não deve, este é um dos mecanismos que é logo acionado para a pessoa se desculpar. Mas o problema para Maicon está na sensação que deixou no Estádio do Dragão, no passado fim de semana, quando tentou fintar à frente da área, perdeu a bola e deu-a ao jogador do Arouca que marcou golo da vitória contra o FC Porto. O brasileiro agarrou-se à virilha, fez cara de dor e caminho para fora do campo, deixando a equipa com menos um homem e sem o capitão. Os adeptos não gostaram, muito menos a direção do clube.
E o maior problema para Maicon é que deixou a sensação de o ter feito de propósito e a pensar mais nele do que na equipa. Nada se sabe do central a não ser o que José Peseiro já disse: “Está ainda com queixas e não treina. Os problemas que vocês possam aflorar são tratados dentro da nossa família”. O que se tem aflorado é que o jardim do brasileiro pode estar murchar. Mesmo que a mulher tenha apagado a mensagem de Instagram, na qual culpou os médicos do clube pelo sucedido, e de Maicon, alegadamente, ter pedido desculpa à equipa.
Depois há Brahimi, que a meio do 2-1 com que o FC Porto foi derrota pelo Arouca, em casa, atirou um casaco para o chão e pontapeou o banco de suplentes quando Peseiro o tirou do jogo. O argelino fez de propósito para mostrar que não concordou com a decisão e o treinador também fez questão de o condenar por isso: “Não toleramos nem aceitamos comportamentos daqueles. Assunto tratado, como o do Maicon, dentro das regras e os pontos de responsabilidade e exigência que temos para o FC Porto e para o nosso grupo”.
Lesionado ou não, Maicon não vai estar no clássico da Luz, enquanto Brahimi é provável que esteja, mesmo com a birra que fez nas barbas de José Peseiro. Ou não, porque castigar um dos melhores jogadores dos dragões logo numa partida bem decisiva para o título seria uma decisão que provaria o contrário da crítica que mais se faz a Peseiro — a de ser um técnico brando na mão que tem nos balneários.
E o problema central…
…que poderá tramar Danilo Pereira
Quanto a este, José Peseiro terá pouco a fazer. Além de Maicon, também Ivan Marcano não jogará o clássico. Uma “distensão na face posterior da coxa direita”, que é como quem diz uma lesão que o tramou, tirou o espanhol da convocatória e fez com que o treinador ficasse apenas com dois defesas centrais disponíveis.
Um é Bruno Martins Indi, internacional holandês e durão que está mais que habituado a isto. O outro é Chidozie Awaziem, um nigeriano de 19 anos que só tem 90 minutos feitos com a equipa, na derrota (2-0) contra o Feirense, para a Taça da Liga. Para não concentrar todo o risco no miúdo, o que José Peseiro pode fazer é retirar o melhor de um sítio para dar um tapa-buracos a outro. Ou seja, ir buscar Danilo do meio campo e colocá-lo ao lado de Indi, a central.
Chineses a quererem pescar Rui Vitória?
O treinador não deve ser apanhado na rede
Soube-se a um dia do clássico: ao que parece, um clube chinês está interessado em levar Rui Vitória do Benfica. A notícia foi avançada pelo Diário de Notícias e dá conta de que o Jiangsu Suning, um dos clubes chineses que abusaram da carteira no mercado de transferências — gastou quase 50 milhões de euros nos brasileiros Ramires, Alex Teixeira e Jô –, pretende ter o português a treinar a equipa.
Se Rui Vitória quisesse sair dos encarnados, pretendesse uma aventura asiática e fosse seduzido pelos milhões que receberia a mais do que o salário que o Benfica lhe faz entrar na conta, então este seria talvez o último clássico do treinador no clube da Luz. (porque a época na China arranca em março). Mas como isso é pouco provável de acontecer, a notícia surge numa altura em que pode, ou não, desconcentrar Rui Vitória do seu trabalho.
A guerra dos vídeos
E foi o Benfica que começou
Há dias, a Benfica TV começou a transmitir um anúncio para promover o clássico. Decidiu baseá-lo em imagens de adeptos portistas, ao som de cânticos anti-Benfica. A publicidade é apresentada com uma frase: “As imagens que se seguem foram recolhidas em jogos nos quais o SL Benfica não participou”. E acabou com outra: “Obcecado pelo Benfica? Tens bom remédio”, ouve-se, antes de a locução convidar a uma assinatura do canal dos encarnados, de modo a poder assistir ao jogo desta sexta-feira.
https://www.youtube.com/watch?v=qBxNalAUFuY
O Benfica picou o FC Porto e os dragões não demoraram a responder aos encarnados. Fizeram-no através da newsletter diária do clube, também com palavras : “Um canal televisivo que só não interessa nada porque na sexta-feira transmite o nosso jogo fez uma promoção utilizando imagens que dizem ser de jogos em que o Benfica não participou, o que até parece nem ser totalmente verdade. De qualquer forma, esta versão alternativa é muito mais interessante, sempre com o slogan dos jogos em que o Benfica não participou”.
E, só podia, acrescentaram o link para um vídeo criado “em 10 minutos” por Hélder Miranda, um adepto do FC porto que, após ver o anúncio da Benfica TV, decidiu reagir. Alguém no departamento de comunicação dos dragões estava atento e resolveu fazer incluir o vídeo na reação do clube.
Tive acesso à primeira versão da promo que a BTV está a rodar para o clássico de sexta-feira.Fico contente que tenham melhorado consideravelmente a edição para a versão final, mas fico triste que tenham retirado estes momentos "nos quais o S.L. Benfica também não participou".Mas foi bom recordar estas imagens que tive a felicidade de ver em direto! FC Porto #SemIgual
Posted by Helder Miranda on Tuesday, 9 February 2016