(Notícia atualizada às 17 horas com a publicação de um relatório mais aprofundado de apreciação do Orçamento por parte da DBRS)

A agência de rating canadiana DBRS está confortável com a nota que atribui a Portugal, mas diz-se atenta à evolução dos juros da dívida portuguesa no mercado. As declarações, inicialmente noticiadas pela Reuters, foram, entretanto, difundidas pela agência de rating e isso levou à antecipação de um relatório mais aprofundado de apreciação do Orçamento do Estado para 2016. Nesse relatório, a DBRS diz que o rating está dependente da avaliação que Bruxelas fizer da execução orçamental, na primavera.

“Neste momento, estamos confortáveis com a nossa perspetiva estável para a dívida de Portugal. Achamos que é apropriada”, disse à Reuters Fergus McCormick, responsável pela análise em dívida pública da DBRS, a única que tem o rating de Portugal acima de lixo.

Ainda assim, o especialista diz que “o recente aumento das taxas de juro é preocupante, tendo em conta as elevadas necessidades de financiamento”.

Se a volatilidade nos mercados continuar, a nossa atenção virar-se-á para a equação política e para aquilo que é (e não é) possível fazer em termos de ajustamento orçamental.

Riscos de derrapagem orçamental” no Orçamento do Estado

Num relatório de apreciação do Orçamento do Estado para 2016, a analista principal que segue a dívida pública portuguesa, Adriana Alvarado, deixa implícito que o rating está dependente da avaliação que Bruxelas fizer da execução orçamental, na primavera.

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“A reavaliação do cumprimento das regras orçamentais europeias, planeada para maio, depois da apresentação do Programa de Estabilidade e Crescimento (pelo governo) e das Projeções Económicas da Primavera (pela Comissão Europeia), será um fator importante“, diz a agência de rating.

A agência acrescenta que “medidas adicionais” de austeridade “podem ser necessárias” e mostra-se preocupada com três grandes fatores, daqui para a frente:

  • – “A redução da despesa pode mostrar-se difícil, na ausência de limites vinculativos e claros para a despesa”;
  • – “Está planeada” uma melhoria da situação das empresas públicas “mas os resultados são incertos”;
  • “Há um risco de que o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista podem entrar em conflito em torno das medidas (de austeridade adicionais)”.

A DBRS ficará preocupada se quaisquer derrapagens orçamentais se tornarem recorrentes“, avisa a agência.

Juros aliviam no mercado

Apesar da desconfiança patente na análise da DBRS, em relação ao Orçamento, as declarações da agência dão algum conforto de que a agência poderá ter, agora, menor probabilidade de avançar com um corte de rating em abril. Isto porque a agência indica que irá esperar pela avaliação de Bruxelas, apesar de ter as suas próprias reservas em relação ao Orçamento e à situação política em Portugal.

Os juros da dívida, que começaram mais um dia a subir, inverteram a tendência e estão, no fecho da sessão, a corrigir 38 pontos base para 3,73%.

A confirmar-se a tendência favorável até ao final do dia, será a primeira sessão em sete consecutivas em que os juros aliviaram. A taxa a 10 anos continua, no entanto, um ponto percentual acima do que estavam no início deste mês.

DBRS admitiu em janeiro cortar o rating

No último dia 29 de janeiro, a mesma agência dizia que estava a “monitorizar” a situação em Portugal e admitia alterações ao rating do país. A agência temia que pudesse existir um “desacordo com a Comissão Europeia que coloque em questão o compromisso do governo português com as regras orçamentais europeias”.

A DBRS é a agência mais pequena das reconhecidas pelo Banco Central Europeu (BCE), além das três grandes S&P, Moody’s e Fitch – todas as quais emitiram recentemente alertas ao governo português.

Porém, a DBRS é, para Portugal, a agência mais importante de todas, por duas razões:

Financiamento dos bancos. É graças ao rating acima de lixo da DBRS – o único – que os bancos podem apresentar dívida pública portuguesa como garantia para receberem financiamento do BCE e, sem esse rating, os bancos ficariam relegados à plataforma de emergência que usa o Banco de Portugal como intermediário (como está a acontecer desde fevereiro na Grécia).

Compra de dívida pública. É, também, graças a esse rating que o BCE pode incluir a dívida pública portuguesa no programa de compra de títulos que está a decorrer há quase um ano e que tem tido um impacto enorme na redução dos juros de todos os países da zona euro (exceto a Grécia, que continua de fora). Os especialistas não têm dúvidas: sem essa drenagem que o BCE está a fazer no mercado, osjuros de Portugal iriam disparar – sobretudo tendo em conta que o governo quer emitir mais dívida no mercado nos próximos anos. Sem orating, só um novo resgate garantiria a continuação da elegibilidade para este programa.

A DBRS tem a próxima avaliação a Portugal agendada para 29 de abril.