“Mentira”, Costa “manipulou e abusou” ou “custa-lhe lidar com a crítica e a opinião alheia” são apenas algumas das expressões usadas pelo eurodeputado Paulo Rangel para responder à intervenção de António Costa no debate do Orçamento do Estado desta segunda-feira, quando este o acusou de ter lutado em Bruxelas para um chumbo do Orçamento português.

No artigo que escreveu esta quarta-feira no jornal Público, com o título “Ai custa, custa, dr. Costa”, Paulo Rangel esgrime argumentos para mostrar que “Costa, na veste de primeiro-ministro, manipulou e abusou. E fê-lo para diabolizar um deputado da oposição”, escreveu.

Em causa estão declarações de Costa no debate do Orçamento do Estado quando, virando-se para a bancada do PSD, disse que houve vários sociais-democratas a “fazer figas” para que o Orçamento do Estado deste ano não passasse pelo crivo da Comissão Europeia. “O momento mais triste foi ver o líder do PSD no Parlamento Europeu levantar a sua voz, não para defender Portugal, não para defender as empresas portuguesas, não para defender os portugueses, mas para defender que a Comissão Europeia chumbasse o orçamento de Portugal. (…) Enquanto todos nos lembrarmos de Paulo Rangel e do seu comportamento no Parlamento Europeu. Bem podem pôr as bandeiras à lapela, que nunca mais ninguém vos respeitará”, disse Costa citado pela Rádio Renascença.

Perante as acusações do primeiro-ministro, Rangel diz que escreve “para que a mentira que lançou, de duas vezes repetida em vestes oficiais, não faça o caminho do rumor”. E qual a mentira? Diz o eurodeputado que nunca defendeu o chumbo do Orçamento, apenas corrigiu uma afirmação da eurodeputada socialista Maria João Rodrigues que puxou o tema Portugal para o debate e que disse que “o Governo português era fortemente europeísta”.

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“Quando chegou a minha vez de falar, tive naturalmente de a contraditar, no furtivo tempo de um minuto, para dizer que, não pondo em causa a convicção europeia dos socialistas portugueses, não poderíamos esquecer que o Governo português era apoiado por duas forças da esquerda radical”, explica.

Conta o eurodeputado, que terminou a intervenção (que pode ser ouvida aqui) com a “terrível tirada parlamentar: ‘Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és'”. E ironiza de seguida: “Foi este o grave crime de lesa-pátria que o tal Paulo Rangel cometeu. Foi isto e só isto: nada mais. Deve ser isto que causou toda a agitação e apreensão que o Orçamento Costa gerou e gera nas instituições europeias e nos mercados internacionais”.

Mas as palavras duras de Paulo Rangel contra Costa não ficam por aqui. Depois, o eurodeputado do PSD lembra que a posição do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker – que advertiu os deputados portugueses que estavam a puxar um debate marcado pela situação nacional – foi para todos os deputados que falaram sobre Portugal e não apenas para Rangel. “Verão como Costa, na veste de primeiro-ministro, manipulou e abusou. E fê-lo para diabolizar um deputado da oposição. E isso, dr. Costa, por muito que lhe custe, não lhe admito”, escreveu.

O eurodeputado foi ainda mais longe. Depois de defender que a repreensão de Juncker não fazia sentido – escrevendo que ele “nem sequer tinha razão” – e de lembrar que nesta não fora ele o único a intervir – fizeram-no, “a saber três socialistas do partido de Costa, um comunista apoiante do Governo Costa, uma bloquista apoiante do Governo Costa e eu, crítico do Governo Costa (suponho que, para já, ainda legitimamente)”, Rangel ataca Costa por alinhar num registo “neonacionalista” e que explora uma “febre patriótica”. E concretiza:

Esta ideia provinciana e bacoca de que no Parlamento Europeu não se trata de assuntos que respeitam aos Estados-membros é verdadeiramente reaccionária e ultramontana”.

No final da crónica ainda remata com uma acusação mais geral ao primeiro-ministro: “Dr. Costa, suspeitava já – por alguns sinais dados – e agora sei de ciência certa que lhe custa lidar com a crítica e a opinião alheia. Nada de novo no mundo claustrofóbico de algumas correntes socialistas. De resto, sei também que lhe custa que alguém demonstre quanto custa e custará o seu orçamento aos portugueses. Ai custa, custa, dr. Costa!”.