Cláudia e Pedro Teichgräber, os filhos do alemão Klaus Teichgräber que em 1975 abriu o Bonaparte na Foz do Douro, têm gravadas as marcas de uma vida passada no pub mais icónico da cidade do Porto. No caso de Pedro, literalmente. “Eu rachei a cabeça lá com um ano e meio de idade“, recorda ao Observador, apontando para a cicatriz junto ao olho. Passaram a vida toda no Bonaparte. Em crianças iam para a Praia da Luz, mesmo em frente, no verão. No final da adolescência trabalharam no pub ao longo de dois anos, quando foi necessária ajuda. Podiam ter criado aversão ao negócio, mas acabou por funcionar ao contrário: os dois acabam de abrir um novo Bonaparte na Baixa do Porto.
O novo “Bona”, como é conhecido entre os frequentadores habituais, vai ter um público diferente daquele que frequenta (e assim continuará) o número 130 da Avenida do Brasil. Devido à nova localização, o Bonaparte Downtown vai ter mais turistas, mais jovens, mais vida durante o dia em comparação com a Foz. “Como já não conseguimos expandir no Bonaparte da Foz resolvemos começar a procurar aqui na Baixa. Este espaço preenche de certa forma o design que nós queríamos para o conceito de pub”, explica. O grande desafio que se seguiu foi dar-lhe a identidade Bonaparte. A meia luz. A tralha nas paredes. A alma.
Esta história começa a preto e branco. Klaus Teichgräber, alemão de Munique, foi trabalhar para Lisboa antes do 25 de Abril de 1974. Mas foi no Porto que se apaixonou. Decidiu então abrir um pub e chamar-lhe “Number One”. As autoridades portuguesas não gostaram e o alemão decidiu então roubar o nome ao imperador francês. Bonaparte ficou. Klaus Teichgräber morreu em 2013. O pub que abriu em 1975, e que em 1977 se tornou no primeiro em Portugal a receber licenciamento, continua bem vivo e com uma clientela fiel, em alguns casos já na terceira geração. 41 anos depois, Pedro e Cláudia Teichgräber, juntamente com Paulo Andrade, marido de Cláudia, não só mantêm vivo o espaço da Foz como querem levar o legado de Klaus ainda mais longe.
O balcão do novo bar estende-se ao longo de 10 metros e interpõe-se entre a primeira sala e a segunda. Numa ponta do balcão está um quadro com a cara da bisavó de Klaus Teichgräber e na outra encontramos a figura do bisavô. Existem, portanto, duas salas diferentes, sendo que quem quiser fumar terá que escolher a do fundo. Ainda vai abrir uma terceira divisão, no piso de cima, mas apenas daqui a algum tempo. Há também duas entradas: a principal pela Praça Guilherme Gomes Fernandes e a outra pela rua das Galerias de Paris, que também ainda não abriu.
Os clientes que se sentem em casa no Bonaparte original têm todas as condições para olhar para esta versão 2.0 como uma espécie de irmão mais novo. Vamos às parecenças:
Olhar para as paredes continuará a ser uma atividade válida
Como não, se há nenucos e o Homer Simpson em gaiolas? Como se não fosse suficientemente estranho, os nenucos dão luz. Assim como os comboios nas prateleiras. “É o toque Bonaparte”, diz Pedro, que acumula o trabalho aqui com o de jornalista na RTP. Os três responsáveis colocaram uma a uma cada peça na parede, onde se incluem uma carcaça de uma lambreta, uma bicicleta e uma prancha de surf dos anos 60. Assim como uma grafonola e um trombone, parte da longa coleção de objetos que Klaus Teichgräber foi reunindo ao longo da vida. Também há brinquedos com os quais Pedro e Cláudia chegaram a brincar e as raquetes que usaram para aprender a jogar ténis. Sim, é permitido rodar o leme de marinheiro junto ao extintor. Sentido? Nenhum. Mas há uma certa coerência nisto tudo. Klaus Teichgräber aprovaria.
O quadro de Napoleão Bonaparte que está na sala de fumadores veio do outro espaço. Costumava estar pendurado num local mais escondido e ganha aqui o destaque que merece, depois de dois anos de restauro (Paulo Andrade caiu em cima dele e rasgou-o). Os espelhos personalizados onde se pode ler “Bonaparte steakhouse” eram decoração do restaurante que Klaus chegou a instalar no andar de cima do pub nos anos 80, mas que depois acabou por encerrar.
Concentradas num pequeno pedaço da parede estão também as fotografias da família, a preto e branco. A Munique da juventude de Klaus Teichgräber, onde ele surge com os amigos da faculdade e numa festa de Carnaval. Há fotos do primeiro casamento da avó alemã de Pedro e Cláudia. “O avô Teichgräber morreu na II Guerra Mundial quando o meu pai tinha um ano”, explica. Ao lado está também uma imagem do segundo marido da avó, com quem eles mais conviveram.
É todo um caos organizado. Até para sentar o cliente tem à disposição bancos, cadeiras ou sofás, dependendo da área do bar onde se queiram instalar. Quem quiser ver desporto também encontra ali dois ecrãs, estes bem modernos. Um em cada sala, com os grandes jogos, sobretudo de futebol, como prioridade.
As bebidas são as mesmas
No Bonaparte não pode faltar nunca a cerveja alemã Erdinger, seja branca ou preta, assim como a Paulaner e a Franiskaner. Entre as cerca de 25 cervejas disponíveis contam-se também as belgas Leffe, Hoegaarden, Duvel e Chimay, tanto na versão trapista (5€), como na de reserva (14€).
Há uma oferta generosa de rum e de cocktails, mas é o uísque que se destaca, com 16 opções de várias geografias e tipos: escocês, americano, irlandês ou de malte. Ainda assim, por se tratar de uma zona com mais turistas, tem sido o vinho do Porto o mais pedido da lista. Por falar em oferta: com as bebidas vêm sempre umas pipocas de milho frito para petiscar.
Quem procura uma bebida quente que não passe pelo tradicional chá ou chocolate quente (que também estão disponíveis) tem aqui quatro opções: o Irish Coffee, o Baileys Coffee, o Dark Chocolate (rum, chocolate negro e natas) e o Grog’s (rum escuro, chá e limão).
Mantém-se a Happy Hour
Não é por estarmos no centro da movida que não há direito a saldos. Tal como na Foz, entre as 17h00 e as 21h00 os preços são mais reduzidos. “Em média tiramos um euro”, explica Paulo Andrade.
A comida também se mantém, agora com mais pratos
Uma das vantagens da nova localização é a sua dimensão mais alargada, não só para o público (cabem cerca de 100 clientes) como para a equipa que trabalha na cozinha. Com mais espaço, a comida ganha agora uma maior dimensão e o chef Mário Rodrigues, vencedor do concurso Chefs’ Academy, ajudou a fazer o menu.
Entram na carta pratos de peixe, como polvo com molho verde (8€), camarão ao alho e lulinhas salteadas (ambos a 7€), e três crostinis: salmão fumado, atum braseado com maionese de wasabi e o Napoleão (queijo de cabra, presunto e mel). Todos a 6€.
Pedro destaca também o regresso dos bifes que outrora foram servidos na steakhouse do Bonaparte da Foz: o bife do lombo tártaro (14€) e o bife à Klaus, um naco de 200 gramas de carne grelhada laminada, acompanhada com batata frita e mostarda em grão (15€).
Nos pregos, o do lombo faz-se aqui com queijo amanteigado e entra para a carta o preguinho de porco preto. O cachorro com salsicha fresca alemã é obrigatório. Tudo servido em tábua de madeira.
“O nosso pai tinha muito mundo. Toda a gente o conhecia”, diz Pedro, com orgulho. Quando os proprietários conhecerem melhor as dinâmicas e o público da movida vão ver o que é necessário afinar. Porque se no menu há espaço para novidades, nas paredes também cabem ainda mais memórias.
Nome: Bonaparte Downtown
Morada: Praça Guilherme Gomes Fernandes, 40 (Baixa). Em breve também haverá uma entrada pela Rua das Galerias de Paris
Telefone: 22 096 2852
Horário: Todos os dias das 17h00 às 02h00 (brevemente até às 04h00 à sexta e ao sábado)
Site: https://www.facebook.com/bonapartedowntown/