Depois de um doodle especial do Dia Internacional da Mulher, dedicado às “mulheres reais”, a Google decidiu criar uma nova animação para comemorar os 150 anos de Clara Rockmore, uma música virtuosa considerada uma das pioneiras da música eletrónica. O doodle permite aos utilizadores do motor de pesquisa da Google tocarem teremin, o estranho instrumento pelo qual a russa ficou conhecida.
O teremin, criado na década de 1920 pelo inventor russo Lev Sergeevich Termen, é considerado o primeiro instrumento eletrónico, tendo influenciado bandas como os Rolling Stones, os Beach Boys ou os Led Zeppelin. Tornou-se uma marca distintiva dos primeiros filmes de ficção científica, onde costumava ser usado como banda sonora.
“Clarionek, tu tocavas como um anjo”
Clara Reisenberb nasceu a 9 de março de 1911 no seio de uma família judia, em Vílnius, na Lituânia, então parte do Império Russo. Desde cedo que mostrou ter um talento natural para a música. Com um ouvido absoluto, um traço comum na família, aos dois anos já conseguia identificar as notas que eram tocadas no piano. Aos quatro, entrou para o Conservatório Imperial de São Petersburgo, tornando-se na estudante de violino mais nova da história do instituto.
Com a chegada da revolução, Clara e a família viram-se obrigados a abandonar a Rússia, viajando noite e dia numa carroça puxada a cavalos. “Foi uma longa viagem”, lembrou a irmã, a pianista Nadia, anos depois. “Tivemos de atravessar várias fronteiras ilegalmente, sem sabermos se iríamos conseguir chegar a alguns país onde pudéssemos pedir um visto para os Estados Unidos da América.” Chegaram a Nova Iorque a 19 de dezembro de 1921.
Uma vez nos Estados Unidos, Clara voltou a dedicar-se à música, terminando os seus estudos com Leopold Auer, um violinista, maestro e compositor húngaro. Porém, após desenvolver artrite num dos braços, viu-se obrigada a desistir do violino. O que Clara Reisenberg não sabia era que a sua carreira estava apenas a começar.
A russa tinha conhecido em Nova Iorque Lev Termen, inventor do teremim, o primeiro instrumento completamente eletrónico. “Fiquei fascinada com a parte estética, com a beleza visual, e com a ideia de o poder tocar no ar”, disse. “E adorei o som. Experimentei e, aparentemente, mostrei de imediato uma espécie de habilidade para o manipular.” A habilidade era tal que, pouco tempo depois, Termen deu-lhe um de presente, “o modelo RCA”.
Este foi o início de uma nova carreira musical para Clara, que depressa desenvolveu a sua própria técnica, que lhe permitia controlar os tons. Termen chegou mesmo a construir-lhe um novo modelo do instrumento, mais preciso e com uma escala de oito notas em vez de três. Apesar de o inventor a ter pedido em casamento, a russa acabou por casar com o advogado Robert Rockmore, cujo apelido começou a usar profissionalmente.
Clara Reisenberg Rockmore morreu a 10 de maio de 1998, no seu apartamento em Manhattan. A sua capacidade de criar melodias com o teremim, considerado uma primeira forma de sintetizador, colocou-a lado a lado com alguns dos mais importantes compositores do seu tempo, e a forma como o desenvolveu abriu caminho para muitos dos instrumentos que viriam a ser usados pelos artistas de música eletrónica dos tempos modernos.
Apesar de todas as críticas que recebeu durante a sua longa carreira, o maior elogio talvez tenha vindo do próprio Lev Termen, como lembra o site da Fundação Nadia Reisenberg e Clara Rockmore: “Clarionek, tu tocavas como um anjo”.
Mas o que é exatamente um teremim?
Um teremim é um instrumento musical eletrónico composto por duas antenas e um amplificador. O modelo original foi criado em outubro de 1920 por Lev Sergeebich Termen, fruto de várias pesquisas sobre sensores de proximidade financiadas pelo governo russo. Foi patenteado nos Estados Unidos da América em 1928 e, pouco tempo depois, os direitos de produção foram cedidos à empresa RCA, que criou o primeiro modelo para comercialização (e o primeiro a ser usado por Clara Rockmore).
O teremim é dos poucos que pode ser tocado sem contacto físico. De modo a emitir o som que lhe é característico (e tão popular entre os filmes de ficção científica dos anos 50), o tocador tem de se colocar em frente ao instrumento e usar as mãos para interromper o campo magnético que é produzido pelas duas antenas. É a distância entre as mãos e as antenas que determina a frequência (tom) e o volume.
Diferentes posições de mãos provocam diferentes sinais de ondas, que são depois amplificadas. Geralmente, é a mão direita que controla a frequência e a esquerda que controla o volume. Porém, esta posição pode ser invertida pelos tocadores. Mas, de uma maneira simples, diferentes posições de mãos provocam diferentes sinais de ondas, que são depois amplificadas pelo instrumento.