Já lá vão quase 877 anos desde a Batalha de Ourique, onde D. Afonso Henriques venceu, conta a História, um exército comandado por cinco reis muçulmanos. E agora, mais de oito séculos depois, o recém-empossado Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, evoca o milagre sucedido em terras alentejanas.
“Aqui se criaram [em Portugal] e sempre viverão comigo aqueles sentimentos que não sabemos definir, mas que nos ligam a todos os portugueses. Amor à terra, saudade, doçura no falar, comunhão no vibrar, generosidade na inclusão, crença em milagres de Ourique, heroísmo nos instantes decisivos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
E, afinal, em que é que consistiu o tão famoso milagre de Ourique a que Marcelo se referiu? Segundo a lenda, a Batalha de Ourique, a 25 de julho de 1139, foi antecedida de uma visita de um velho homem ao rei. Homem esse que o soberano do reino de Portugal já tinha visto em sonhos. Esse homem terá profetizado a vitória dos portugueses contra os então invasores do reino. Mas o homem disse também a D. Afonso Henriques que, nessa mesma noite, quando ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia, saísse sozinho do acampamento onde estava instalado.
Depois de o ter feito, Afonso Henriques terá sido iluminado por um raio de luz, e ter-lhe-á aparecido o sinal da cruz e Cristo crucificado. Aí, após o rei se ter ajoelhado, Cristo terá prometido a vitória não só na batalha que se avizinhava mas noutras que se seguissem. A independência do reino era, assim, vontade de Deus. Foi depois da vitória que D. Afonso Henriques terá decidido que a bandeira do reino passaria a ter cinco quinas e cinco escudos dispostos em cruz que representariam as cinco chagas de Cristo e os cinco reis muçulmanos vencidos na batalha de Ourique.
O milagre de Ourique foi, depois, associado “ao carácter de inspiração divina do primeiro rei de Portugal”, salientou Luís Carmelo, investigador da Universidade Autónoma de Lisboa.
Este é, também, o milgare que Luís de Camões evoca no terceiro canto d’Os Lusíadas:
“A matutina luz, serena e fria,/ As estrelas do Pólo já apartava,/Quando na Cruz o Filho de Maria,/Amostrando-se a Afonso, o animava./ Ele, adorando Quem lhe aparecia,/ Na Fé todo inflamado, assi gritava: “Aos infiéis, Senhor, aos Infiéis,/ E não a mi, que creio o que podeis!”
* Editado por Miguel Pinheiro