“A minha demissão do Centro Cultural de Belém (CCB) foi uma limpeza. Substituíram todos os que, de alguma forma, estavam ligados a mim”. É desta forma que António Lamas, o ex-presidente do CCB que acabou afastado do cargo por João Soares, justifica o fim abrupto do seu mandato.
Em entrevista ao Expresso (link para assinantes), Lamas diz que a decisão de João Soares “não ajudou nada à figura de ministro” e mostra-se atónito com o “tom bombástico” usado pelo ministro da Cultura. “Nunca vi nada assim, é um verdadeiro problema de educação.”
A divergência entre o ministério da Cultura e o então presidente do CCB foi ganhando novos contornos depois de João Soares ter considerado a Estrutura de Missão da Estratégia Integrada de Belém (ou o eixo Belém-Ajuda, nome pelo qual era também conhecido o plano estratégico) um “total disparate” – uma das primeiras decisões do Executivo de António Costa foi, aliás, interromper o plano.
Pouco depois, João Soares viria a terreiro dizer que António Lamas devia retirar as “devidas consequências” desta decisão, ou seja, apresentar a demissão e sair pelo próprio pé. Algo que o professor catedrático do Instituto Superior Técnico não estava disposto a fazer. Lamas seria então demitido e substituído por Elísio Summavielle. Com a saída de Lamas, morria também o eixo Belém-Ajuda.
O agora ex-presidente do CCB, no entanto, continua a defender o projeto. “É um trabalho meritório, pensado e redigido com o apoio de reconhecidos especialistas, que propõe uma visão, medidas para valorização da zona e um processo colaborativo para a sua implementação, que deve ser discutido e melhorado”, sublinhou, em entrevista ao semanário.
António Lamas revela, ainda, que João Soares tinha pedido que se demitisse pouco antes do Natal, algumas semanas depois de o Governo socialista ter tomado posse. “Disse-lhe que lhe reconhecia toda a legitimidade para me demitir, mas que eu não me ia demitir, apesar de ele ter dito que era o que esperava que eu fizesse”, lembra o ex-presidente do CCB.
Na quarta-feira, o Observador explicava em detalhe todos os pontos do plano Belém-Ajuda – e também os problemas. O que é certo é que, com a saída de António Lamas, o plano estratégico criado pelo Governo de Pedro Passos Coelho – e coordenado com o então presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, já não deve sair da gaveta.
Quanto ao ex-presidente do CCB, vai ter direito a uma indemnização equivalente a 12 meses de salário. Na verdade, se se tivesse demitido, como pedia o ministro da Cultura, António Lamas iria para casa sem direito a qualquer verba.