A Baleia
De Benji Davies (ed. Orfeu Negro)
As amizades improváveis têm dado grandes livros para crianças, seja entre o gato malhado e a andorinha Sinhá de Jorge Amado ou entre o menino e o pinguim de Oliver Jeffers. Na sua estreia em Portugal, o ilustrador e realizador de animação Benji Davies escolhe um rapaz e uma baleia para protagonizar o estranho par, numa história passada à beira-mar e pintada em tons de azul. Noé vive sozinho com o pai, que é pescador e passa o dia embarcado, e com seis gatos — que não pode deixar de tentar encontrar na ilustração inicial — junto à praia, até que uma tempestade traz uma inesperada companhia para casa. Uma bela homenagem à amizade e a todo o universo náutico.
Eu Quero a Minha Cabeça!
De António Jorge Gonçalves (ed. Pato Lógico)
Há birras intermináveis em que só apetece arrancar a cabeça aos miúdos. E há alturas em que eles parecem ter apenas uma palavra no vocabulário: não. António Jorge Gonçalves juntou as duas situações num livro que parte de um problema bicudo: “um dia, o pai da Céu chamou-a tantas vezes, e ela respondeu-lhe tantas vezes NÃO… que lhe saltou a cabeça”. Eu Quero a Minha Cabeça! acompanha as aventuras da protagonista a tentar recuperar o que perdeu enquanto aprende outras palavras mais positivas pelo caminho. Uma história mais útil — e infinitamente mais divertida — do que muitos ralhetes.
Que Amigo Levo Comigo?
De Dr. Seuss (ed. Booksmile)
Qualquer coisa como 600 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo demonstram o sucesso de Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss, na literatura para crianças. Traduzido em mais de 30 línguas, o autor norte-americano publicou vários clássicos infantis em vida — o nome Grinch diz-lhe alguma coisa? — e deixou um arquivo de inéditos depois da sua morte, em 1991, de onde foi retirado este Que Amigo Levo Comigo?. Lançado mundialmente no final de 2015, todo o livro se desenrola dentro de uma loja de animais, onde dois irmãos percebem que a missão de escolher um companheiro de estimação é mais difícil do que parece.
Cores + Números
De Aino-Maija Metsola (ed. Jacarandá)
Fixe este nome, por difícil que pareça: Aino-Maija Metsola é uma ilustradora e designer finlandesa, e a cabeça criativa por trás da marca Marimekko. Os seus desenhos tanto ilustram peças de roupa como cerâmicas, calendários, brinquedos e livros para crianças, e é impossível não ficar preso às ilustrações coloridas e gráficas com que fala aos miúdos. É nesta última vertente que a finlandesa se estreia em Portugal, com uma coleção, Jardim dos Pequeninos, que acaba de chegar às livrarias e apresenta os primeiros conceitos a crianças em idade pré-escolar. Com várias abas para levantar em cada página, os dois primeiros livros debruçam-se sobre as Cores e os Números e desafiam as crianças a perceber, por exemplo, qual o objeto que está a mais numa paleta cromática ou quantos insetos se contam em várias flores desenhadas.
O Que Aconteceu à Minha Irmã?
De Simona Ciraolo (ed. Orfeu Negro)
Ah, a adolescência, esse fenómeno difícil de explicar (e de viver), sinónimo de portas do quarto sempre fechadas e de mil e um segredinhos. Depois de contar a história ternurenta de um cato que só quer um abraço, a italiana Simona Ciraolo vira-se para a idade do armário e apresenta uma menina intrigada e com uma pergunta que não lhe sai da cabeça: O Que Aconteceu à Minha Irmã? É que antigamente as duas faziam tudo juntas mas agora a mais velha já não quer brincar às casinhas ou saltar à corda e prefere passar horas ao telemóvel e ao computador. Uma forma nova e divertida de olhar para um velho tema, transformando o adolescente num verdadeiro caso de estudo.
Onde Está a Lua?
De Jordi Amenós e Albert Arrayás (ed. Pequena Fragmenta)
Inês Castel-Branco continua o bom trabalho à frente da sua editora independente Pequena Fragmenta, e Onde Está a Lua? é apenas um dos exemplos que comprova a sua missão de promover o diálogo entre pais e filhos e ajudar os mais pequenos a pensar. Assinado por Jordi Amenós e Albert Arrayás, o livro transforma uma questão de astronomia — as diferentes fases da lua — num pretexto para puxar pela imaginação, a partir do momento em que um menino chamado Paulo, intrigado com o desaparecimento do satélite natural da Terra, resolve perguntar aos seus amigos o que é que aconteceu à lua. Cada uma das respostas é mais rica do que a anterior — o cão do rapaz, por exemplo, sugere que “talvez a lua seja uma bola gigante de gelado de baunilha e sempre que passa uma estrela-cadente dá-lhe uma lambidela e leva-lhe um bocado”, pelo que “enquanto não chegarem os extraterrestres e voltarem a enchê-la de gelado não a veremos grande e brilhante” — e no final há ainda um guia de leitura para seguir em família onde pais e filhos são desafiados a inventarem novas teorias ou a descrever uma viagem pelo espaço, vista da janela de um foguetão.
Uma Aventura Debaixo da Terra
De Mac Barnett e Jon Klassen (ed. Orfeu Negro)
Jon Klassen é o Buster Keaton da ilustração infantil: bastam-lhe poucos traços e expressões impassíveis para nos fazer rir. Desta vez, e depois da saga dos chapéus e do livro O Escuro, o canadiano dá vida à história de dois amigos que decidem cavar um buraco e só parar quando encontrarem uma coisa especial. Para baixo, para a esquerda, para a direita e para cima, resta-nos acompanhá-los aos ziguezagues debaixo da terra e rir com a sua falta de pontaria.
O Livro sem Bonecos
De B. J. Novak (ed. Presença)
Teoricamente, publicar um livro para crianças sem desenhos é como lançar as obras completas de Mozart sem som. No entanto, é isso mesmo que o escritor e argumentista B. J. Novak faz neste Livro sem Bonecos. Apenas com letras escritas em páginas brancas, o norte-americano leva pais e filhos numa viagem divertida ao desafiá-los a fazer sons estranhos, a cantar músicas para as quais têm de inventar melodias e a dizer alto afirmações como: “eu sou um macaco que aprendeu a ler sozinho”. Ou seja, não estão lá bonecos mas não quer dizer que não se façam figuras.
O Sr. Tigre Torna-se Selvagem
De Peter Brown (ed. Orfeu Negro)
Quem quiser pode ler apenas a história de um tigre, mas é provável que todos os pais que roubem este livro aos filhos leiam uma história sobre todos nós. Ora vejamos: o Sr. Tigre é um tigre que anda sempre engravatado e é sempre sério e educado. Mas um dia a gravata começa a ficar demasiado apertada e ele decide que quer estar à vontade e divertir-se, ou seja: quer ser selvagem e livre. As implicações para esta mudança de vida são várias, sobretudo quando à sua volta todos são sérios e engravatados. Já a ironia é deliciosa, confirmando Peter Brown, autor e ilustrador do também elogiado A Minha Professora é um Monstro!, como um nome a ter debaixo de olho.
O Pato Amarelo e o Gato Riscado
De Manuela Castro Neves e Madalena Matoso (ed. Caminho)
Voltando ao tema das amizades improváveis e da sua relação de amor com a literatura infantil, a história imaginada por Manuela Castro Neves e ilustrada pelo toque sempre irresistível de Madalena Matoso gira à volta de um gato e de um pato que se tornam grandes amigos apesar de serem muito diferentes. Atraídos pela ideia de comprar brinquedos divertidos, os dois perdem-se na floresta e têm de encontrar uma forma de regressar a casa. Uma história para os fãs do tradicional “era uma vez” que serve de elogio à diferença.