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Para estes músicos é preciso cantar Abril "Mais Alto!" e com os miúdos

O concerto Mais Alto! vai pôr mais novos a cantar versões de “música reivindicativa” no LU.CA, até segunda. No domingo é lançado o primeiro disco-livro, gravado nos estúdios louva-a-deus.

João Vaz Silva, Francisca Cortesão e Afonso Cabral, obreiros do projeto Mais Alto! e dos estúdios louva-a-deus
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João Vaz Silva, Francisca Cortesão e Afonso Cabral, obreiros do projeto Mais Alto! e dos estúdios louva-a-deus

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

João Vaz Silva, Francisca Cortesão e Afonso Cabral, obreiros do projeto Mais Alto! e dos estúdios louva-a-deus

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Casa de oração.” Os vestígios dos antigos inquilinos do 214-A da Estrada de Benfica, em Lisboa, uma igreja evangélica, estão logo na entrada do agora estúdio de música louva-a-deus. “Optámos por manter as letras”, conta a artista Francisca Cortesão, a fundadora, ao lado do também músico Afonso Cabral. O nome, louva-a-deus, é igualmente uma homenagem ao passado do espaço perto do Jardim Zoológico que surgiu quase por milagre.

Os dois músicos ficaram sem poiso quando o 15-A, estúdio da editora Pataca Discos, em Xabregas, encerrou, “fruto das mudanças que vão tomando a cidade de Lisboa e tornaram apetecível um sítio que antes era periférico”, explicam no site do louva-a-deus. Acharam que era uma boa altura para terem o seu próprio espaço e souberam que um “estúdio abandonado em Campolide”, o antigo Xangrilá, conhecido pelas dobragens, estava à venda. O negócio acabou por não se concretizar.

Por acaso, descobriram o espaço do agora louva-a-deus, uma cave de um edifício de 1974, transformada em igreja batista com uma enorme sala, uma pia batismal, escritórios e um pequeno terraço no andar de cima. “A história começava ali e vai ser boa”, escreveram no site do louva-a-deus.

O estúdio de música foi inaugurado em dezembro de 2023, mas as obras continuam e ainda há coisas por fazer. Por exemplo, montar o sistema de incêndio ou pintar um enorme louva-a-deus no sítio onde estava a cruz, mesmo à entrada, explica-nos Francisca.

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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ainda assim, as obras não têm atrapalhado os ensaios. Os Minta & The Brook Trout, banda de Francisca Cortesão, costumam ensaiar numa das salas, tal como a banda de Afonso Cabral, os You Can’t Win Charlie Brown. O músico Benjamim, com o produtor Moritz Kerschbaumer, alugam outra sala e também Joana Espadinha ensaia ali.

A ideia do estúdio foi mesmo criar um sítio onde “se possa trabalhar presencialmente em música”, continua Francisca. “As nossas bandas, as bandas amigas das nossas bandas e outras bandas que não têm nada a ver connosco. Correndo o risco de soar pirosa, tenho o sonho de ter um sítio como este desde miúda.”

Apesar dos poucos meses de vida, o estúdio, com Nelson Carvalho como produtor técnico, já gravou o seu primeiro disco. Mais Alto!, que será lançado oficialmente no domingo, 28 de abril, mas que já chegou às plataformas digitais no dia 19, é na verdade, um disco-livro, editado pela Planeta Tangerina, de livros infantis.

Cantar MAIS ALTO!

O projeto começou em 2019 quando Francisca Cortesão foi desafiada por Susana Meneses, programadora do Lu.Ca – Teatro Luís de Camões, em Lisboa, a preparar um concerto para crianças com versões de “música reivindicativa” em vésperas de eleições legislativas. “Não necessariamente música de intervenção, mas um concerto comentado, como muitas vezes se faz nos concertos de música clássica.”

Francisca chamou o baterista Sérgio Nascimento para tocar consigo e também Isabel Minhós Martins, autora e fundadora da Planeta Tangerina, para fazer os comentários dos concertos e a interação com a plateia. “Era um concerto para pensar um bocadinho sobre o que é a política e a democracia, para este público mais jovem, do Teatro LU.CA, através de um repertório de canções já existentes”, continua Francisca. “As canções foram escolhidas pela equipa que se formou nesse momento e, na altura, ficou logo a ideia de se virem a fazer concertos mais tarde.”

Com a pandemia, a série de dez concertos do Mais Alto!, no LU.CA, só aconteceu bem mais tarde, em 2021. À equipa inicial, juntaram-se os músicos Afonso Cabral e Inês Sousa e também João Vaz Silva na narração. Foi nessa altura que receberam o convite do ex-ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, na altura na comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, para que o espetáculo fizesse parte dos festejos e andasse em digressão pelo país.

“Ao longo deste tempo, todo fomos sempre falando na hipótese de fazer um disco ou um disco-livro, porque achámos que fazia sentido transpor esta parte do comentário [dos concertos] para outro meio mais fácil e eficaz”, continua Afonso Cabral.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O processo de gravação do disco foi totalmente diferente do que têm com as outras bandas. “Nas outras bandas em que estamos gravamos as músicas e depois vamos tocá-las ao vivo”, continua Afonso. “Aqui já sabíamos as músicas de trás para a frente porque já tínhamos feito dezenas e dezenas de concertos e foi giro fazer o processo ao contrário.”

A temática das canções escolhidas varia, mas sempre com uma preocupação social. “A democracia, o ambiente, o próprio 25 de Abril, a imigração, os refugiados”, enumera Afonso. “Depois quando chegou a altura do disco-livro foi um pouco ver o que funciona melhor em estúdio e tentar espelhar todas essas temáticas, sem repetir autores.”

No disco-livro estão canções como O Galo É O Dono dos Ovos, de Sérgio Godinho, A Formiga no Carreiro, de José Afonso, Mamãe Natureza, de Rita Lee, Por Terras de França, de José Mário Branco, Dia de São Receber, dos Xutos & Pontapés, ou Arco-Íris, dos Clã, esta última a única de um álbum para crianças, Disco Voador.

Além das letras das canções, o disco-livro inclui a narração de Isabel Minhós Martins e João Vaz Silva com explicações sobre as letras. Por exemplo, como em O Galo É O Dono dos Ovos “a música parece falar de uma capoeira, mas, na verdade, todas estas personagens com penas representam situações de desigualdade e relações de poder injustas”. Ou A Formiga no Carreiro, também com um “código secreto” de animais “para falar de Portugal, porque a canção foi escrita em 1973 e a polícia política não permitia músicas que criticassem o governo”, lê-se.

“Nunca temos um discurso infantilizado, nem ao vivo nem no livro, nem nas canções, que não são escolhas óbvias nesse nível”, explica João Vaz Silva, que ficou feliz, depois de um concerto em Alcochete, quando ouviu um miúdo comentar que era ele quem estava a “dizer as coisas importantes” em palco. “Não estou a dar uma seca aos miúdos, alguma coisa eles aprendem disto.”

Para os miúdos da plateia é sempre “mais entusiasmante” quando vão com a escola do que como os pais, diz João. “Já estão aos gritos. Somos muito bem-recebidos e participam em músicas, mesmo a dizer palavras como ‘septuagenário’ n’A Formiga no Carreiro”, conta. O público mais difícil são os mais velhos, de “16-17 anos”, que demoram a conquistar. No entanto, há surpresas.

Como em São João da Madeira, quando, no fim do concerto, os alunos surpreenderam os músicos e cantaram uma versão ensaiada de Somos Livres, de Ermelinda Duarte, do início ao fim. “Foi meio arrepiante”, descreve João.

O lançamento do disco-livro coincide propositadamente com as comemorações do 25 de Abril. “Para nós foi a altura ideal para finalmente lançar um trabalho que tem tudo a ver com isso desde a génese”, diz Francisca. “Mesmo que não tenha sido formado por causa disso, sempre teve a ver com a democracia, com os direitos e com as liberdades. Faz todo o sentido que saia nesta altura, como faria todo o sentido sair em qualquer altura.” João concorda. “É o cravo em cima do bolo.”

Entre sábado, 27 de abril, e segunda, 29 de abril, o projeto Mais Alto! volta ao LU.CA, ao palco que o viu nascer há 5 anos. No sábado, há duas sessões para famílias, às 16.30 e às 18.30. No domingo também, às 11.30 e às 16.30, com o lançamento do disco-livro às 17.30. Na segunda-feira, há duas sessões especiais para escolas, às 10.30 e às 14.30. Os bilhetes para o concerto têm o preço único de 3€.

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