É uma questão pessoal e, já agora, também é para levar a peito. Uma das maiores tendências do ano consiste em escrever o nome próprio em cachecóis, mochilas ou carteiras e vestir momentaneamente o papel de designer de moda para decidir, por exemplo, como vai querer a sola ou os atacadores dos próximos sapatos a comprar. Parece ser a mais deliciosa das incongruências: numa indústria massificada, onde uma fábrica produz roupa em série para o mundo inteiro vestir, é dada ao consumidor uma arma que se pode resumir numa palavra — personalizar.

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Para acompanhar a carteira PS1 perfurada, a Proenza Schouler lançou uma coleção de alfinetes com o alfabeto. À venda na Net a Porter por 75€ (cada).

A estratégia é antiga — basta pensar na Louis Vuitton ou na Smythson, que permitem aos clientes gravar as iniciais nas suas peças desde o século XIX — mas a novidade está na forma como o conceito foi disseminado e adaptado a todos os preços, provando que o luxo não tem de ser o nome do meio da exclusividade. Um dos melhores exemplos é o de Anya Hindmarch. Depois de apresentar ao mundo as suas malas de quatro dígitos, conhecidas pelos emblemas divertidos, a designer criou uma Sticker Shop com esses mesmos emblemas para comprar avulso e colar em carteiras de mão, cadernos ou no telemóvel. Embora cada patch se aproxime dos 50€, a ideia do “faça você mesmo” mostrou ter tanto potencial e procura que rapidamente surgiram versões acessíveis em lojas como a Stradivarius, a Asos ou a Claire’s.

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Os novos autocolantes em pele de Anya Hindmarch, com os signos do zodíaco em versão “smile”. À venda na Farfetch por 56€.

Mas falar de personalização em 2016 é falar de muito mais do que no regresso dos emblemas, nos porta-chaves para pendurar ou nas velhinhas pulseiras de prata com o nome do bebé mandado gravar na ourivesaria. Depois de a Burberry, a Longchamp ou a Fine & Candy se terem juntado ao clube dos “monogramáveis”, a Undandy mostrou o que são sapatos personalizáveis à portuguesa, a Fendi lançou o “Strap You”, uma opção que permite escolher entres nove alças para as carteiras da marca, e a Furla acaba de apresentar o “My Play Furla”, onde a consumidora pode ter 10 malas a partir de uma única, bastando para isso mudar-lhe a pala com um sistema de molas. “Dá asas à tua criatividade”, diz a marca na campanha. “Você controla a era da informação”, já dizia a Time quando escolheu o “tu” para personalidade do ano em 2006.

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LONDON, ENGLAND - FEBRUARY 17: Model Cara Delevingne walks the runway at the Burberry Prorsum show at London Fashion Week AW14 at Perks Fields, Kensington Gardens on February 17, 2014 in London, England. (Photo by Tim P. Whitby/Getty Images)

Cara (Jocelyn) Delevingne com um poncho personalizado no desfile de outono-inverno 2014 da Burberry. Foto: Getty Images

Uma sensação de controlo e individualidade

“Somos constantemente bombardeados com novidades e promoções”, declarou no final do ano passado a especialista em retalho de moda, Katie Smith, ao jornal britânico The Telegraph. “A customização permite-nos assumir novamente o controlo. É um diferenciador fantástico e uma forma de agradar aos consumidores leais.”

Numa altura em que o “faça você mesmo” não está tão ligado a ideais anticonsumistas como quando surgiu, nos anos 70, mas mais a uma procura de singularidade, gravar as iniciais num saco de viagem ou decidir se os ténis ficam com a sola azul ou branca pode ser o que garante essa diferença e apropriação.

Quando andávamos na escola os autocolantes e cromos no dossier chegavam, agora valham-nos as opções dadas pelas marcas, reunidas em fotogaleria.