Passavam 39 minutos das 20h00 em Portugal quando, há cinco anos, os Estados Unidos eliminavam o seu mais procurado inimigo, o saudita Osama Bin Laden, num raide a um complexo em Abbottabad, no Paquistão. Este domingo, para marcar o aniversário, a CIA decidiu marcar publicamente a data com um relato cronológico da operação no Twitter, que não caiu bem.
É mais que publica e conhecida uma série de erros – no que à Al-Qaeda e ao seu líder diz respeito – daquela que é a principal garante da segurança do território e interesse norte-americano face a ameaças no exterior, mas no aniversário da morte do mentor do atentado terrorista mais sangrento em território norte-americano – a 11 de setembro de 2001 -, a forma escolhida pela agência mais conhecida do mundo para marcar a data não caiu bem.
Na sua página na Internet, a CIA já tinha anunciado que iria relatar, como se do próprio dia se tratasse, a operação que terminou com a morte do líder da Al-Qaeda. Os eventos foram marcados com publicações na rede social Twitter às horas respetivas durante a tarde de domingo, dia que marcou os cinco anos da morte de Bin Laden.
To mark the 5th anniversary of the Usama Bin Ladin operation in Abbottabad we will tweet the raid as if it were happening today.#UBLRaid
— CIA (@CIA) May 1, 2016
Com diagramas do complexo na pequena cidade a norte do Paquistão e fotografias dos responsáveis norte-americanos enquanto estes esperavam pelo resultado da operação, a cronologia foi sendo publicada no Twitter com a hashtag #UBLRaid (raide a Usama Bin Laden). O relato não acrescenta informação ao que já era conhecido, tanto oficialmente como através de inúmeros relatos na imprensa norte-americana, em livros [inclusivamente de um dos membros da equipa das forças especiais que realizou a operação] e mesmo de um filme, com a versão hollywoodesca da perseguição ao mais procurado terrorista no mundo.
Nem todos, como é habitual nas redes sociais, acharam de bom gosto a ideia da CIA, acusando-os de se aproveitar da operação para fazer propaganda de mau gosto.
@CIA @POTUS really? Tweeting the celebration of killing your own operative? #timosman
— Kris C (@krisversuskris) May 2, 2016
https://twitter.com/Hanksingle/status/726830935484698625?ref_src=twsrc%5Etfw
Histórias mal contadas
A história da CIA em relação à Al-Qaeda é marcada do início ao fim por erros e distorção dos factos, que podem ter permitido que a organização liderada por Osama Bin Laden conseguisse levar a cabo os atentados de setembro de 2001 que provocaram a morte a quase três mil pessoas e tornado a comunidade da inteligência norte-americana mais permeável à manipulação dos dados que permitiram à administração de George W. Bush justificar a invasão do Iraque.
Cerca de um ano antes do ataque de 11 de setembro, a CIA tinha conhecimento da entrada no país de dois dos atacantes da chamada célula de Hamburgo da Al-Qaeda, que levou a cabo os ataques. Essa informação, assim como de uma reunião no sudeste asiático entre membros da estrutura superior do grupo terrorista, não foi transmitida ao FBI, que estava a conduzir a sua própria busca por Osama Bin Laden e pelos responsáveis do ataque ao navio de guerra norte-americano USS Cole, no Iémen.
A CIA, que até tinha uma unidade dedicada a Bin Laden desde pelo menos 1996, escondeu do FBI esta informação, que acabou por chegar tarde demais para evitar os atentados. A falha na deteção e prevenção dos atentados, a que se juntou a incapacidade da CIA de eliminar o famoso terrorista nos anos que precederam o ataque apesar de terem treinado uma equipa de afegãos para o efeito, ajudou a descredibilizar a comunidade das secretas nos EUA.
Este foi um dos fatores que impediu que fossem tidos em conta os seus alertas sobre a ausência de provas que Saddam Hussein teria na sua posse armas de destruição massiva, numa altura em que a administração Bush pressionava para avançar com uma ofensiva contra o ditador iraquiano.
O papel da CIA veio a ser manchado mais tarde com o seu papel nos interrogatórios relativos à guerra no Iraque, Afeganistão e no combate ao terrorismo, especialmente na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e em Guantanamo, a prisão norte-americana em Cuba.
Mesmo em relação à forma como aconteceu esta operação que levou à morte de Bin Laden a 1 de maio de 2011, a forma como o diretor da CIA na altura relatou a operação acabou por não se vir a confirmar, especialmente quando este dizia que Osama Bin Laden teria feito uma mulher refém e disparado contra a equipa de forças especiais que atacou o complexo. Uma versão posterior dá conta que Bin Laden terá sido alvejado quando estava sozinho numa divisão do complexo de Abbottabad, por receio dos militares de poder pegar numa arma que estava ao seu alcance.
Features
High walls/barbed wire
Double entry gates
No internet/phone connection
Trash burned not collected#UBLRaid pic.twitter.com/KyPIFPxA4d— CIA (@CIA) May 1, 2016