O fotojornalista Mário Cruz, premiado pelo World Press Photo e pela Estação Imagem, lançou esta terça-feira uma campanha pública de angariação de fundos para o projeto “Talibes Modern Day Slaves”, um livro com a reportagem que fez sobre crianças escravizadas.
O objetivo do projeto do fotojornalista da agência Lusa é publicar um documento que sirva de alerta mundial sobre as falsas escolas corânicas no Senegal, onde milhares de crianças são escravizadas.
“A campanha começa hoje e vai durar um mês. O livro será um documento do que vi, para ser distribuído às autoridades internacionais competentes e também nas escolas e bibliotecas do Senegal e da Guiné-Bissau”, explicou o repórter à Lusa.
Para apoiar esta campanha de angariação de fundos ‘online’ há várias modalidades de contribuição, com valores diferentes, a partir de 25 dólares (cerca de 22 euros), através do endereço https://www.kickstarter.com/projects/2066133663/talibes-modern-day-slaves-a-photo-book-by-mario-cr.
Mário Cruz tomou conhecimento das falsas escolas corânicas em 2009, durante uma reportagem na Guiné-Bissau, onde ouviu casos de crianças que estavam a ser levadas para o Senegal para serem escravizadas por líderes religiosos.
Fez uma pesquisa durante seis meses e tirou uma licença sem vencimento para, durante cerca de dois meses, investigar o que estava a acontecer a estas crianças, no Senegal e na Guiné-Bissau.
“Consegui ter o raro acesso ao mundo criminoso das falsas escolas corânicas, onde mais de 50.000 crianças são escravizadas. Talibé significa estudante, em árabe, mas estas crianças, com idades entre os cinco e os 15 anos, são forçadas a mendigar oito horas por dia para os seus supostos professores corânicos”, relatou.
As fotografias captadas por Mário Cruz, 28 anos, valeram-lhe o primeiro prémio do World Press Photo, na categoria Assuntos Contemporâneos e o Prémio Estação Imagem 2016, mas, antes disso, a Newsweek publicou 20 das suas fotografias da reportagem.
Aceitou o desafio da FotoEvidence – organização internacional que premeia e cria publicações de reportagens sobre injustiças sociais e violações dos direitos humanos – e espera que a concretização do projeto “Talibes Modern Day Slaves” seja “a prova documental que condena o presente destas crianças e defende o seu futuro”.
Mário Cruz disse à Lusa que serão necessários 28 mil dólares (cerca de 25 mil euros), para uma tiragem de mil exemplares do livro, cujo principal objetivo é “criar um documento que alerte para o problema e pressione as autoridades locais e internacionais, a tomar medidas” contra esta escravização das crianças.