A frase
“Nestes momentos de recuperação da população ativa, às vezes a taxa de desemprego pode subir duas décimas, pode estabilizar, pode cair duas décimas mas são sempre flutuações muito pequenas face àquilo que é a tendência longa dos agregados. Eu esperaria que a taxa do desemprego, passada esta fase de arranque em que as pessoas se aproximam do mercado de trabalho, volte a cair”.
Mário Centeno, 11 de maio de 2016
A tese
Mário Centeno desvalorizou, em Berlim, a “flutuação pequena” na taxa de desemprego, que subiu 0,2 pontos percentuais, para 12,4% (depois de já ter subido no trimestre anterior). O ministro das Finanças fala numa “recuperação da população ativa” que influencia a evolução da taxa global (que é calculada em relação à população ativa).
Os factos
A população ativa não está em trajetória de recuperação, ao contrário do que indica Mário Centeno.
População ativa | |
1º trimestre 2016 | 5.153,4 |
4º trimestre 2015 | 5.195,4 |
3º trimestre 2015 | 5.194,1 |
2º trimestre 2015 | 5.201,2 |
1º trimestre 2015 | 5.190,0 |
Fonte: INE
A trajetória neste indicador tem sido volátil. Houve uma pequena subida entre o terceiro trimestre e o quarto trimestre de 2015 (pouco mais de mil pessoas), mas na última leitura — entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016 — houve uma quebra de 42 mil pessoas consideradas pelo INE como “ativas”. E entre o segundo trimestre (de 2015) e o terceiro também tinha havido uma pequena quebra, depois da subida no início desse ano. Conclusão: em relação ao registo que existia há um ano e, também, ao que existia no final de 2015, existe menos população ativa, contrariando o que diz Mário Centeno.
Os resultados do Inquérito ao Emprego relativos ao primeiro trimestre de 2016 indicam que a população ativa, estimada em 5.153,4 mil pessoas, diminuiu 0,8% em relação ao trimestre anterior (42 mil pessoas) e 0,7% em relação ao trimestre homólogo de 2015 (36,6 mil). — (do relatório do INE)
Também o registo a que o INE chama “taxa de atividade”, que define a relação entre a população ativa e a população total, caiu para 58,1% (uma descida de 0,5 pontos percentuais face ao trimestre anterior e 0,4 pontos percentuais em comparação com o período homólogo).
No lado inverso da moeda, a população inativa com 15 e mais anos, estimada em 3,7 milhões de pessoas “aumentou 1,2% face ao trimestre anterior (44,4 mil) e 0,8% face ao trimestre homólogo (28,4 mil)”, acrescenta o INE.
A frase
“Os números [do desemprego] têm um dado interessante. Nós temos, nesses números, um aumento ligeiro do desemprego mas temos, entre emprego criado e emprego destruído, um saldo positivo. Mesmo neste trimestre, há um saldo positivo de cinco mil novos postos de trabalho”.
António Costa, 11 de maio de 2016
A tese
Os números do desemprego foram, também, abordados pelo primeiro-ministro, António Costa, na entrevista que deu à SIC na noite de quarta-feira. Costa também desvalorizou o “ligeiro aumento” da taxa de desemprego. O primeiro-ministro sublinhou que “temos, entre emprego criado e emprego destruído, um saldo positivo. Mesmo neste trimestre há um saldo positivo de cinco mil postos de trabalho criados”.
Os factos
Esta é uma alusão aos dados que o INE preparou sobre os fluxos entre estados no mercado laboral. Segundo o gabinete de estatísticas, entre o último trimestre de 2015 e o primeiro de 2016 houve 121,4 mil pessoas que transitaram de uma situação de emprego para desemprego. Além disso, houve 182,6 mil pessoas que passaram do emprego para a inatividade. No total, passou a haver, portanto, 304 mil pessoas que estavam empregadas e deixaram de estar.
Por outro lado, 126 mil que eram consideradas desempregadas passaram a estar empregadas. E 129,7 mil pessoas eram “inativas” e passaram a estar empregadas. Total: 255,7 mil pessoas.
Em consequência, entre os dois trimestres assistiu-se a um fluxo líquido negativo do emprego (total de entradas menos total de saídas) de 48,2 mil pessoas. Este é o número que importa. O número a que António Costa se referiu é o da diferença entre as pessoas que transitaram de uma situação de emprego para desemprego e as que percorreram o caminho inverso, ignorando as que passaram a uma situação de inatividade.