Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS admitiu ao Observador que o Tratado Orçamental é mais limitador para a ação governativa do PS do que os acordos parlamentares firmados com o Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes. “É o Tratado Orçamental”, porque “o maior constrangimento é saber de que forma a Europa pode mudar depois de uma politica de austeridade”, respondeu. “Temos neste momento um conjunto de crises muito significativas na Europa: financeira, económica e dos refugiados. Enquanto não caminharmos para uma maior integração, que permita ser fiel aos valores da União Europeia, não é possível responder com paliativos”.

A dirigente socialista foi uma das responsáveis por trazer ao congresso socialista Ana Drago e José Pacheco Pereira, para um debate. O historiador chegou a dizer que o PS nem socialista podia ser por causa do mesmo Tratado Orçamental. Ana Catarina Mendes comenta: “A grande inovação deste congresso de convidar pessoas de fora para discutirem connosco é importante. Mas discordo” da afirmação de Pacheco Pereira, afirma. O PS “consegue ser socialista apesar do Tratado Orçamental. Mas tem de lutar por mudar as regras do tratado”.

António Costa fez um discurso a demonstrar que as promessas têm sido cumpridas, mesmo com a geringonça. E Ana Catarina Mendes disse que “contra todas as expectativas a geringonça está cá”. Mas não seria necessário debater também a necessidade de o PS ter maioria absoluta para não precisar da geringonça? “É cedo para discutir como é que o PS vai às próximas legislativas”, disse Ana Catarina Mendes ao Observador. “Tenho consciência de que, nos primeiros momentos, foi difícil para alguns militantes aceitarem esta solução de de Governo. O que é importante é que foi possível sob a liderança do PS firmar estes acordos”, e assim levar a esquerda ao “pragmatismo e realismo”.

O PCP e o Bloco estão mais moderados e o PS situa-se um pouco mais à esquerda. Ana Catarina Mendes assume que ambos fizeram um caminho de aproximação. “É um misto. O PS nunca saiu da sua identidade: é o maior partido da esquerda democrática. O BE e o PCP, ao aceitarem esta solução governativa, estão a dizer que desta maneira evoluíram na leitura que fazem da realidade portuguesa“.

Quanto às autárquicas, Ana Catarina Mendes sabe o que são as disputas mais duras com o PCP, até porque foi presidente da Federação de Setúbal. “Não houve nenhum pacto de não-agressão”, afirma. “O PS tem a sua estratégia autónoma, terá os seus protagonistas e saberá escolher dentro das suas concelhias, ou por primárias ou por vontade de manutenção do seu presidente de câmara. A democracia local é demasiado importante para deixarmos de ter uma estratégia autónoma“.

A estratégia de criar um sistema de senhas para se falar no congresso foi uma “sugestão do presidente do partido porque tem havido a crítica de que se selecionava quem falava e quem não falava”, revelou a dirigente socialista.

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