Paulo Portas vai ser o conselheiro estratégico para a internacionalização da Mota-Engil, noticia o Expresso. O ex-líder do CDS-PP considera que as novas funções não são incompatíveis com os cargos que desempenhou no anterior Governo. A esta nova função juntam-se outras seis: a vice-presidência da Câmara do Comércio, o comentário semanal na TVI (que não será sobre política nacional, mas apenas internacional), a docência universitária, o papel de orador em conferências, colóquios e think tanks internacionais e ainda a formação das novas gerações de quadros no CDS.

Na construtora Mota-Engil Paulo Portas será responsável pelo novo Conselho Internacional da empresa, onde se deverá concentrar no aconselhamento estratégico para a internacionalização daquela que é uma das maiores empresas do país, com 28 mil trabalhadores e uma presença internacional cada vez mais forte.

O ex-líder do CDS junta assim esta nova função ao cargo (não remunerado) de vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal (CCIP). É, aliás, no âmbito da missão da CCIP que Portas se vai estrear já para a semana numa viagem a Cuba, seguindo-se ainda este ano viagens ao Brasil e ao México. A ideia é reunir periodicamente com os responsáveis pelas exportações de várias empresas e aconselhar as empresas a avaliar as oportunidades e riscos.

Portas foi ministro dos Negócios Estrangeiros e depois vice-primeiro-ministro com a pasta da promoção das exportações durante o último governo do PSD/CDS, tendo sido o principal rosto do governo para a diplomacia económica. Na qualidade de governante encabeçou várias missões empresariais da AICEP e do Governo onde a Mota-Engil participou mas, em declarações ao jornal Expresso, o ex-governante nega qualquer incompatibilidade por entender que nunca teve a tutela direta das obras públicas ou do setor da construção.

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A lei das incompatibilidades, que está a ser objeto de uma comissão para a transparência dos titulares de cargos políticos no Parlamento, impõe um período de três anos desde a cessação de funções no Governo para os titulares de cargos políticos poderem voltar a integrar “cargos em empresas privadas que prossigam atividades no setor por eles diretamente tutelado, desde que, no período do respetivo mandato, tenham sido objeto de operações de privatização ou tenham beneficiado de incentivos financeiros ou de sistemas de incentivos e benefícios fiscais de natureza contratual”.

As empresas, tal como a Mota-Engil, que participaram nas missões empresariais promovidas pelo Governo “inscreveram-se através da AICEP” – “não iam a convite meu” -, defendeu Portas ao Expresso. Logo, não há incompatibilidade, diz. “Lutei por eles [Mota-Engil] lá fora como lutei por ‘n’ outras empresas”, acrescentou.

Há meses que o futuro de Paulo Portas depois de deixar a política ativa estava envolto em tabu. Sabe-se que depois do verão vai ter um espaço de comentário na TVI, mas apenas para abordar temas internacionais e não de política nacional. Não se sabe ainda em que moldes vai ser o programa, mas terá data de estreia marcada para setembro. Antes disso, avança também o Expresso, será o enviada da TVI ao Reino Unido para comentar o referendo à permanência na União Europeia, a 23 de junho, assim como vai depois para Madrid comentar as eleições espanholas, que decorrem 26 de junho. Portas poderá também marcar presença nos EUA para as convenções dos democratas e dos republicanos e em Angola para o congresso do MPLA.

A par disto, Portas irá ainda dar aulas na faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa e será orador em várias conferências, colóquios e think tanks. Paulo Portas está, aliás, agenciado numa empresa de agenciamento para este tipo de oradores e conferencistas, chamada Thinking Heads, sediada em Madrid. No âmbito do CDS, que durante muito tempo foi visto como o partido de um homem só, o ex-líder vai manter-se ligado ao partido mas como formador dos novos quadros, a convite da atual presidente Assunção Cristas. Na fase final dos seus 16 anos à frente do partido, Portas sempre se orgulhou de ter conseguido recrutar uma nova geração de quadros centristas que, disse várias vezes, tornou mais fácil a transição para a era pós-Portas.

Depois de, em dezembro, ter anunciado a saída da presidência do CDS, e de se ter despedido da liderança do partido no congresso de abril, Portas fez na semana passada a sua última intervenção como deputado. Deixa oficialmente o Parlamento esta terça-feira, altura em que entrega o pedido de renúncia do mandato. O lugar vago será preenchido no dia seguinte por Filipe Anacoreta Correia, o nome que se segue na lista, que por sinal foi nos últimos anos o seu crítico mais visível dentro do partido.