As freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia, no centro de Lisboa, concentram 8,8% do total nacional da oferta de alojamento local. Isto significa que, num território de 2,6 quilómetros quadrados, existem qualquer coisa como 2.700 apartamentos, quartos ou hostels disponíveis para turistas.

Estes dados são da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), que promoveu esta quarta-feira um encontro com jornalistas com o objetivo de desfazer aquilo que os empresários desta área consideram ser “mitos” associados ao setor. Para Eduardo Martins, diretor da ALEP, os números mostram que “o peso do alojamento local noutras freguesias é quase inexpressivo” e que, portanto, “é preciso ter cuidado” quando se propõem certas análises apenas com base na realidade de Santa Maria Maior e Misericórdia.

Estas duas freguesias nasceram da última reorganização administrativa de Lisboa e são as que concentram as chamadas zonas históricas da cidade: Alfama, Sé, Castelo, Mouraria, Baixa, Chiado, Bairro Alto, Bica e Cais do Sodré. Há vários meses que os presidentes de ambas as juntas vêm alertando para o que dizem ser os efeitos negativos do turismo massificado, como a pressão dos senhorios para que os inquilinos abandonem as casas, a substituição de comércio antigo por lojas de conveniência que estão abertas até muito tarde e a criação de bairros quase exclusivamente ocupados por turistas.

Para Eduardo Miranda, a discussão está a ser manifestamente exagerada. Neste momento, existem 5.114 estabelecimentos de alojamento local registados na cidade de Lisboa. Destes, 4.661 são apartamentos para arrendar e 292 são os chamados estabelecimentos de hospedagem, que incluem quartos, pensões, residenciais e hostels. Ou seja, a capital tem um peso de 17% no total nacional, que atualmente é de 30.308 alojamentos registados. A estes ainda há que somar os apartamentos e quartos que não estão registados e que são arrendados à margem da lei. A ALEP estima que haja mais mil locais nesta situação em Lisboa.

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O responsável pela associação recorre ao passado para rebater as críticas de autarcas e outros lisboetas. Segundo os dados disponibilizados esta quarta-feira pela ALEP, em 2011 havia 30% de apartamentos vazios no centro histórico e, destes, metade estavam a precisar de obras. Por outro lado, disse Eduardo Miranda, entre os Censos de 2001 e 2011, Alfama perdeu 20,5% da população residente. “Quem é que estava aqui para expulsar esta gente? Onde está o bode expiatório agora?”, questionou o dirigente associativo, para quem “a falta de atratividade” destas zonas de Lisboa já tem “décadas” e começou agora a ser revertida, graças ao investimento no imobiliário.

Esse investimento tem sido feito sobretudo por estrangeiros (franceses, brasileiros e chineses) que “valorizam aquilo que nós nunca valorizámos”, disse ainda Eduardo Miranda, considerando que estes investidores “merecem o nosso agradecimento”. O dirigente afirmou igualmente que “é indecente” que os portugueses não valorizem o que os estrangeiros têm feito pela reabilitação urbana em Lisboa.

Além destes aspetos, o dirigente da ALEP fez ainda questão de frisar a importância económica dos alojamentos locais. Segundo um inquérito feito pela própria associação, 25% dos empresários deste setor obtêm 40 a 60% do rendimento mensal através do arrendamento de locais a turistas. Ou seja, esta é uma atividade de autoemprego. Como que para prová-lo, três gerentes de alojamentos locais explicaram na conferência o que os tinha levado a esta atividade. Para dois deles, o arrendamento a turistas foi a solução que encontraram depois de ficarem desempregados ou de terem tido uma quebra significativa nos rendimentos.

Apesar de querer desmistificar o que se diz sobre este assunto, Eduardo Miranda reconhece que há problemas que têm de ser resolvidos. “Não temos a cabeça enterrada na areia”, disse o dirigente da ALEP, para quem “é preciso despolitizar esta conversa” antes de os diferentes agentes se sentarem à mesma mesa. “O que temos visto são simplesmente bandeiras políticas”, mas “ainda há tempo para pensar numa estratégia”, disse.