Patience Carter, 20 anos, conta como sobreviveu ao massacre de Orlando nos instantes imediatamente antes de o atirador ter sido apanhado pela polícia. “Mesmo antes de a polícia furar pelas paredes, ele escondeu-se na casa de banho”, conta.
“Conseguia ver os seus pés a recuar cada vez mais à medida que ouvia a polícia lá fora. A última coisa que ouvi mesmo antes de a polícia dizer “Afastem-se das paredes”, porque iam voltar a rebentar com as paredes, foi: “Ei, tu!” Para alguém que estava no chão, dentro da casa de banho. E disparou. Disparou sobre outra pessoa, e depois sobre outra pessoa que estava imediatamente atrás de mim e que me protegeu com o seu próprio corpo, para ter a certeza de que eu não era atingida. Não sei quem é essa pessoa, não sei o seu nome, mas se de alguma forma alguém estiver a ouvir-me, obrigado. Obrigado por salvar a minha vida. Se não fosse essa pessoa, hoje não estaria aqui”, relata Patience, num vídeo publicado pela CNN.
“Depois desses três tiros — “Ei, tu! Pum, pum, pum” — eles [os polícias] entraram pela parede. “Largue a arma! Largue a arma! Ele não baixou a arma e eles entraram em tiroteio e mataram-no”, continua.
Patience Carter relatou como é que uma noite divertida com as amigas se transformou no “pior dia da sua vida”. Durante uma conferência de imprensa, com sobreviventes do massacre, no Florida Hospital Orlando, leu um poema onde falou da “culpa” que sente por ter sobrevivido. Revelou que chegou a conseguir sair da discoteca com uma das amigas, Akyra Murray, mas que voltaram a entrar juntas para ajudar Tiara Parker, outra amiga com quem tinham saído naquela noite. Foi então que acabaram por ficar encurraladas na casa de banho, “durante horas”.
A certa altura, o atirador perguntou se havia negros na casa de banho. Patience diz que não teve coragem de falar, mas alguém disse “sim”. O homicida respondeu: “Não tenho nenhum problema com negros. Isto é sobre o meu país. Vocês já sofreram o suficiente”, conta a sobrevivente. A amiga de Patience, Akyra Murray, acabou por ser atingida mortalmente.
O veterano de guerra que salvou dezenas de pessoas
“Primeiro houve três ou quatro [tiros]. Foi um choque”, conta Imran Yousuf, 24 anos, ex-combatente no Afeganistão, à CBS News. “Dispararam trtês ou quatro tiros e podia perceber-se que eram de alto calibre”, continua. “Toda a gente congelou. Eu estou cá atrás e vejo as pessoas a começar a acumular-se na parte de trás da entrada, como se fossem sardinhas enlatadas”, recorda.
#ImranYousuf: "Probably over 60, 70 people ran out the door the minute I got it opened..." https://t.co/cHOUJLBKeJ pic.twitter.com/16TMg4sEt1
— Prevent Genocide Org (@PrevGenocide) 15 de junho de 2016
Imran Yousuf sabia que havia uma porta que dava acesso direto para a rua. “Comecei a gritar ‘Abram a porta! Abram a porta!’ E ninguém se mexeu porque estavam assustados”, continua. “Só havia uma escolha. Ou ficávamos todos ali e morríamos todos, ou eu podia arriscar”, garante. Foi isso que fez: abriu a porta e ajudou “provavelmente mais de 60 ou 70 pessoas” a escapar. “Assim que as pessoas descobriram que a porta estava aberta começaram a sair e depois fugimos”, remata.
O sobrevivente que se fingiu de morto
Angel Colon, um dos sobreviventes que participou na conferência de imprensa no Florida Hospital Orlando, conta como se fingiu de morto para sobreviver. Foi atingido em três sítios. Numa das vezes, o homicida tinha apontado à sua cabeça.
“Tínhamos estado a beber uns copos. Estava a despedir-me [dos meus amigos], a dar abraços e a dizer adeus. Tinha sido uma grande noite, sem dramas, só com risota. Estava a despedir-me da última rapariga, e de repente só ouvimos um grande estrondo”, conta. “Parámos o que estávamos a fazer e aquilo continua. Agarrámo-nos uns aos outros e começámos a correr. Infelizmente, eu fui atingido três vezes na perna e por isso caí. Tentei levantar-me novamente mas todos começaram a correr para todo o lado e fui atropelado”, conta o sobrevivente, num vídeo publicado pela BBC.
Angel Colon percebe que não consegue correr e que a única opção que tem é ficar deitado no chão, enquanto lhe passam por cima. “Só conseguia ouvir os tiros, um atrás do outro e as pessoas a gritar”, recorda.
O atirador dirige-se a outra sala e Colon pensa que está “um pouco mais a salvo”. Mas foi por pouco tempo. “Infelizmente, ouço-o regressar. Dispara sobre pessoas que já estão mortas no chão só para se certificar que estão mesmo mortas. Consegui espreitar e vi-o a disparar sobre toda a gente. Conseguia ouvir os tiros a aproximar-se de mim, espreitei e ele dispara para a rapariga ao meu lado. E eu estou ali deitado no chão, a pensar, “sou o próximo, estou morto”. Não sei como, mas graças a Deus ele atira para a minha cabeça mas de algum modo atinge-me na mão. Atira outra vez e atinge-me na anca. Não tive reação, estava preparado para apenas ficar ali, deitado, para que ele não soubesse que estou vivo. E ele continua naquilo durante mais cinco ou dez minutos, a disparar para todo o lado.”
Angel é encontrado por um polícia, que se certifica de que está vivo e o arrasta até à rua.