Medir o valor económico de determinadas medidas públicas como a saúde ou a educação, através não só do que custam ao erário público, mas também do seu impacto direto na vida dos cidadãos, é mais fácil do que avaliar o investimento num museu, numa peça de teatro ou num festival internacional de artes. No entanto, a aposta na cultura deixa não só o caminho aberto para um desenvolvimento mais sustentável, maior coesão social e maior valor acrescentado na economia local, como mostram os casos de Manchester, Estrasburgo, Lisboa ou Castelo de Vide.

A galeria de Whitworth, em Manchester, tem mais de 125 anos de história, mas no final dos anos 90 a falta de investimento na cultura da cidade fez com que a zona onde está instalado o museu e um dos parques da cidade se tenha tornado pouco atrativo para o público em geral. Uma renovação em 2011 fez com que tudo mudasse e, em 2015, este museu recebeu a distinção de Museu do Ano pelo Artfund. A história deste museu foi contada na tarde de segunda-feira por Jo Beggs, diretora para o Desenvolvimento dos Museus de Manchester, na conferência Uma Esperança para a Europa! Cultura, Cidades e Novas Narrativas que decorre em Bruxelas e é promovida pelo Conselho Económico e Social Europeu. Agora, e depois de uma renovação de 15 milhões de libras, o museu atrai muitos mais visitantes e à sua volta. A zona mudou, abrindo novos restaurantes, escritórios e áreas residenciais. “Os esforços ajudaram na regeneração daquela zona. Quem quereria viver numa cidade sem arte?”, questionou Breggs.

Este argumento foi apoiado por Bernd Fesel, diretor da European Creative Business Network e também presente nesta conferência. Apesar de admitir que não é fácil medir o impacto económico da cultura numa cidade porque as metodologias de investigação não estão adaptadas a este campo, Fesel afirmou que “um museu pode contribuir muito mais para uma cidade do que uma empresa que vende carros ou outra empresa“, afirmando que um dos melhores modelos de como a cultura pode ter impacto na economia das cidades se encontra em Amesterdão.

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No caso de Portugal, a Câmara Municipal de Lisboa referiu ao Observador que “a experiência de outras cidades permite avaliar opções e ações e servem, sempre, de referência para a estratégia a definir”, mas que cada cidade é uma cidade. O município apresenta como principais fatores distintivos “o clima e os 200 e muitos dias de sol que oferece”, “a proximidade com o rio e com o mar”, a possibilidade de a cidade “ser percorrida a pé com alguma facilidade” e ainda ter muito perto outros pontos de atração como Sinta ou Cascais. E tudo isto promove retorno. “A realização de eventos internacionais sejam de foro cultural, sejam de outra natureza, tem benefícios e retorno identificáveis: a inscrição da cidade em redes internacionais, a vinda a Lisboa de especialistas e de líderes em diversos circuitos, a constituição de uma oferta (cultural) rica e atraente para cidadãos e visitantes. A escolha da cidade para ancorar projetos internacionais (festivais ou outros) e os públicos que estes captam traduz-se de facto em termos económicos nos vários serviços que com esta realidade se cruzam (alojamento, alimentação, transportes)”, respondeu o gabinete de comunicação da Câmara de Lisboa.

Na conferência em Bruxelas, outra cidade portuguesa partilhou a sua experiência. Carolino Tapadejo, antigo presidente da Câmara de Castelo de Vide, afirmou que aprofundar o conhecimento do seu município sobre a história dos judeus que para lá foram viver depois de serem expulsos de Espanha no século XIV, não só deu uma nova identidade aos habitantes da região, como promoveu o turismo religioso, tornando Castelo de Vide uma “referência para comunidades judaicas em todo o mundo”. O antigo autarca referiu ainda que o investimento na cidade não partiu apenas do setor público, mas que os privados, nomeadamente a indústria da água natural também soube aproveitar esta onda de promoção cultural.

Já em Estrasburgo, a associação Apollonia – Echanges Artistiques Européens (ou intercâmbios artísticos europeus) quer os artistas no mesmo pé de igualdade de arquitetos ou engenheiros quando se trata de desenhar cidades. Deu o exemplo de duas residências de artistas na cidade que geraram alguns postos de trabalho para artistas mais jovens. “É ótimo, numa altura em que há tantos jovens desempregados por toda a Europa, se conseguirmos criar um único emprego. A nossa ideia agora é revitalizar todo um quarteirão através da intervenção artística“, explicou Dimitri Konstantinidis, diretor da Apollonia.