O Presidente da República enalteceu o legado político do general Ramalho Eanes na institucionalização da democracia em Portugal, dizendo que o primeiro Presidente em democracia teve a missão histórica de “aplanar confrontos e de estabelecer pontes”.

“Aquelas semanas de campanha não haviam sido simples. A revolução continuava naturalmente presente na Constituição e no arranque da sua vigência. Vossa Excelência teve nesse contexto a missão histórica de abrir caminhos, de aplanar confrontos, de estabelecer pontes e o veredicto popular foi eloquente”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República discursava na Fundação Calouste Gulbenkian, numa sessão evocativa dos 40 anos das eleições presidenciais de 1976, que deram a vitória a António Ramalho Eanes com 61,4% dos votos.

Marcelo Rebelo de Sousa, que acompanhou há 40 anos a campanha presidencial como subdiretor do semanário Expresso, disse hoje reter lições da forma como Ramalho Eanes exerceu o mandato.

A primeira das quais, disse, é a lição sobre “o papel crucial do Presidente da República em clima de radicalização de posições e de atitudes, corporizando o máximo denominador comum em torno dos valores nacionais” e “resistindo a substituir-se ou a imiscuir-se em outros órgãos de soberania ou instâncias do poder”.

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Outra lição, sublinhou, “é que ignorar ou minimizar as Forças Armadas por ação ou omissão das Forças Armadas é não apreender uma componente essencial da identidade pátria”, além de “não perceber os desafios da segurança global” da atualidade.

A persistência das “linhas de política externa não sujeitas a impulsos ou estados de alma conjunturais”, entre as quais a “fidelidade à Aliança Atlântica e o persistente rumo de integração europeia” são outras “lições” que Marcelo Rebelo de Sousa disse reter do legado de Ramalho Eanes que, frisou, foi enriquecido pelos seus sucessores.

No final da evocação, que contou também com uma intervenção do ex-reitor da Universidade Católica Manuel Braga da Cruz, Marcelo Rebelo de Sousa entregou a Ramalho Eanes o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, que o ex-Presidente da República agradeceu como uma “generosidade excessiva”.

Os ex-presidentes da República, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, o presidente da Associação 25 de Abril, e ex-conselheiro da Revolução Vasco Lourenço, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, a líder do CDS-PP Assunção Cristas, os presidentes dos tribunais superiores, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, compareceram à evocação.

O candidato presidencial que ficou em segundo lugar na corrida presidencial de 1976, Otelo Saraiva de Carvalho, também marcou presença.

Após a cerimónia evocativa, o Presidente da República visitou, com Ramalho Eanes ao lado, uma exposição sobre as primeiras eleições presidenciais, que reúne cartazes da campanha eleitoral e jornais da época, entre os quais o semanário Expresso do qual Marcelo Rebelo de Sousa era, há 40 anos, subdiretor.

Durante a visita à exposição, deu-se um reencontro entre Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes: “Então António, estou aqui há tanto tempo e ninguém me liga”, disse Otelo, ao mesmo tempo que se abraçava de forma emocionada a Ramalho Eanes, que retribuiu com a mesma emoção.