O secretário-geral do PCP fez este sábado duras acusações a responsáveis de instituições europeias, comparando-os aos “cavaleiros do apocalipse” e acusando-os de chantagearem Portugal. Jerónimo de Sousa exige uma conferência intergovernamental para aprovar a reversibilidade dos tratados europeus.
“Só poderemos andar de coluna direita quando rompermos com os constrangimentos que nos impõe esta União Europeia”, concluiu Jerónimo de Sousa no final de um discurso que encerrou uma conferência do PCP sobre políticas culturais na Casa do Alentejo, em Lisboa.
No atual quadro da União Europeia, Jerónimo de Sousa defendeu que seja convocada com urgência “uma cimeira intergovernamental com o objetivo da consagração institucional da reversibilidade dos tratados, da suspensão imediata e revogação do Tratado Orçamental, bem como da revogação do Tratado de Lisboa”.
“Hoje está cada vez mais claro que dentro do Euro, Portugal fica amarrado à estagnação e à recessão, ao desaproveitamento das suas potencialidades, ao subdesenvolvimento, ao empobrecimento, à dependência e à submissão nacional”, sustentou.
Na parte final de uma intervenção dominada pelas questões da cultura, o líder dos comunistas referiu-se de forma crítica às “abusivas e inaceitáveis ingerências” no rumo do país por parte de responsáveis europeus, dizendo que “há meses que estes pressionam, intrigam, manipulam e ameaçam face a qualquer medida que represente uma reversão de políticas de exploração das quais foram coautores”.
“Como o presidente do BCE (Banco Central Europeu) [Mário Draghi], chega-se ao ponto de questionar a Constituição da República portuguesa. Tratam Portugal como se fosse uma colónia”, disse.
Mas Jerónimo de Sousa visou também recentes declarações proferidas pelo responsável do Fundo Monetário Internacional, Subir Lall, pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, e pelo vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, sobre ameaça de um segundo resgate ou sobre o congelamento de fundos comunitários.
Episódios que, de acordo com o líder comunista, traduziram “a natureza de classe da União Europeia” e até deixaram a ideia de que “convocaram os cavaleiros do apocalipse contra um povo e um país”.
“No tempo da ocupação pelas hostes do Império, os ocupantes colocavam os ocupados perante um tronco a meio metro do solo, obrigando os chefes vencidos da região a passar rastejante perante o seu povo. Hoje não se usa o tronco, mas o défice, o euro e os tratados com vista à chantagem sobre o nosso povo”, disse.
Na perspetiva de Jerónimo de Sousa, os recentes resultados do referendo no Reino Unido demonstraram a existência crescente de elementos de “desagregação” na União Europeia.
“A vitória pela saída do Reino Unido, num referendo realizado num quadro de gigantesca e inaceitáveis pressões por parte dos grandes grupos económicos e do capital financeiro, constitui um elemento de enorme importância política para os povos da Europa. Uma decisão que é uma vitória sobre o medo, sobre as inevitabilidades, sobre a submissão e o catastrofismo”, defendeu Jerónimo de Sousa.
O líder comunista disse reconhecer “múltiplas motivações que estiveram presentes na convocação deste referendo, algumas manifestamente de caráter reacionário e xenófobo que o PCP decididamente combate e repudia”.
“Mas, no que respeita a essa preocupação com os emigrantes, alguns já se esqueceram que a União Europeia e a Grã-Bretanha fizeram um acordo do mais xenófobo em relação aos emigrantes – um acordo que, felizmente, não entrou em vigor face ao resultado do referendo e tudo se desmanchou?”, apontou Jerónimo de Sousa.
O resultado do referendo britânico, em suma, na perspetiva de Jerónimo de Sousa, constitui “uma oportunidade para se enfrentarem e resolverem os reais problemas dos povos, questionando todo o processo de integração capitalista da União Europeia e abrindo um novo e diferente caminho de cooperação baseado em Estados soberanos e iguais em direitos”.