Não era um bem-amado, antes ou durante o Euro. Nunca o foi na Seleção. Éder começou por dar nas vistas na Académica, da Coimbra onde cresceu num lar e se fez futebolista; deu mais nas vistas ainda em Braga, no Sporting local; chegou à Seleção a custo de golos, mas estes desapareceram, pouco a pouco. Culpe-se uma lesão e, por causa desta, culpe-se também a falta de motivação — mas nunca de empenho. Éder é, desde criança, um exemplo de superação e luta.
A vida de Éder, contudo, haveria de mudar. E mudou quando procurou Susana Torres. Susana é bancária de profissão e voltou-se para o desporto “por acaso”, como mental coach, ou seja, como uma motivadora de atletas, individualmente ou em clubes, e também de treinadores. Não é coisa rara, um “motivador” no futebol. Jorge Jesus tinha um no Benfica, Evandro Mota, e quando se mudou da Luz para Alvalade, levou-o com ele.
No final do jogo contra a França, onde Éder marcou o golo que deu a Portugal o título no Europeu, o nove da Seleção disse, emocionado: “Foi um golo trabalhado desde o primeiro minuto do Europeu. Quero dedicar o golo à Susana Torres, a minha coach de alta performance. Vocês têm de a conhecer!” Mas quem é Susana, afinal? Dela, sabe-se pouco, pois o trabalho que faz é sobretudo nos bastidores do futebol e não à vista de todos. Mas sabe-se que é dela a empresa Primeline Coaching. E sabe-se também, de uma entrevista que deu em tempos ao site The Miracle Coach, que foi Éder o primeiro atleta com quem trabalhou — e que, por ele, deixou o trabalho na banca e apostou no desporto.
“Tudo aconteceu por acaso e com um jogador de futebol. Este jogador, que na altura colocava em causa a sua carreira desportiva, comentou comigo o seu sonho de criança e acabámos por lançar um desafio um ao outro: ele transformava o seu sonho num objetivo a seis meses, e eu dar-lhe-ia todas as ferramentas que possuía para o ajudar a conquistar esse objetivo”, explicou Susana Torres, para depois acrescentar: “Foram seis meses de trabalho intensivo e, no fim, o jogador rumou a uma das ligas mais exigentes do mundo.” O jogador é Éder, pois claro. E o clube é o Swansea, da Premier League.
A primeira metade da época 2015/2016 não correu bem a Éder no clube do País de Gales. Pouco ou nada jogou e golos, nem vê-los. Acabaria por se transferir para França, por empréstimo. E os golos regressaram, tanto que o Lille o contratou em definitivo no final da temporada. Mais importante do que isso: Fernando Santos convocou-o (em boa hora, sabemos hoje) para o Euro.
Mas voltemos a Susana Torres. O trabalho da coach de Éder não terminou com a ida para o Swansea. Continuou, depois, em França, primeiro no Lille e depois no Europeu. E estava lá, Susana, na final do Europeu, depois de Éder ter marcado o golo da vitória, a festejar com ele no relvado. O segredo? Susana Torres explica-o ao The Miracle Coach: “O meu papel junto dos atletas visa o desenvolvimento da sua performance desportiva.” E, para aí chegar, é fundamental “saber gerir a adversidade, a frustração, a desmotivação e a ausência de resultados”, mais até do que ter ou não “qualidades técnicas ou tácticas”.
Éder soube gerir tudo com Susana. E as qualidades fizeram-se ver em Paris. Referindo-se a Éder, Susana confidencia na mesma entrevista o que este lhe disse um dia: “As pessoas podem desistir de mim, mas há uma que eu sei que nunca vai desistir: eu próprio”. Hoje, ninguém mais desistirá dele. Nunca.