Estava a jantar em casa de um casal amigo com vista privilegiada para o fogo de artifício habitual nas comemorações do 14 de julho em Nice, França, quando o telefone tocou. Eram os filhos dos donos da casa a dizer que “algo tinha acontecido” e que se encontravam “refugiados numa casa”, conta ao Observador. Quando o vereador da câmara de Nice de origem portuguesa, Lauriano Azinheirinha, chegou ao local diz que o cenário que encontrou era “indescritível”. “Havia corpos no chão, pessoas com medo e muitos à procura dos filhos e dos amigos”.

Lauriano Azinheirinha ainda passou alguns momentos à procura dos filhos de um outro casal que estava também a jantar consigo. “Não sei se por sorte ou azar, os meus filhos — ele de 23 anos e ela de 16 — estavam cansados e nessa noite quiseram ficar em casa, longe das comemorações”, conta ao Observador. De seguida, o vereador para a Educação e Juventude de Nice juntou-se aos colegas da autarquia e criaram um gabinete de crise. Disponibilizaram uma sala na câmara para quem andasse à procura de familiares ou amigos. E fizeram aquilo que é da sua competência: supervisionaram as câmaras de vigilância da cidade para dar conta do que viam às autoridades.

“Ainda há pessoas à procura dos filhos e de família”, diz o autarca, catorze horas depois do atentado.

O vereador diz que ainda não teve acesso a qualquer lista oficial das vítimas. Sabe que há alemães e americanos entre elas. “Normalmente no 14 de julho há o desfilar das tropas, um concerto e um baile que dura a noite toda. Um evento que atrai não só franceses, mas também turistas”, afirma. Ainda assim, vai sabendo de forma oficiosa do nome de uma ou outra vítima que conhecia – como a cozinheira de uma escola do município que morreu com os dois netos. Quanto portugueses, não tem qualquer informação.

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Os eventos na cidade foram todos cancelados. Tanto um concerto marcado para esta sexta-feira como um festival de jazz que ia ocorrer durante os próximos dez dias. “Como foram declarados três dias de luto nacional, decidimos também fechar todos os estabelecimentos públicos”, disse.

Lauriano Azinheirinha é filho de pais portugueses, nascidos em Évora, no Alentejo, mas já nasceu em França. Ainda assim diz ter uma grande ligação à comunidade portuguesa, para quem é “uma grande honra” ele ser de origem lusitana. Segundo ele, vivem dez mil portugueses em Nice, 20 mil nos Alpes Marítimos e 80 mil na região da Costa Azul.

Para o vereador, Nice foi a cidade escolhida como podia ter sido qualquer outra. “Este terrorismo é cego, nunca sabemos onde vai, qual a cidade. Aqui o ataque foi ao simbolismo do 14 de julho, que é a festa da República”, diz.

Entretanto foram disponibilizados dois números de telefone para dar e receber qualquer tipo de informação, são eles: 0033 149 372 222 e o 0033 143 175 646.