Desde 1955. São 61 anos de participações olímpicas sem uma única medalha para as ilhas Fiji. E claro que o ouro chegou pelas mãos do desporto rei no país: o râguebi.
E não foi por pouco que se fez a festa. Foram uns incríveis 43-7 que sagraram a equipa de râguebi de sete campeã, frente aos britânicos. A história também fez com que a vitória tivesse um gosto (ainda mais) especial, já que as Ilhas Fiji foram colonizadas pela Grã-Bretanha. Foi o grito do Ipiranga do colonizado que chegou 46 anos depois da independência.
Com todo este contexto, não é de estranhar que o feito tenha levado os fijianos, espalhados pelas 110 ilhas habitadas do país, ao êxtase. Tanto que os foguetes chegaram a ser atirados antes da festa (literalmente). Ao intervalo a equipa já ganhava por 29-0 e pelas ilhas já ecoavam as primeiras explosões de pirotécnicos e as primeiras buzinadelas que celebravam a provável vitória, que se veio mesmo a confirmar, conta o El País.
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O primeiro-ministro do país, Voreqe Bainimarama, que assistiu ao jogo no estádio de Deodoro, no Rio de Janeiro, afirmou que “nunca chegamos tão alto como país” e decretou feriado nacional para 22 de agosto, o dia em que os campeões regressam ao país.
O râguebi é um desporto muito importante nas Fiji e o país já tinha mostrado a sua qualidade no Campeonato do Mundo, em que se sagraram campeões de râguebi de sete por duas vezes. E a modalidade voltou brilhar.
A prestação foi muito elogiada pelo esforço coletivo, já que cada um dos sete jogadores contribuiu com pelo menos um ensaio para o jogo. Foi uma verdadeira demonstração de trabalho de equipa.
A história desta vitória olímpica, a primeira para o arquipélago com pouco mais de 900.000 habitantes, não pode ser dissociada da equipa que a tornou possível.
Ao contrário do que acontece com a esmagadora maioria das equipas, os jogadores medalhados têm que conciliar os treinos com outros trabalhos que desenvolvem a tempo inteiro. Alguns são carcereiros, outros cortadores de canas e há até ascensoristas em hotéis de luxo, explica a BBC Mundo. O próprio treinador da equipa viu-se privado de ordenado. O britânico Ben Ryan assumiu a liderança da equipa em 2013 e não recebeu vencimento durante os primeiros cinco meses de trabalho. Conta ainda que a federação desportiva do país não tinha sequer dinheiro para a gasolina do autocarro que transportava os jogadores para os treinos.
Alguns membros da equipa foram também afetados pelo ciclone que devastou a ilha em fevereiro, em que morreram 44 pessoas e 40.000 casas ficaram destruídas.
Ainda assim, a população sempre se virou para o râguebi para ultrapassar as adversidades. O capitão da equipa, Osea Kolinisau, resumiu bem esse espírito quando disse “aprendemos a jogar com paixão e a minha geração foi recompensada com a oportunidade de fazer história nos Jogos Olímpicos”.