O jornal venezuelano El Nacional homenageia na edição deste domingo Alfama e o fado português, dedicando a Portugal a capa do suplemento de “viagens e turismo” com um amplo trabalho titulado “Alfama – a essência musical de Lisboa”.
“A capital portuguesa tem neste bairro alguns dos melhores exponentes do fado, património imaterial da humanidade”, começa por explicar aquele que é um dos principais jornais da Venezuela.
O jornal faz um retrato de Alfama, “um dos bairros mais tradicionais da capital lusa”, explicando que nele, além do Clube de Fado, se encontram “meia centena de restaurantes ou cantinas onde se pode ouvir grandes expoentes e outros menos conhecidos, deste estilo musical tão caraterístico de Portugal”.
“Alfama é também o título de um dos fados mais reconhecidos de Amália Rodrigues, a grande embaixadora da música portuguesa e cuja presença se respira em todas as casas de fado de Lisboa, apesar da cantora e atriz ter morrido em 1999”, explica o El Nacional, que publica uma pequena entrevista com Cristiana Águas, que diz ser “conhecida em Portugal por dar voz à legendária cantora (Amália Rodrigues) no filme que narra a sua vida”.
Segundo o jornal, “o bairro de Alfama exibe-se sobre uma das sete colinas que formam a cidade de Lisboa (…) configurando-se desordenado desde o castelo de São Jorge, até baixar ao rio Tejo”.
“Parte no miradouro de Santa Luzia e vai-se descascando numa sinuosa sucessão de ruas estreitas, pendentes pavimentadas e construções com fachadas de azulejos. No percurso abundam pormenores domésticos que viraram um postal: balcões com roupa estendida, mulheres conversando nos umbrais das casas, gatos nas janelas e vasos com flores, rosas ou buganvílias”, explica.
No entanto sublinha que há alguns hotéis boutique para quem deseje viver a experiência de bairro e muitas tabernas de todo tipo, incluindo pequenos bares e restaurantes típicos onde o bacalhau é preparado de mil formas.
“No meio deste postal de Alfama está o outro grande ‘residente’ da cidade, o fado. A música do ‘destino’, cujo nome deriva do latim ‘fatum’ e de nostalgia. Dizem que em Alfama pode-se encontrar mais de cinquenta lugares onde ouvir fado, mas os dados não são claros, nem definitivos. Tampouco são muito necessários. O certo é que hoje a chamada Rota do Fado de Lisboa, um conceito turístico que cada vez interessa mais aos estrangeiros, tem o seu epicentro em Alfama”, afirma.
Segundo o El Nacional, noutros setores de Lisboa existem também salões dedicados ao fado, mas “é neste bairro onde se experimenta a verdadeira essência do seu canto e os espetáculos, especialmente nos seus restaurantes, grandes e pequenos, onde se pode ver o ritual no seu estado puro”.
“Fadistas que cantam em frente do público, que desde as suas mesas, enquanto bebe vinho e come, os observa em silêncio. A regra geral é que as casas de fado só abrem à noite. Durante uma jornada podem atuar vários fadistas que se intercalam em apresentações de meia hora cada, geralmente com um cenário simples, mas dramático: luz muito baixa, os homens usam roupas escuras e as mulheres, um vestido longo e xale negro. Como acompanhamento a guitarra portuguesa, a guitarra tradicional e um contrabaixo”, explica.
O jornal completa a homenagem precisando que “Alfama já era uma zona habitada na época visigoda. Por aí passaram os romanos e por isso na rua da Saudade estão as ruínas de um dos seus tradicionais circos”.
“Foi na época do domínio dos muçulmanos sobre a cidade (Lisboa), que o bairro começou a perfilar-se com rasgos próprios (…) Depois da recuperação da cidade, pelo primeiro rei de Portugal, Afonso I, construíram-se as primeiras igrejas católicas no setor: a Catedral de Lisboa é a mais antiga da capital”, conclui.