Estávamos em meados de junho quando o príncipe William foi filmado a levar um ralhete da avó, a rainha de Inglaterra. “Levanta-te, William!”, ordenou Isabel II quando viu que William estava ajoelhado junto do pequeno George, de apenas três anos, na varanda do palácio de Buckingham — a família estava então reunida para assistir às cerimónias oficiais que marcaram os 90 anos da monarca. O vídeo tornou-se viral pela reação hilariante de William e tirou protagonismo ao método que o pai de dois estava a empregar.
Esta não foi a primeira vez — e muito provavelmente não será a última — que o príncipe de 34 anos foi visto agachado junto do filho enquanto conversava com ele. O mesmo aconteceu no batizado de Charlotte, que completou um ano de vida em maio, e também na companhia do ainda presidente dos EUA, Barack Obama. Parece que o William é fã do método da escuta ativa, tal como explica o jornal espanhol El País.
De novo o conceito tem muito pouco. Foi referenciado pela primeira vez em 1957 pelos psicólogos americanos Carl Rogers e Richard E. Farson, mas nem por isso perde a atualidade. O termo, que o El País garante ser um método, consiste tão simplesmente numa forma respeitosa de tratar as crianças. É, nas palavras da psicóloga Leticia Garcés Larrea, “uma forma de comunicação entre os membros da família que vai permitir criar empatia”, sendo que isso pressupõem falar com os mais novos estando ao nível deles.
À partida esta pode parecer uma ideia básica, mas nem por isso praticada com frequência. “A comunicação também pressupõe a escuta. Nós não aprendemos a escutar. Sabemos escutar para dar opinião e para contrapor. Muitas vezes estamos a comunicar na defensiva, sobretudo com os miúdos“, começa por dizer Magda Gomes Dias ao Observador, ela que é formadora em áreas comportamentais e comunicacionais, além de certificada em Inteligência Emocional, Educação Positiva e Coaching.
A também autora do livro “Crianças Felizes” dá um exemplo prático: quando um filho diz “quero comer agora a sobremesa”, a resposta mais óbvia poderá ser algo como “não podes comer agora, só no fim da refeição”. Perante isto, é provável que a criança volte a insistir, promovendo, assim, um diálogo de surdos. “A escuta ativa é perceber o que a criança nos está a dizer. Neste caso seria responder algo como ‘Estás cheio de vontade de comer a sobremesa agora, não estás? Tens tanta vontade!’.” Defende a especialista que tudo melhora quando a criança sente que foi ouvida e percebida.
Ouvir é involuntário. Ouvimos os pássaros ou as pessoas a falar na rua, mas não estamos a escutar. A escuta implica vontade, é o prestar atenção às pessoas”, disse ao Observador a locutora Carla Rocha.
Segundo Magda Gomes Dias, a escuta ativa faz com que uma criança se sinta mais reconhecida, no sentido em que sabe que o seu desejo foi escutado, independentemente de ter levado ou não a sua avante. “Os pais têm medo de fazer escuta ativa com medo de terem, também, de ceder”, diz, afirmando que recomenda com frequência que os pais se baixem e falem ao nível dos olhos das crianças. “Quando estamos ao nível delas temos pontos em comum.”
Consultada pelo El País, a psicóloga e psicoterapeuta Isabel Fuster explica ainda que até aos 12 anos as crianças estão num mundo sensorial e percetivo muito diferente do nosso, isto é, os pequenos têm dificuldade em entender a realidade dos adultos. Sendo o principal meio de comunicação o discurso falado, a prova mais evidente de que estamos a ouvir os mais novos é garantir o contacto visual e, para isso, é necessário colocarmo-nos ao nível dos seus olhos, o que também ajuda a transmitir calma e serenidade. Diz o jornal que “ouvir é saber o que a criança sente, não só o que ela diz”.
Acrescente-se que já antes a mediadora familiar Margarida Vieitez referira ao Observador que “pais e filhos estão em permanente aprendizagem”, pelo que a escuta ativa nunca deixa de perder importância.