Duas equipas independentes de análise de estatísticas descobriram discrepâncias nos resultados das provas de natação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. De acordo com os relatórios da Universidade do Indiana e da Universidade de Eastern Michigan, os corredores mais exteriores da piscina (aqueles que estão junto às paredes) tendem a nadar mais depressa num sentido do que noutro, como se houvesse “uma força estranha que parece interferir com a competição”. As discrepâncias são tão grandes que podem colocar em causa algumas das medalhas que foram entregues este ano no Brasil.
Esta não é a primeira vez que este fenómeno é observado e ninguém o consegue explicar. Em 2013, durante o Campeonato Mundial de Natação em Barcelona, a Universidade do Indiana detetou exatamente a mesma discrepância nos resultados, mas não pode analisar a estrutura da piscina porque ela encerrou logo a seguir ao evento. Comparando as prestações de vários nadadores nas viagens que fazem pela piscina durante as provas de 800 metros e de 1500 metros, os investigadores conseguiram representar cada um dos atletas com um círculo cinzento. Depois organizaram-nos.
Se a piscina oferecesse condições perfeitamente iguais a todos os nadadores todos os pontos cinzentos estariam próximos da linha dos “zero segundos”, o que significaria que não houve diferença significativa entre a prestação para um sentido e para o outro. Mas isso só acontece nos corredores do meio da piscina: todos os outros estão muito acima ou muito abaixo dela. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, os atletas nas pistas um a três foram mais rápidos na partida do que no regresso, enquanto o oposto foi observado nas linhas seis a oito. Os dados tornam-se ainda mais consistentes se compararmos a prestação de um só atleta em mais do que uma pista. Quando o norueguês Henrik Christiansen nadou na pista dois na corrida dos 1500 metros foi 0,28 segundos mais rápido na partida do que no regresso, mas quando nadou na pista oito foi mais rápido no regresso do que na partida.
Nas corridas em que os atletas têm de partir e regressar, as condições estão de certa forma equilibradas: se num sentido tendem a ser mais lentos, podem compensar na segunda parte da corrida. Mas um padrão deste género é particularmente preocupante nas corridas mais curtas (como as de 50 metros, estilo livre), onde os atletas só nadam num sentido. Barry Revzin, um analista de dados do MIT, aproveitou o facto de os atletas não usarem sempre a mesma pista para tirar as suas conclusões.
Descobriu que os nadadores tendiam a ser mais rápidos nas pistas com um número mais alto e mais lentos nas pistas com um número mais baixo. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mudar a posição de um atleta em duas pistas para a direita podia dar-lhe uma vantagem de 1 centímetro por segundo na velocidade, ou seja, uma diferença de um décimo de segundo. Um valor que podia ter mudado tudo, visto que os três nadadores que chegaram ao pódio estavam separados uns dos outros por menos do que um décimo de segundo.