As autoridades aeronáuticas moçambicanas exibiram à Lusa três peças encontradas ao largo de Moçambique, que podem estar relacionadas com o avião da Malaysia Airlines desaparecido há mais de dois anos.
Uma das peças, em formato triangular e com cerca de um metro de comprimento, possui cores e inscrições, que podem facilitar o trabalho dos peritos na identificação do aparelho a que pertencia.
João Abreu, presidente do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), disse à Lusa que esta peça foi encontrada no final de agosto por pescadores na praia de Linga Linga, na província de Inhambane, sul do país, e entregue à polícia no distrito de Morrumbene, que a encaminhou posteriormente para Maputo.
“Esta peça tem para nós um significado muito importante, porque já tem capacidade para absorver grandes impactos. Tem, por dentro, uma tecnologia em alumínio, o que prova que pode vir de uma área de calor, e sobretudo apresenta as cores de uma determinada aeronave – tem branco, vermelho carregado e outra alaranjada”, descreveu João Abreu.
Pelas caraterísticas do objeto, sugeriu, pode tratar-se de uma superfície, talvez uma longarina, uma hipótese a confirmar pelos investigadores, a que as inscrições ainda visíveis num autocolante branco também podem dar um contributo indispensável.
Este destroço junta-se a outros dois em posse do IACM, mais pequenos e encontrados em Xai-Xai, província de Gaza, pelo embaixador da União Europeia em Maputo, Sven von Burgsdorff, e também possíveis de pertencerem ao Boeing 777 da Malaysia Airlines que desapareceu a 08 de março de 2014, quando fazia a rota entre Kuala Lumpur e Pequim com 239 pessoas a bordo.
O presidente da autoridade aeronáutica disse que é possível que as duas peças sejam na verdade apenas uma, que se separou em algum momento, mas, ao contrário do objeto maior, são apenas o que na gíria técnica se chama “favos de abelha em formato de material composto”, não suportam grandes impactos dinâmicos e não possuem cores nem inscrições.
Ao todo, segundo João Abreu, foram encontradas sete peças ao largo de Moçambique, entre Vilaculos, na província de Inhambane, e Xai-Xai, Gaza, numa distância de cerca de 500 quilómetros.
Algumas das peças foram descobertas por turistas sul-africanos e não passaram pelo IACM, disse o presidente da instituição, que apenas soube da sua existência pela imprensa e desconhece o seu destino.
Em abril, o Gabinete para a Segurança no Transporte da Austrália (ATBS, na sigla em inglês), que lidera as buscas pelo aparelho, revelou que outros dois dos destroços encontrados ao largo de Moçambique pertencem “quase com toda a certeza” ao voo MH370.
Os dois destroços foram encontrados a 27 de dezembro de 2015 e a 27 de fevereiro de 2016 em dois locais separados por 220 quilómetros, e entregues às autoridades malaias, que os enviaram posteriormente para análise na Austrália.
Quanto aos três objetos que permanecem em Maputo, João Abreu esclareceu que o seu destino está dependente de um memorando de entendimento submetido pelo Ministério dos Transportes malaio ao Governo moçambicano.
“É um acordo de facilitação de buscas e encaminhamento de peças”, segundo o presidente do IACM, e “deverá ser assinado ainda esta semana”.
Mal seja concluído o acordo, as autoridades malaias deverão enviar os seus peritos para recolha das peças em Maputo, informou João Abreu, destacando a importância de os objetos permanecerem o mais intactos possíveis, para que os peritos possam reconstituir o que lhes aconteceu.
O MH370 desapareceu 40 minutos depois de descolar de Kuala Lumpur, rumo a Pequim.
Segundo as investigações, foram desligados os sistemas de comunicação e o avião foi desviado da rota para a zona sudeste do oceano Índico, onde terá caído.
Apenas parte de uma asa do Boeing 777, recuperada numa praia na Ilha da Reunião, país vizinho de Moçambique, foi definitivamente ligada ao MH370.