Como nas festas em que se usam as melhores joias, Miguel Vieira encontrou esta terça-feira um motivo para vestir as suas modelos de dourado. Na verdade foram dois: por um lado, o designer fez a sua estreia na Semana da Moda de Nova Iorque, realizando assim”algo que já queria fazer há muito tempo”; por outro, trouxe de outra semana da moda, a de Moçambique, a vontade de homenagear o nascer e o pôr-do-sol de África — com todos os seus tons dourados.
É claro que falando de Miguel Vieira, não vale a pena esperar um dourado ofuscante como o de C-3PO, o falador robot da saga Guerra das Estrelas. O dourado que o designer de São João da Madeira apresentou na Big Apple é suave, quase neutro (ao ponto de nas fotografias parecer branco), ou não fosse trabalhado em vestidos e fatos femininos de ráfia, seda e acetato, e inspirado na personagem principal do filme África Minha, de Sydney Pollack.
“Quis fugir um bocadinho ao preto e ao branco que são a minha imagem de marca e apresentar outras cores e texturas”, diz o designer ao Observador, poucos minutos antes de começar o desfile que fez o segundo dia do regresso do Portugal Fashion a Nova Iorque. Está sentado num terraço do Pier 59 Studios, vê-se o rio Hudson, e apesar de a sua afirmação ser apenas uma meia verdade — porque mesmo com os dourados e algumas lantejoulas prateadas aplicadas em tops e vestidos, o preto e o branco continuam a ser as suas cores de eleição para a próxima primavera –, está visivelmente satisfeito.
“Fiz Milão [em setembro de 2015 e fevereiro deste ano], a partir de agora passo a fazer [semestralmente] a New York Fashion Week de mulher, e em janeiro começo a fazer também a Semana da Moda Masculina de Milão. No fundo consigo estar nas duas plataformas que queria estar, na Europa e nos Estados Unidos, e nas semanas de moda que considero mais importantes. Ao fim destes anos todos acho que consegui conquistar esse lugar.”
Tal como mostrou em Nova Iorque, num calendário paralelo aos desfiles principais que reuniu uma sala cheia de nova-iorquinos e contou com a presença do modelo Armando Cabral na primeira fila, Miguel Vieira não quer, no entanto, separar completamente as coleções. Foi por isso que fez desfilar modelos homens no meio da coleção de senhora, prometendo fazer o mesmo quando se apresentar na Semana da Moda Masculina de Milão — isto é, alternar vestidos elegantes com fatos lisos ou estampados. Afinal, o designer português tem uma marca que tanto desenha para mulher como para homem, que é conhecida também pelos sapatos — há várias estações presentes na conceituada feira italiana de calçado, a Micam — e que até já teve uma camisola da sua coleção de criança usada — e fotografada — pelo filho de Kourtney Kardashian.
O mediatismo resultante da escolha da socialite é só uma das razões que explica porque é que a linha Miguel Vieira Júnior já estava à venda nos Estados Unidos. “Há cerca de dois anos apresentámos a coleção de criança em Londres, em Espanha e numa feira em Milão que é a Pitti Bambino, e aí conhecemos uns agentes norte-americanos que quiseram trazer a marca para cá”, conta o designer de moda. “Atualmente temos cinco agentes na América a vender a Miguel Vieira Júnior mas era muito importante fazer um desfile em Nova Iorque para a marca evoluir [relativamente às coleções de homem e senhora]. Para entrar nos Estados Unidos é preciso fazer um investimento enorme a nível publicitário, fazer múpis e outdoors, e eu esse investimento não tenho — penso que ninguém em Portugal tem”, diz o designer, concluindo: “Através de uma fashion week temos uma cobertura mediática internacional que acaba por nos dar a conhecer de forma gratuita e nos ajuda a passar para um nível superior.”
O Observador viajou para Nova Iorque a convite do Portugal Fashion.