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Por onde andaste todo este tempo, Alek Rein?

Este artigo tem mais de 5 anos

Há seis anos apresentou o EP "Gemini". E há seis anos que o sabíamos: Alexandre Rendeiro está cheio de rock'n'roll. Finalmente há um álbum com a assinatura Alek Rein, "Mirror Lane".

Foto: Vera Marmelo
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Foto: Vera Marmelo

Foto: Vera Marmelo

Alek Rein não é Alexandre Rendeiro. Do mesmo jeito que Bernardo Soares tem todo o direito de não ser Fernando Pessoa. Esclareça-se também que não são família, que entre este heterónimo e o seu autor não há grau de parentesco possível. Existem proximidades, claro, e muitas surgiram graças ao carro do pai de Rendeiro, do tempo em que se chamavam auto-rádios aos auto-rádios.

A culpa é dos Deep Purple, “do início dos Pink Floyd”, de Cohen, Dylan e Zeppelin: “Devia ter uns treze anos [quando escutou o álbum ao vivo Made in Japan, à pendura]. Foi, por um lado, ganhar a noção que dava para fazer coisas meio loucas com a música, aventureiras e intensas. Por outro fez-me relativizar aquilo que ouvia, que não era nada de jeito, Limp Bizkit e assim, aquelas cenas que se ouvem na escola”, conta o português nascido em New Jersey. Agora, é um herói discreto que vai das canções de cowboy solitário às ilusões do psicadelismo, tudo isto como se estivesse a fazer caminho por uma estrada secundária, sem grandes confortos nem luxos. Resultado prático: Mirror Lane, um primeiro longa-duração, que sucede ao EP Gemini (2010), e que será apresentado dia 30 na ZDB, em Lisboa. Finalmente.

mirror lane

O disco “Mirror Lane” de Alek Rein

Seis anos nas coisas dos discos é uma eternidade, sobretudo para alguém que tinha acabado de libertar as primeiras gravações. Não se pense, contudo, que isto é um “viva” ao perfeccionismo e que Alek Rein é exigente ao ponto de levar meia dúzia de anos a considerar Mirror Lane digno de escuta. Nada disso. Foi sim, época de outros afazeres: “Tive alguns contratempos, que não foram premeditados, não me pus isso a mim próprio. Dois desses seis anos foram para tirar um curso de filosofia, também andei a tirar um curso de cinema experimental, fiz umas residências artísticas, continuei sempre a tocar, não parei”. E, na verdade, foi possível vê-lo muitas vezes em palco, a desfazer-se em eletricidade e a deixar quem o via a pensar “mas afinal quando é que este tipo se chega à frente?”.

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[o álbum na íntegra para escuta através do Bandcamp, aqui:]

Esta falta de descanso — com a guitarra sempre por perto ainda que o estúdio não fosse o destino — é central em Alek Rein e nas canções que assina. Mirror Lane, gravado por Filipe Sambado, contrasta seriamente com Gemini, EP gravado na ETIC onde foi cobaia de um amigo, como todos somos uma vez na vida: “Agora foi diferente e apesar de as condições terem sido algo limitadas, fico impressionado como é que ele [Filipe Sambado] consegue sacar som tão fixe da salinha que tem. Foi diferente na medida em que agora sei que com poucas condições é possível fazer discos dos quais nos podemos orgulhar”, explica Rendeiro. Ou Rein, vá-se lá ter a certeza. Nós, pelo menos, não temos. Basta ouvir o disco e trocar um par de palavras com o artista para percebermos que tudo se confunde.

Apesar desse cruzamento, há espaço neste primeiro álbum para, em consciência, o músico criar um mundo que não é o dele. Sempre foi esta uma das grandes virtudes do rock’n’roll e assim vai continuar: ir onde nenhum outro homem foi. Mirror Lane, diz-nos Alexandre, “é um local fictício, um portal que o Alek a certa altura encontra; é, no fundo, uma avenida de espelhos de onde ele pode viajar para infinitos universos”. E, como se todo este santo delírio não bastasse, o homem acrescenta: “Um desses portais veio ter comigo, é assim que ele me passa as canções”. Não é só estilo que por aqui vai. Já o tínhamos escrito: psi-ca-delis-mo. Ao ouvir as canções sabemos que todos estes delírios fazem sentido.

Foto: Vera Marmelo

Foto: Vera Marmelo

Rendeiro nasceu em New Jersey, mas a cara-metade artística que criou vem do estado de Montana. Caso para dizer que a cultura norte-americana passa por aqui em várias dimensões, desde as capas dos discos dos outros à certidão de nascimento deste que agora vos canta. “Sim, e nestas canções isso passa sobretudo pelas letras, pelo imaginário”, concorda Alexandre. E concordamos nós. Fala-se de um sul utópico, de um purgatório em viagem, visível em “Vermillion Bird of the South” e na letra de “Magic Fiddle”, onde Rein prega: “I was going out of town / To try my luck in the sunny South”. “Esse sul é o sul do Alek. Ele terá as suas expectativas, é um sul para onde ele quer ir, para melhorar a sua vida. Ele é de Montana, que é já no limite com o Canadá, e por isso está sempre a sonhar com esse futuro”. E não é preciso muito para que nós, vindos de fora e caídos no meio destas canções, comecemos a considerar que sim, o sul é o melhor caminho, vamos a isso.

Alexandre Rendeiro fugiu para a frente. Fez o que qualquer garoto devia fazer e nem sempre consegue: nunca desistiu. Primeiro meteu-se com a guitarra. Foi, mais foi contrariado: “Aos quinze anos o meu sonho era ser baterista. Vivia num apartamento em Faro com a minha família. O meu pai disse-me: ‘Epá, bateria aqui nem pensar. É um ultimato, se quiseres vens comigo e compro-te um amplificador e uma guitarra, é pegar ou largar’. E eu pensei que era melhor do que nada”. Melhor que nada é claramente. Vai-se a ver e é tudo. Deem uma guitarra a Alek Rein e ele dar-vos-á algum do melhor rock deste ano. Essa viagem para sul é bonita mas se o caminho dá canções destas, então esperemos que nunca o encontre. Ou melhor, que o procure durante muito tempo.

Alek Rein apresenta “Mirror Lane” no dia 30 de setembro na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Mais informações aqui.

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