As ações do Deutsche Bank estão a cair mais de 2,5% na bolsa de Frankfurt, renovando os valores mais baixos desde 1983 na segunda-feira. Os títulos caíram para a casa dos 10 euros, quando no início de 2014 valiam quase o quádruplo. Depois do escândalo das emissões na Volkswagen, que rebentou em 2015, outra empresa basilar da economia alemã está em grandes dificuldades — o Deutsche Bank.
O banco liderado por John Cryan está longe de ser o único banco com vida difícil na Europa: o rival Commerzbank anunciou (também ontem) que vai eliminar 9.000 postos de trabalho e suspender o pagamento de dividendos aos acionistas. Contudo, vários analistas têm apontado dificuldades específicas no Deutsche Bank, como o seu nível de alavancagem financeira (endividamento) e rentabilidade ainda mais reduzida do que os seus pares. Por essas razões, é sobre o Deutsche Bank que se têm centrado as análises mais pessimistas na imprensa financeira internacional.
Os problemas graves na Volkswagen, não obstante terem origem em conduta imprópria, aconteceram num baluarte industrial da Alemanha — em que o Estado federal tem uma participação acionista. Em contraste, os problemas no Deutsche Bank podem revelar-se um desafio ainda mais complexo do ponto de vista político para Angela Merkel, na aproximação às eleições do próximo ano.
Um responsável do partido de Angela Merkel garantiu esta terça-feira que a situação no Deutsche Bank não foi alvo de “discussões concretas” dentro do partido. Mas Michael Grosse-Broemer admitiu que tanto a Volkswagen como o Deutsche Bank estão “sob alguma pressão neste momento“, algo que “claramente induz um certo grau de preocupação“.
Perante notícias, publicadas na segunda-feira, de que o Deutsche Bank poderia estar a ponderar um pedido de assistência estatal para ajudar a fazer face às multas multimilionárias que podem vir dos EUA, o governo alemão apressou-se a rejeitar essa possibilidade.
“É inimaginável que possamos ajudar o Deutsche Bank com dinheiro dos contribuintes”, garantiu Hans Michelbach, deputado da coligação de Merkel em entrevista citada pela agência Bloomberg. Uma ajuda pública ao gigante financeiro “levaria a muita indignação pública. O establishment político perderia credibilidade caso o governo interviesse”, afirmou o responsável.
Os resultados pouco animadores nas sucessivas eleições estaduais são um indicador claro de que Angela Merkel está a perder popularidade, sobretudo fruto da forma como foi gerida a crise dos refugiados. Os problemas no Deutsche Bank podem ser outro golpe duro na reputação de Angela Merkel e nos indicadores de confiança (consumidores e empresas) na economia alemã.
Merkel, que em 2008 foi criticada por disponibilizar o staff e as instalações da chancelaria para organizar uma celebração do 60º aniversário do presidente do Deutsche Bank de então, Josef Ackermann, pode agora voltar a ter no gigante financeiro uma pedra no sapato em vésperas de eleições.
Ações do Deutsche Bank em mínimos históricos
Nos mercados, a queda das ações é um dos indicadores de que os investidores veem como quase certo que o banco tenha de fazer um aumento de capital (isto é, uma emissão de novas ações penalizadora para os acionistas existentes). Mas há outros indicadores ainda mais preocupantes e que espelham as dificuldades que o banco enfrenta nos mercados e que podem chegar ao ponto de perturbar as suas atividades diárias de gestão de fluxos financeiros.
Como aponta a Bloomberg, o custo de fazer um seguro contra incumprimento na dívida do Deutsche Bank está a subir mais rapidamente em prazos mais curtos (um ano, por exemplo) do que em prazos mais longos como cinco anos. Como o Estado português bem sabe da experiência de fecho dos mercados em 2011, essa subida do risco mais aguda no curto prazo do que no longo é um sinal que, frequentemente, sinaliza um fecho iminente dos mercados financeiros para o emitente.
Ainda assim, para alguns investidores não há qualquer hipótese de um agudizar dos problemas no Deutsche Bank, a esse ponto. Com mais ou menos custos políticos, Andreas Utermann, responsável máximo pelos investimentos da Allianz Global Investors, diz que não acredita que “a Alemanha não iria intervir caso o Deutsche Bank caísse, realmente, em dificuldades ainda maiores — o Deutsche é demasiado importante para a economia alemã”.
A análise de Andreas Utermann surgiu em entrevista à Bloomberg Television. Ao mesmo canal televisivo, Megan Greene, economista-chefe da Manulife Asset Management, concorda que “não há qualquer dúvida de o Estado alemão ajudaria o Deutsche Bank se fosse necessário, por muito impopular politicamente que isso fosse”. Para tentar vender ao eleitorado um eventual apoio ao Deutsche Bank, Megan Greene diz que Merkel poderia explicar que “já resgatámos bancos espanhóis e portugueses, não podemos faltar aos nossos também“.
(notícia atualizada às 11h com a cotação das ações do Deutsche Bank)